Sereísmo é retratado na novela A força do querer. Conheça mais sobre a personagem Ritinha, papel de Isis Valverde, que representa o movimento
A novela A força do querer, de Glória Perez, estreou na última semana prometendo debater diversos assuntos atuais. Um deles é o movimento sereísmo, que ganhou força nos últimos anos no Brasil e no mundo. Seja ele de forma original, como um hábito social e profissional, seja na moda, com a tendência de referências a elementos marítimos em estampas. O termo surgiu no Brasil em 2013, criado pela blogueira Bruna Tavares, dos blogs Pausa para feminices e Sereísmo. “Ela criou para falar do setor da moda. Ela estava vendo que, em vários lugares do mundo, crescia o uso de roupas com estampas de escama, de sereia e de conchas. Só que, depois que ela criou esse termo, ele ganhou “caudas novas” e hoje em dia é muito mais utilizado para falar sobre um estilo de vida: uma prática de pessoas que sentem uma ligação com a água, adoram o mito da sereia e se vestem como uma sereia”, explica Mirella Ferraz, a primeira sereia profissional do Brasil.
Mirella Ferraz foi a inspiração para Glória Perez na hora de criar a personagem Ritinha, interpretada pela atriz Isis Valverde, que já tinha uma relação com o sereísmo anterior, ao viver a protagonista Sereia, na minissérie O canto da sereia (2013). “A Ritinha terá muito da minha personalidade e muitas das coisas que aconteceram comigo vão acontecer com ela. A Ritinha é uma menina completamente apaixonada pelas sereias, com uma ligação muito forte com a água, que nem eu. Ela vai nascer numa canoa, numa noite de tempestade e a mãe vai dizer que ela é filha do boto. E ela acha mesmo que isso é verdade e que é uma sereia de pernas”, afirma.
Ritinha é uma das personagens que vem dando o que falar na trama. O motivo é que a sereia se destaca dentro da cidade fictícia de Parazinho, no Pará. A personagem de Isis Valverde tem hábitos considerados excêntricos: anda descalça, usa uma cauda para nadar; se diz uma sereia; tem certeza que é filha do boto e faz uso da sedução inerente ao mito ao Iara, que, no caso de Ritinha, fascina o noivo Zeca (Margo Pigossi) e Ruy (Fiuk).
“Ela tem um querer muito forte de ser uma sereia. Mas vai cometer alguns erros que prejudicarão muitas pessoas. Ela tem um noivo que é machista e ela é não quer só o Zeca. Ela é uma sereia exibicionista”, adianta. A novela ainda terá outra sereia, a personagem Francineide, papel de Laize Câmara, que trabalha em um aquário profissional, como acontece atualmente com a blogueira Mirella Ferraz.
Preparação para tratar o sereísmo na novela
A relação de Mirella com a novela começou há dois anos, quando Glória Perez a encontrou pela internet. O objetivo inicial era levar a moda do sereísmo para a televisão. No entanto, ao conhecer a história da primeira sereia profissional do Brasil, a autora decidiu contá-la na trama. Coube a Mirella também ensinar Isis Valverde técnicas como nadar com a cauda de sereia e respiração corporal e facial dentro da água.
A cauda usada por Isis Valverde na novela ficou a cargo da youtuber Julianna Prado. A jovem, de apenas 24 anos, produziu durante dois meses a cauda usada pela personagem Ritinha. “Depois que eu fiz meu TCC sobre cauda de sereia, fui chamada para ajudar na construção da cauda de sereia usada pela Isis. Fiquei dois meses trabalhando com a caracterização de efeito especial e figurino da personagem”, lembra.
O envolvimento dela começou há quatro anos quando pintou o cabelo de azul e começou a ser chamada por todos de sereia. O sereísmo encantou a figurinista, que gostou do estilo de vida e começou a produzir caudas, hoje vendidas em sua loja oficial. “Na minha opinião, o conceito tem a ver com essa paixão e preocupação pelo mar. Também é sempre uma mulher livre, forte e poderosa. Acho que está muito ligado ao feminismo e isso é interessante de aparecer na novela. Uma mulher forte”, afirma.
Três perguntas // Mirella Ferraz
Qual é a importância de colocar o sereísmo em uma novela do horário nobre?
Acho que é muito importante para passar a mensagem ambiental que o sereísmo carrega, que te aproxima da água. Uma novela que mostra o sereísmo vai passar o lado ambiental e algo muito lúdico, que a sereia tem. Espero que faça a cabeça do brasileiro se abrir um pouco mais. O brasileiro tem que botar na cabeça que não é porque aquela pessoa faz algo diferente, que ela não merece ser feliz, que merece sofrer bulliyng e ser xingado. Espero que ajude a passar credibilidade para o sereísmo e o deixe mais popular.
