Seriado A divisão estreou nesta sexta-feira (19/7) na plataforma on-demand da Globo. O Próximo Capítulo assistiu aos dois primeiros episódios e entrevistou o criador José Junior. Veja o que esperar da produção!
“Eu queria criar uma série que fosse uma referência no sentido policial. Desde Tropa de Elite, que foi em 2010, tem um vácuo. Não teve nada bom e de qualidade nesses nove anos no cinema, na televisão e no serviço de streaming. Com esse enorme buraco, quis contar a história da Divisão Anti-Sequestros (DAS)”. É assim que José Junior, criador da série A divisão, explica ao Próximo Capítulo as razões que o levaram a investir na produção, que foi lançada oficialmente nesta sexta (19) no Globoplay.
Com cinco episódios, a primeira temporada é o retrato de uma realidade brasileira: a onda de sequestros que tomou conta do Rio de Janeiro no fim dos anos 1990. A história se passa em 1997 e gira em torno dos policiais Mendonça (Silvio Guindane) e Santiago (Erom Cordeiro), que deixam os antigos trabalhos para assumir a Divisão Anti-Sequestros (DAS). Com métodos completamente diferentes e questionáveis moralmente, os personagens, inspirados em pessoas reais, ajudam no combate a esse tipo de crime na Cidade Maravilhosa.
A narrativa tem início com Santiago extorquindo bandidos e com um lado mais investigativo e com Mendonça subindo o morro para conter o avanço do tráfico no Rio de Janeiro com uma atitude mais genocida. As diferentes e “eficientes” atitudes da dupla a leva à DAS, que, a cada dia, acumula casos de sequestro, entre eles, um que tem criado crise, o da filha de um influente deputado interpretado pelo ator Dalton Vigh (em entrevista ao Próximo Capítulo, o ator falou da experiência).
A primeira temporada é focada nesse trabalho da divisão, que, conseguiu, nos anos 2000, acabar com o crime de sequestro com extorsão, violência e cárcere privado. A ideia da produção surgiu enquanto José Junior estava gravando a série Conexões urbanas, do Multishow. “Resolvi escrever um livro contando a história desses policiais (da Divisão Anti-Sequestros). Acabou que virou uma série. Coloquei o José Luiz Magalhães, o Maga (policial da época), dentro de uma sala de roteiro, chamei o Vicente Amorim para dirigir e começamos a desenvolver a série e paralelamente um longa”, lembra.
“Todos os resultados (da série) são reais, tanto para o bem quanto para o mal. A gente trouxe os policiais, os ex-sequestradores e as vítimas. Os atores tiveram laboratório com essas pessoas. Gravamos em locações em que nem o jornalismo entra. Faço questão de sempre filmar em locais que tenham algum conflito bélico”, diz José Junior sobre o realismo da série, que, segundo ele, é completamente inspirada em histórias da vida real.
Crítica de A divisão
À primeira vista, A divisão lembra bastante Tropa de Elite. Pois a série começa com uma narração e um discurso contra a corrupção dentro da polícia. No entanto, com o passar dos minutos a produção ganha a própria cara: de um thriller policial que vai retratar uma situação específica do país mostrando e debatendo as atitudes dúbias que aconteceram para que o sequestro desse tipo fosse erradicado no Rio de Janeiro.
Mortes, violência e até aproximação com os “bandidos” são algumas das situações apresentadas nos dois primeiros episódios, para que a DAS consiga ter sucesso. E é a partir desse tipo de enredo que A divisão abre espaço para mostrar personagens reais (tanto em dramaturgia, quanto em realidade mesmo, já que são inspirados em pessoas do mundo real), sem um protagonista com ares de mocinho ou herói. Todos os personagens são extremamente humanos e falhos, o que faz ser empático ao espectador.
Algo que José Junior justifica: “A série passa muito isso, ela demonstra as fragilidades dos personagens, que são anti-heróis. Todos os personagens da série têm desvios de caráter. Não tem um herói na série. Ela te deixa em estado de desconforto o tempo inteiro e você vai descobrir situações que nem imaginava. Acho que esse é o momento para esse tipo de conteúdo que gera reflexão”.
Assim como outras produções, A divisão bate na tecla da corrupção interna, o que tem relação direta com o crescimento e a força dos sequestros no período, além de ser um tema atual e que costuma ter repercussão com o público. “A discussão (da série) é se os fins justificam os meios. Eles (os policiais) acabaram com essa modalidade. Nunca mais voltou. Bandido no Rio descobriu que o crime de sequestro não vale. Eles criaram a divisão em outubro de 1997 e, em dezembro de 2000, tinham zero casos. Eles nunca pagaram um resgate, nunca perderam uma vítima. É um resultado que nem o FBI consegue ter”, completa Junior.
A divisão deve agradar ao público. Isso porque a série não demora em sua narrativa, sendo envolvente e com boas atuações. Além disso, o fato de explorar uma história real, que faz parte da realidade de diferentes classes (“é um crime de classe alta, mas que atinge a classe baixa também”, diz José Junior), costuma aproximar o espectador. Apesar de ter um lado mais violento, a série consegue balancear com cenas mais leves, principalmente, quando o foco é o núcleo que envolve Santiago.
Uma segunda temporada já está confirmada e gravada, com mais cinco episódios. Antes, deve ser lançado um longa-metragem. Uma possível terceira temporada está em negociação. “No Brasil nenhuma série performou de verdade. Não teve um House of cards brasileiro. O que falta para nós é uma série nacional que tenha performance. Acho que A divisão tem tudo para ser essa série”.