Mesmo seguindo a fórmula Marvel, WandaVision mostra que é possível fazer algo diferente, explorando bem os personagens e deixando caminho aberto para o novo MCU
Por Pedro Ibarra*
Após oito semanas, nove episódios e muitas teorias, WandaVision, a primeira série da Marvel no Disney+, terminou. A produção deu o pontapé a uma nova fase do estúdio, que deve apostar em diferentes linguagens e num maior foco na história dos personagens, como ficou evidente no seriado. A produção conseguiu entregar um trabalho redondo e satisfatório, em que misturou a fórmula da Marvel com esses novos elementos, que devem ser a característica do streaming.
A série se iniciou com Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) vivendo uma vida pacata baseada em sitcoms norte-americanas clássica, mas se apresentou, ao longo dos episódios, como uma história muito mais ampla.
A produção toca em realidades alternativas e apresenta um futuro literalmente mágico para o Universo Cinematográfico — hoje também do streaming — Marvel (MCU). Os protagonistas, pouquíssimos aprofundados nos filmes, receberam um desenvolvimento digno e ganharam importância, com sentimentos e uma história única.
O trabalho com os personagens foi muito bem-sucedido. Wanda saiu mais forte e podendo ter papel mais relevante no universo. Já Visão ganhou um novo caminho para ser reutilizado futuramente. A série ainda explorou “novos” personagens, como Agatha Harkness (Kathryn Hahn) e Monica Rambeau (Teyonah Parris), enquanto mostrou um lado interessante de outros já conhecidos do público e, antes secundários, a exemplo de Darcy Lewis (Kat Dennings) e Jimmy Woo (Randall Park).
Por mais que exista uma expectativa do público — afinal a série se tornou na mais assistida do mundo –, WandaVision não veio ao Disney+ para ficar. Não existem planos para uma segunda temporada e a produção deve ser considerada uma minissérie.
O dever foi cumprido. Wanda será explorada no universo Marvel, e nem vai dar tempo de ter saudade da Feiticeira Escarlate. Ela estará de volta aos cinemas no segundo filme de Doutor Estranho, em 2022.
Teorias e o verdadeiro vilão de WandaVision
Por ter sido o primeiro lançamento do MCU, o seriado gerou um grande alvoroço dos fãs do estúdio. Há anos, não se viam tantas teorias em torno de uma produção da Marvel.
Foi possível ver novidades, criar expectativas, e se envolver com a história durante toda a série. Várias teorias surgiram levantando o nome de vilões famosos, como Mephisto e Magneto. No entanto, o verdadeiro vilão sempre foi o luto.
Citado até pela showrunner Jac Schaeffer, o sentimento foi o principal tormento de Wanda Maximoff, uma mulher que perdeu absolutamente tudo que tinha na vida — os pais, o irmão e o grande amor.
Episódio por episódio, a protagonista passou pelos estágios do luto: negação, isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. E, no fim, se permitiu entendê-lo como “o amor que perdura”, como o próprio Visão mencionou no episódio 8.
Por terem sido criadas muitas expectativas sob o desenrolar da série, para alguns pode ter ficado a impressão de que o seriado perdeu fôlego no caminho para o final. Mas a intenção era entregar uma narrativa compacta, com poucos personagens, e que tudo girasse em torno do conflito interior de Wanda e de como ela deveria lidar internamente com isso.
No fim, WandaVision era uma história que tinha sim a fórmula da Marvel, com início, meio e fim satisfatórios, e deixando pontas para outras produções. Entregando muito do que o fã quer, mas nem tudo.
WandaVision ainda foi uma ode à televisão
A escolha de WandaVision para abrir um novo formato do MCU no streaming não foi proposital. As mudanças de calendário impostas pela pandemia fizeram com que calhasse do seriado ser o mais fácil de executar e o primeiro a ficar pronto.
No entanto, fez muito sentido que a nova fase da Marvel no Disney+ começasse com WandaVision. Afinal, a produção é uma grande homenagem às séries que marcaram a história da televisão.
The Dick Van Dyke show, A feiticeira, Malcolm e Modern family. Indo dos anos 1960 aos anos 2010, a série homenageou a trajetória das sitcoms na televisão e fez isso com excelente técnica. A metalinguística chega ao ponto de mostrar o auditório, onde realmente as cenas foram gravadas e com público, voltando ao passado para mostrar que o que estão fazendo é o futuro da linguagem televisiva.
Se história se apega ao simples, a linguagem é complexa. O casamento de técnica diferenciada com a fórmula dos filmes do MCU funciona. Kevin Feige, responsável pelo Universo Cinematográfico Marvel, encontrou neste formato algo muito efetivo. Cada episódio era esperado, teorizado e visto pelos fãs como se fosse um filme. Isso é o início de uma atualização da Marvel que pode levar o estúdio a um patamar ainda maior de domínio do entretenimento.