Quando você se assumiu como sereia?
Eu nasci dessa forma (sereia). Quando consegui, finalmente, construir a minha primeira cauda profissional, porque antes eu já tinha feito várias caudas estilizadas… Em 2012 virou minha profissão, antes era só uma realização pessoal.
O que representa na sua vida ser uma sereia?
As sereias moldaram minha vida inteira, meu destino, minha forma de pensar. Tudo que fiz na minha vida por causa dessa ligação e fixação tão forte. Fui fazer faculdade na área ambiental e de biologia marinha por causa desse amor. Eu me casei na praia com conchinhas no cabelo, no braço e com pé nas areias. Comecei a escrever livros. Tornei-me costureira de ateliê fazendo minhas caudas e as que eu vendo. É tudo na minha vida. Até a minha ligação com a própria religião foi com as sereias. Sou completamente apaixonada por Iemanjá.
SERVIÇO
A força do querer
De segunda a sábado, às 20h54, na Rede Globo.
Escola de sereias em Brasília
Aprender a se portar como uma sereia dentro da água é um desafio, que, no Brasil e no mundo, já é ensinado em escolas de sereias. Para ser uma sereia profissional, é necessário saber técnicas de apneia de mergulho (feita sem auxílio de equipamento de respiração), aprender a nadar com caudas e fazer acrobacias na água, além de ter simpatia e paciência.
Natural de São Paulo, mas radicada em Brasília, a mergulhadora Thais Picchi é responsável pela primeira escola de sereias do Distrito Federal, a Aquamagia. A coach de sereias é apaixonada por água e tem certificação do curso de sereias pela IMSIA (International Mermaid Swimming Instructors Association), instituto nas Filipinas. Em seu curso, que é dedicado tanto para crianças quanto adultos, ela ensina a ficar à vontade com as caudas, como boiar e nadar com elas de forma segura. “Treinamos também a espontaneidade embaixo d’água, como ficar com olho aberto e sorrir. Tem ainda as técnicas respiratórias”, comenta.
Em 25 de março, as alunas de Thais Picchi participaram de evento do movimento #ocupeoLago, no Lago Paranoá, celebrando o Dia Mundial da Água. Esse tipo de atitude é um dos preceitos principais do sereísmo, como explica Thais: “O sereísmo traz uma ligação com a natureza. Muitas sereias do mundo fazem o ativismo principalmente relacionado ao mar. Elas fazem campanhas em relação ao uso consciente de plástico, que acaba indo para o oceano, aos animais marítimos, como as tartarugas e os tubarões. É um movimento que tem um pouco de brincadeira e fantasia, mas nos alerta sobre a importância da gente cuidar das nossas águas”.
Quer ser uma sereia?
A Aquamagia oferece aula de sereia e de performances aquáticas. Aulas a partir de 7 anos. A próxima turma de Brasília deve ser formada entre abril e maio. Informações pelo Facebook e Instagram @Aquamagia. Thais Picchi também produz caudas de sereia.
Mais sereísmo na televisão
A força do querer trouxe a temática de forma exposta pela primeira vez à tevê aberta brasileira. No entanto, a televisão trata do tema em outras produções. Conheça a seguir séries sobre o assunto que estão no ar.
H20: Just add water
A produção mostra como três jovens se tornaram sereias após chegarem a uma misteriosa ilha na Austrália. Por sofrerem preconceitos, as sereias precisam esconder seus poderes, enquanto salvam os animais marinhos. Ao todo, a série, que estreou em 2006, teve três temporadas, que estão disponíveis no serviço de streaming Netflix.
Mako mermaids
Série derivada de Just add water, Mako mermaids é uma produção dedicada ao público infantil e adolescente. A trama mostra a chegada de Zac, um adolescente que, ao cair na Piscina da Lua, ganha poderes comuns as sereias. Ele, então, se torna um tritão. A produção contou com quatro temporadas, todas disponíveis na Netflix. Além disso, há uma informação de que a história ganhará uma versão cinematográfica ainda neste ano.
Onde comprar uma cauda
MS-Fins
Ateliê de caudas assinadas por Mirella Ferraz. À venda em https://www.mirellaferraz.com.
Mermazingstore
Venda de cauda de silicone sob encomenda feitas por Julianna Prado. Informações: https://www.instagram.com/mermazingstore/.
