A um episódio do último, Game of thrones peca em simplificar personagens. Confira crítica de The bells, quinto capítulo da oitava temporada
Desde a sétima temporada, Game of thrones começou a perder um pouco de sua essência. A trama coerente e bem construída do início foi tropeçando. Mas, como os erros eram “aqui” e “ali”, passavam despercebidos ou eram relevados pelos fãs. O problema é que essas inconsistências chegaram até a oitava e última temporada. Sob forte expectativa, a série não tem conseguido atingir o patamar de outrora. E The bells, o quinto episódio da oitava temporada, é um exemplo disso.
Mais uma vez, a série prometia uma grande batalha, “a última”, como decretou Daenerys (Emilia Clarke) no episódio anterior. Só que não foi bem isso que o espectador viu. Revoltada com as “traições” de Varys (Conleth Hill), Tyrion (Peter Dinklage) e Jon Snow (Kit Harington) e ainda de luto pela perda de Jorah Mormont (Iain Glen), Missandei (Nathalie Emmanuel) e Rhaegal em The last Starks, Daenerys seguiu para Porto Real com sangue nos olhos.
Até aí, tudo bem. O seriado já estava construindo a loucura da Targaryen, uma teoria bastante popular entre os fãs dos livros de George R.R. Martin, por conta da linhagem e pelo fato de Daenerys ser filha de Aerys II, que ficou conhecido como O rei louco. O problema é que, ao decidir concretizar esse enredo, a série abdicou do confronto. Daenerys saiu tocando fogo deliberadamente por Porto Real, preferindo matar inocentes a sequer ir atrás de Cersei (Lena Headey). Não deu nem para ver a Companhia Dourada em campo.
Cersei é a personagem com o enredo mais deplorável do episódio. A Lannister sempre foi extremamente inteligente e estrategista. Não dava ponto sem nó e sempre tinha uma solução. Como a rainha viu Porto Real pegar fogo sem ter um plano B? E, pior ainda, foi logo morrer — implorando e totalmente fraca — nos braços do irmão Jaime (Nikolaj Coster Waldau). Cersei merecia mais. Merecia ser morta por alguém, não ao estilo Romeu e Julieta.
O gêmeo de Cersei é outro personagem mal desenvolvido. Em duas oportunidades, a série aproveitou para redimir o regicida e, em todas elas, estragou isso e colocou o personagem de volta ao patamar das primeiras temporadas. Dá para entender Jaime querer voltar para salvar Cersei e o possível filho deles. Mas criar todo um laço do personagem com Brienne (Gwendoline Christie) só para deixar isso de lado é um desperdício de narrativa.
Falando em desperdício está a presença de Arya (Maisie Williams) em Porto Real. A Stark finalmente conseguiria cumprir uma de suas missões, que era de matar Cersei — e riscar mais um nome de sua lista –, e acaba deixando isso pra lá a pedido do Cão de Caça (Rory McCann). Depois aparece perambulando pela sede do poder de Westeros, tentando, ao mesmo tempo, fugir das chamas de Drogon e salvar os inocentes que eram queimados por Daenerys. Sem falar em Jon, que ficou o episódio inteiro chocado com a atitude da amada e quase não fez nada.
Os melhores momentos do episódio ficaram com Varys e os irmãos Clegane. Logo no início de The bells, Varys começa a arquitetar contra Daenerys. A série dá a entender que o conselheiro estava tentando envenenar a Targaryen, conspirando contra ela escrevendo cartas (para quem, mesmo?) e tentando convencer Jon da possível loucura de Daenerys. Tudo isso, o leva ao sacrifício, em outra cena sem muito sentido, em que a mãe dos dragões, queima apenas Varys, apesar de estar convencida de que foi traída por Tyrion e Jon também. Mesmo assim foi legal ver Varys fazendo o que fazia de melhor: conspirar pelo Trono de Ferro.
O outro bom momento é o esperado confronto entre Cão de Caça e Muralha (Hafthor Bjornsson). Antes do embate entre os irmãos, Qyburn (Anton Lesser) morre e Cersei consegue fugir. Apesar de não ter sido uma luta digna de temporadas passadas de Game of thrones, pelo menos foi o único confronto olho no olho de The bells, algo que poderia ter acontecido se Daenerys tivesse lembrando de passar ao lado do castelo da Fortaleza Vermelha para matar Cersei.
Em um episódio bonito visualmente, em que o diretor Miguel Sapochnik se redimiu por Batalha de Winterfell, o roteiro foi o maior pecado. Personagens importantes e bem construídos foram descartados com um enredo pra lá de pobre. Resta saber o que será de Game of thrones no próximo domingo, quando exibir o derradeiro capítulo na HBO. Vai terminar como Lost, dividindo fãs e deixando arcos relevantes sem explicação? Ou vai se redimir aos 45 do segundo tempo?