Intérprete de Micaela de Salve-se quem puder, Sabrina Petraglia diz que machismo sofrido pela personagem não é apenas coisa de novela
Em meio à comédia escrachada da novela das 19h Salve-se quem puder, há lampejos de drama em personagens como a Micaela, vivida pela atriz Sabrina Petraglia. A jovem empresária tem que enfrentar um segredo do passado da madrasta, Helena (Flávia Alessandra), é alvo de uma vingança da “amiga” Verônica (Marianna Armellini) e ainda sofre preconceito do próprio pai, Hugo (Leopoldo Pacheco), que não vê em Micaela capacidade para ser uma empresária competente pelo simples fato de ela ser mulher.
“Realmente a trama da Micaela tem esse tom dramático. Eu não sei o que Micaela vai sentir com esse segredo revelado. Eu espero que não seja nada de caráter porque a Micaela tem Helena como mãe. A questão da Verônica a gente sabe o que é, mas é um drama, uma vingança”, afirma Sabrina, ao Correio. A atriz ressalta que a parceria dela com Marianna vem desde os tempos em que elas estudavam na Escola de Arte Dramática da USP. “Vai ser maravilhoso (trabalhar com ela), mesmo tendo essa carga dramática, vai ser divertidíssimo. A gente vai se divertir muito juntas, mesmo Micaela sofrendo nas mãos de Verônica”, garante.
Além disso, Micaela é vítima do machismo de Hugo, que a desqualifica sempre que tem oportunidade. E ele cria tais possibilidades. “Estamos todos inseridos numa criação, numa sociedade supermachista. O machismo está enraizado na nossa cultura. Os meninos continuam sendo criados para serem fortes e não chorarem e serem os grandes chefes de família. E as mulheres continuam sobrecarregadas, trabalhando fora de casa e tendo os deveres de casa. Na maioria dos casos, ainda é a mulher que se desdobra”, lamenta a atriz.
Mãe de um menino há pouco tempo, Sabrina aposta na educação das crianças como uma importante arma contra o machismo. “Combatemos educando nossos filhos de uma outra forma e se policiando o tempo todo, porque, às vezes, a gente é machista e não percebe. Eu quero que meu filho cresça chorando, aprendendo a lavar louça, a arrumar a cama, cuidar da casa, assim como ser um grande profissional fora de casa. Criar meu filho homem vai ser o maior ato revolucionário da minha vida”, avisa.
Entrevista// Sabrina Petraglia
Salve-se quem puder é sua terceira novela do Daniel Ortiz. Como você definiria o estilo dele?
Daniel faz comédia romântica como ninguém. Ele tem essa pegada romântica, lúdica e ao mesmo tempo cheia de graça, divertida, leve. Tem bom humor, tem leveza, tem muito romance, tem graça, tem beleza. É uma delícia fazer novela do Daniel.
De onde vem essa identificação entre vocês dois?
Daniel me viu bastante em São Paulo. Ele assistiu a algumas peças minhas e também frequentou a Escola de Arte Dramática de onde ele tirou alguns atores. Não só eu, como Conrado Caputo, Gabriel Godoy, Marianna Armellini, João Baldaserini. Somos todos colegas de Escola de Arte Dramática. Daniel assistiu a muitos exercícios nossos. Quando ele começou a fazer novela na Globo, ele convidou a gente para participar do elenco já confiando no nosso trabalho pelo que ele tinha visto no palco.
Salve-se quem puder é uma comédia, mas a trama da Micaela tem um quê mais dramático também, com um segredo do passado da madrasta dela e um ódio da Verônica (Marianna Armellini) por ela. Estar na “contramão” é um desafio maior?
Realmente a trama da Micaela tem esse tom dramático, com esse segredo. Eu não sei o que Micaela vai sentir com esse segredo revelado. A gente não sabe ainda nem qual é o segredo. Eu espero que não seja nada de caráter porque a Micaela gosta muito dessa “mãe”. Ela tem a personagem da Flávia Alessandra como uma mãe mesmo, uma parceira. E tem essa questão da Marianna Armellini que a gente sabe o que é, mas é um drama, uma vingança. Eu acho que tudo é um desafio. Sempre que a gente entra numa novela, num trabalho novo, é um desafio. E vai ser maravilhoso, mesmo tendo essa carga dramática vai ser divertidíssimo. A gente vai se divertir muito juntas mesmo Micaela sofrendo nas mãos de Verônica.
As disputas entre Micaela e o pai, Hugo (Leopoldo Pacheco) deixam claro que há um problema de machismo por parte dele, que a desqualifica por ela ser mulher. Você vê isso acontecer com frequência fora das telas?
O pai é muito machista e diminuiu muito a Micaela. Ela tem o desafio de mostrar que é uma empreendedora. Ela está buscando reconhecimento profissional e eu espero que ela tenha isso. Vejo isso acontecer todos o dias. Estamos todos inseridos numa criação, numa sociedade super machista. Hoje o machismo está sendo combatido, sim. Fala-se muito sobre isso, mas a verdade é que o machismo está enraizado na nossa cultura. Os meninos continuam sendo criados para serem fortes e não chorarem e serem os grandes chefes de família. E as mulheres continuam sobrecarregadas, trabalhando fora de casa e tendo os deveres de casa. Na maioria dos casos, ainda é a mulher que se desdobra.
Como combater isso?
Com educação. Educando nossos filhos de uma outra forma e se policiando o tempo todo porque às vezes a gente é machista e não percebe. É nas pequenas coisas do dia a dia que a gente tem que tomar cuidado. Outro dia uma pessoa me falou: “seu filho caiu, mas ele é muito macho, nem chorou”. Eu tive que corrigir a pessoa porque é um comentário super machista. Eu quero que meu filho cresça chorando, aprendendo a lavar louça, a arrumar a cama, cuidar da casa, assim como ser um grande profissional fora de casa. Criar meu filho homem vai ser o maior ato revolucionário da minha vida.
Você repete também a parceria com Marcos Pitombo, o Felipe da novela. Atuar ao lado de um colega conhecido é mais fácil?
Eu volto da maternidade completamente em casa. Terceira novela que eu faço com o Daniel Ortiz e terceira novela com o (diretor) Fred Mayrink. O Leopoldo Pacheco já foi meu pai em Alto astral está repetindo a dose agora é meu grande amigo, meu parceiro. E tem o Marcos Pitombo, que entrou na trama agora. Não sei se seremos um par ou não, como fomos em Haja coração. Mas sei que vai ser maravilhoso gravar com o Marcos. A gente tem, sim, uma afinidade.
Ser mãe mudou alguma coisa em seu modo de atuar?
Certamente a maternidade ampliou, alargou em mim todos os sentimentos, os mais nobres e também os mais difíceis, como o medo e responsabilidade. Mas tem também um amor gigante, uma alegria de viver nova. Ser mãe me deu muito mais profundidade enquanto atriz e enquanto mulher. Com certeza meu modo de atuar hoje tem muito mais profundidade.