Em movimento contrário aos blockbusters, as séries O Doutrinador e The Boys optam por contestar a figura clássica dos heróis
Por Adriana Izel e Ronayre Nunes
No dicionário, uma das definições da palavra herói diz se tratar daquela pessoa “que se notabiliza por feitos guerreiros e atos de grande coragem”. Em sua maioria, a dramaturgia faz exatamente esse retrato, mostrando personagens corajosos, que foram capazes de superar traumas para lutar pelo bem geral. Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Capitão América e Homem de Ferro são apenas alguns desses exemplos.
Com o passar dos anos e o aumento do número de filmes e séries de super-heróis, uma outra vertente tem conquistado espaço, com histórias que buscam uma outra perspectiva, seja com anti-heróis ou heróis mais humanizados, seja fazendo piada da seriedade e até dos conceitos apresentados no gênero.
Entre julho e setembro, a televisão viu estrear duas produções com esse perfil: The Boys, em 26 de julho, na Amazon Prime Vídeo, e O Doutrinador, a partir deste domingo (1º/9) às 21h, no canal Space. Ambas são inspiradas em HQs homônimas e chamam atenção por abordar o mundo heroico de forma diferente, com heróis que podem ter o título contestado por suas atitudes.
Justiceiro brasileiro
Do Canal Space, O Doutrinador é uma versão televisiva do filme homônimo lançado nos cinemas no ano passado, com base na HQ da produtora brasileira Guará Entretenimento. Com sete episódios semanais de 45 minutos, a produção apresenta a história de Miguel Montessanti (Kiko Pissolato), um agente da DAE (Divisão Armada Especial), que vê a vida mudar após uma tragédia familiar, que está ligada à corrupção do governo de Sandro Corrêa (Eduardo Moscovis).
Um dos investigadores do caso de corrupção no governo, por meio da Operação Linfoma, Miguel tem a vida diretamente afetada com as atitudes de Corrêa. Revoltado, durante um protesto contra a soltura do político, ele acaba se tornando O Doutrinador, um vigilante noturno mascarado, que, com sede de vingança, passa a perseguir os políticos corruptos envolvidos na operação, que foi arquivada.
Assim como os personagens de O Justiceiro, da Netflix, e Arrow, da Warner Channel, o protagonista passa por cima de valores para dar uma lição nos políticos: matando-os, friamente, um a um. E é exatamente por isso que a produção brasileira é vista como uma história avessa ao formato tradicional de super-heróis. Miguel é carismático e empático, mas não é um típico herói. Da mesma forma que encontra apoio, também é visto como um maluco. Ele justifica suas atitudes assumindo a alcunha de inimigo da corrupção.
A série é uma versão do filme exibido nos cinemas no ano passado produzida para a televisão. Na tevê, a trama ganha desdobramento mais aprofundados, além de personagens inéditos. Integram o elenco ainda Tainá Medina, Natália Lage, Marília Gabriela e Natallia Rodrigues.
Charlatões
Esqueça tudo que aprendeu sobre heróis até hoje. A proposta de The Boys, da Amazon Prime Vídeo, é ser completamente diferente. Também inspirada em HQ homônima, a produção retrata uma realidade atual e alternativa em que os super-heróis nada mais são do que charlatões criminosos e desonestos que usam os poderes para ganhar dinheiro e fama em um esquema de marketing que não respeita a vida de ninguém.
O enredo parte do tímido e introvertido Hughie (Jack Quaid). O personagem é apaixonado pela namorada Robin (Jessica Salgueiro) e sonha com um futuro ao lado da amada. Entretanto, tudo acaba quando a garota é atropelada pelo super-herói A-Train (Jessie T. Usher). Na imprensa, a história contada por A-Train é de que a garota tropeçou na pista e levou uma trombada fatal com o homem super-rápido.
A partir disso, é a vez de Butcher (Karl Urban) entrar em cena. O cara com ar de valentão é uma espécie de mercenário que sabe muito bem do que os super-heróis são capazes e, agora ao lado de Hughie, busca derrubar os Seven, uma espécie de Liga da Justiça. Considerado o maior grupo de super-heróis do mundo, é, na verdade, um conglomerado empresarial que recebe para que o time mantenha a paz e a segurança. No entanto, o problema é que os heróis abusam dos poderes para prejudicar a população.
Para ler
The Boys: O nome do jogo
De Garth Ennis. Editora Devir, 14 edições. Disponível no Social Comics.
O Doutrinador
De Luciano Cunha. Guará Entretenimento. Disponível no Social Comics.