Série Dilema, da Netflix, peca pela inconstância do roteiro e da protagonista Renée Zellweger, mas merece sua atenção. Leia a crítica!
Os segredos são o grande mote de Dilema (What/If, no original), série da Netflix que vem dividindo opiniões. Ali, ninguém está livre de erros cometidos no passado. Uma hora ou outra eles vão aparecer e virão ao presente cobrar a conta.
Tudo isso é apresentado ao público envolto num suspense liderado pela poderosa executiva Anne Montgomery (Renée Zellweger), mulher gélida daquelas que fazem o que for preciso para conseguir o que quer. Desta vez o alvo dela parece ser a empresa de biogenética mantida por Lisa (Jane Levy). O primeiro passo dela é chamar Lisa e o marido dela, o ex-atleta e aspirante a bombeiro Sean (Blake Jenner), para uma estranha negociação. Ela salvaria a empresa de Lisa e ainda investiria milhões de dólares, tornando-se sócia do negócio.
Em troca, ela passaria uma noite com Sean, mas ele não poderia nunca dizer a Lisa o que se passou naquela noite. “Parece cópia barata daquele filme da década de 1990”, comenta Anne. Referência deliciosa a Proposta indecente (filme de 1993) que salva o piloto de Dilema.
É a partir dessa noite que começa a ação de Dilema – boa parte do que vem por aí nos é apresentado por meio das consequências do trato e dos motivos que levaram Anne, Sean e Lisa a se sujeitar ao acordo.
Leia a crítica de Dilema
Sabe aquelas séries que precisam de alguns minutos para decolar? Dilema vai além. Ela precisa de quatro episódios ー é muito para uma série que tem 10 capítulos. E, mesmo quando decola, a irregularidade do roteiro e da direção toma conta da produção que tem dois primeiros episódios muito ruins (tenha paciência e siga em frente!) e dois últimos capítulos eletrizantes, com direito a um final surpreendente.
Talvez a irregularidade de Dilema tenha explicação na quantidade de diretores: Phillip Noyce, Jill Maxcy, Russell Lee Fine, J. Miller Tobin, Jessika Borsiczky Goyer, David Rodriguez, Maggie Kiley e Joanna Kerns se revezam no comando. A confusão está armada!
Outro problema de Dilema está no trio de protagonistas. Renée Zellweger e Blake Jenner não convencem, pois estão sempre com a mesma expressão. Para piorar, a complexidade dos personagens não ajuda. Jane Levy até tenta, mas em má companhia, não entrega uma boa mocinha.
Desta forma, o caminho está aberto para os coadjuvantes. É neles que está centrada a ação de Dilema a partir do quarto episódio e eles salvam a série. Isso porque as tramas mesclam o suspense que caracteriza o roteiro com pitadas bem dosadas de melodrama.
Marcos (Juan Castano) é o irmão de Lisa. Gay, ele é casado com Lionel (John Clarence Stewart). O rapaz está em crise na profissão, como advogado, e no relacionamento ー ele não sabe o quanto quer se entregar ao marido.
Do outro lado, Todd (Keith Powers) e Angela (Samantha Marie Ware) são amigos de Sean da época da faculdade e enfrentam uma crise no casamento, impulsionada pela dificuldade que Angela tem de engravidar depois ter feito um aborto. O amante dela, o médico Ian Harris (Dave Annable), é personagem-chave no mistério e na trama do casal.
Ainda tem Cassidy (Daniella Pineda), melhor amiga de Lisa e uma grande injustiçada de toda a trama armada por Anne.
Dilema guarda surpresas até o final e vai num desenvolvimento crescente. Mesmo canastrona, Renée Zellweger pode aparecer em listas de premiações nos EUA. Mas não se engane: o dilema apresentado pela série é chegar ao quarto episódio e acompanhar a virada do roteiro ou abandonar antes que a atração engrene.