Se Glória Perez tivesse uma bússola em A força do querer, o instrumento apontaria a delicadeza como o norte. Pelo menos no que tange à trama de Ivana, personagem defendida com afinco pela estreante Carol Duarte.
A menina está em processo de descoberta da transexualidade. O que poderia ser um assunto repelente de público — vide o casal de lésbicas de Torre de babel, que teve que morrer, e o beijo gay escrito, gravado e engavetado em América — acaba se tornando uma das tramas mais interessantes e comentadas da novela das 21h (Leia aqui crítica da primeira semana da novela).
Isso se deve às cores com que a autora pinta o núcleo familiar de Ivana. E são as mais suaves possíveis. Um acerto é que o público está conhecendo Ivana junto com ela mesma. A menina que nunca namorou rapazes é questionada pelo pai, Eugênio (Dan Stulbach, perfeito no papel) se é lésbica e responde que acha que não. Ela realmente não sabe.
A mãe, Joyce (Maria Fernanda Cândido, de volta aos papéis de blasé depois de brilhar em Dois irmãos), não ajuda. Pelo contrário, atrapalha. Vive insistindo para que Ivana “seja mais mulher” (sim… ela usa esses termos!) e mais feminina para que possa arranjar casamento.
A válvula de escape de Ivana está na prima, Simone (Juliana Paiva). São várias dúvidas. A única certeza de Ivana é que ela não se sente confortável com o próprio corpo. A cena em que ela revela isso a Simone foi tocante. Assim como foi bem escrita e dirigida a sequência em que Simone descobre que Ivana usa uma faixa por baixo da roupa para esconder os seios.
Nos últimos capítulos, Simone levou Ivana à terapia. Ali, a menina deve se descobrir e se aceitar. Se continuar acertando, Glória Perez fará disso uma batalha — não deve ser fácil esse caminho. Mas a vitória virá. E será múltipla, com Ivana aceitando-se e sendo aceita e com o público já cativado pela personagem, que está levando um assunto tão importante para a mesa de jantar dos brasileiros e para as redes sociais.