Última temporada de O mundo sombrio de Sabrina vem sem novidades e não aproveita os bons momentos que poderia ter
No fim da irregular terceira temporada de O mundo sombrio de Sabrina, duas boas “heranças” foram deixadas para a quarta (e até agora última) temporada da bruxinha: a chegada de outras bruxas à casa dos Spellman e a duplicação da protagonista Sabrina, que agora é Spellman e Estrela da Manhã. Mas esqueça. As duas boas oportunidades não são aproveitadas e a derradeira temporada de O mundo sombrio de Sabrina não decola.
O desfecho de O mundo sombrio de Sabrina se arrasta por 11 episódios em que Sabrina (Kiernan Shipka), as tias Hilda (Lucy Davis) e Zelda (Miranda Otto), o primo Ambrose (Chance Perdomo) e o namorado dela, Nicholas (Gavin Leatherwood), têm que enfrentar os terrores do sobrenatural. O problema começa aí: são muitos terrores e o método em que eles são derrotados são muito parecidos, o que torna a trama repetitiva.
Para piorar, a temporada traz poucos conflitos de Sabrina com o padre Blackwood (Richard Coyle) e com o pai, Lucífer (Luke Cook). Os dois personagens estão na temporada, mas não têm o mesmo espaço que deu liga a temporadas anteriores. Sem um grande vilão, fica difícil para a bruxinha. O maior conflito parece ser o de não magoar Nicholas num casal completamente sem sal pelo qual sempre foi complicado torcer.
Nem as boas ideias salvam O mundo sombrio de Sabrina
Uma boa saída poderia ser explorar as duas Sabrinas ー a Estrela da Manhã vivendo com o pai, nas trevas, e a Spellman com a família, em Greendale. Os encontros às escondidas entre as duas, a vontade que Estrela da Manhã tem de trocar de lugar com Spellman de vez em quando ou até mesmo possíveis confusões e conflitos ー tudo isso geraria boas cenas e poderia trazer um arco interessante à série. Mas faltou magia aí. Os diálogos das duas são monótonos e, salvo nos dois últimos episódios (que fechariam a série como um longa delicioso), a interação entre elas é quase nenhuma.
Outra boa ideia poderia ser aproveitar a presença de Mambo Marie (Skye P. Marshall) para criar alguma rixa ou mesmo para que o romance com Zelda fosse desenvolvido. Mas, mais uma vez, uma boa história é desperdiçada.
Aliás, isso parece ser uma tônica de O mundo sombrio de Sabrina. Ambrose começa a primeira temporada com boa chance de se tornar um bom coadjuvante, mas muda de comportamento e vai se tornando cada vez mais chato e previsível até desembocar no teórico que, tal como um Mestre dos Magos, tem que explicar tudo que está acontecendo para um espectador mais distraído. Mesmo Theo (Lachlan Watson), que cumpriu uma boa terceira temporada, foi jogado para escanteio.
Isso só não acontece com Hilda ー e muito mais por mérito de Lucy Davis, divertida na medida certa. A personagem, talvez a mais coerente de toda a série, passeia fácil entre o humor e o que seria a aventura, quando Hilda tem que usar seus poderes de bruxa.
Vale dizer que a temporada de O mundo sombrio de Sabrina está recheada de referências, o que pode soar divertido para quem pescá-las. Com a volta do Clube do Terror ー banda formada por Sabrina, Theo, Harvey (Ross Lynch) e Rosalind (Jaz Sinclair)ー aos palcos, muitas canções dos anos 1980 e 1990 são resgatadas em números fofos e divertidos. Às vezes eles até conseguem se inserir na narrativa.
A maior das citações é também a melhor e a que fecha O mundo sombrio de Sabrina com uma singela homenagem a Sabrina ー Aprendiz de feiticeira, seriado em que sempre foi buscar inspiração. De quebra, a série ainda faz o jogo de falar sobre a indústria de Hollywood e sua magia, o que é bonitinho.