Guilherme de Almeida – Do CorreioWeb O resultado final do concurso do Ministério Público da União (MPU), publicado na última sexta-feira (15/10), não agradou muitos dos 350,9 mil candidatos de nível médio que fizeram as provas. Alunos, professores e especialistas em Segurança reclamam da “barbárie intelectual” praticada contra os gabaritos publicados pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB). E o pior de tudo: quem protocolou recurso não recebeu qualquer tipo resposta da banca organizadora. “É um absurdo. Como fica minha situação em sala de aula? Agora vou ter de ensinar errado para que os alunos passem nas provas do Cespe?”, indaga Paulo César Lira, professor e coordenador de um grande curso preparatório do Rio de Janeiro. Além de professor, Lira passou 18 anos no Exército, é agente de Segurança da Justiça Federal e especialista em Segurança Pública. Ele defende que cinco itens da prova específica aplicada aos candidatos ao cargo de técnico de apoio especializado em Segurança devam ser anulados por conta de uma série de ambiguidades e contradições. “Eles copiaram os itens ipsi literis das apostilas e jogaram na prova”, acusa Lira indignado. De fato, ao compararmos a redação do item da prova do Cespe/UnB com o conteúdo de apostila que pode ser facilmente encontrada na internet, encontramos no mínimo uma grande coincidência: “As técnicas de projeção são utilizadas para lesionar gravemente o agressor, para controlar uma agressão de forma moderada, ou para simplesmente ganhar tempo enquanto o agressor se levanta”. (Fonte: Item 95 da prova do Cespe/UnB para técnicos de Apoio Especializado (Segurança), aplicada no dia 12 de setembro) … já a apostila diz que: “As projeções podem ser utilizadas para lesionar gravemente o agressor, para controlar uma agressão de forma moderada, ou para simplesmente ganhar tempo enquanto o agressor se levanta” (Fonte: Defesa Pessoal comentada para profissionais de Segurança Privada dos autores Alexandre Cruz, J. R. R. Abrahão, Pedro Carlos Cavalcanti e Ricardo Nakayama). Além disso, a organizadora gabaritou o item como certo, no entanto, o professor Lira discorda da resposta. “A banca usa a palavra são e a apostila utiliza a forma verbal podem. Com essa mudança, saímos do campo da certeza para o da possibilidade. Uma coisa é dizer que eu sou rico e outra totalmente diferente é dizer que posso ser rico”, argumenta. O especialista ainda aponta outra contradição no item 73 da mesma prova: “Considere que, durante ronda em viatura oficial, um agente suspeite de determinado carro parado em uma rua e decida fazer uma abordagem. Nessa situação, o referido agente deve parar a viatura oficial atrás do veículo suspeito, à distância aproximada de dois metros, ou à esquerda do veículo, a um metro e meio, e nunca defronte ou ao lado do veículo suspeito”. Lira aponta uma contradição neste item. “A banca diz que o agente deve parar a viatura atrás ou à esquerda do veículo, mas nunca defronte ou ao lado do veículo (sendo que à esquerda é um lado). Esse item não tem o menor sentido”, reclama. Apesar dos recursos enviados à banca, nenhum dos cinco itens apontados pelo professor foram anulados. “A banca sequer respondeu aos nossos questionamentos. Isso é inadmissível”, conclui. Com o prazo de recurso esgotado, o Cespe/UnB divulgou os gabaritos definitivos das provas, mas os candidatos ainda reclamam que o documento não apontava claramente quais questões foram anuladas ou alteradas. “O Cespe não destacou as respostas que haviam sido anuladas. Normalmente eles colocam um quadrinho mais escuro para que o candidato possa identificar facilmente as mudanças”, afirma o candidato Fabiano de Almeida, 37 anos. Já o bancário Pablo Gómez, de 37 anos, fez as provas de nível médio do MPU para a especialidade Segurança e também encontrou uma série de irregularidades no exame. Ele pediu para ser identificado com um nome fictício, porque teme retaliações nas próximas provas que por ventura vier a prestar. O aluno diz que o Cespe/UnB, na prova de informática, colocou três itens repetidos que já haviam sido cobrados no primeiro dia de prova. “Os itens foram anulados, mas isso já demonstra o tamanho da desorganização dessa banca”, dispara. Até o fechamento desta matéria, o Cespe/UnB não havia se posicionado sobre as ambigüidades dos itens e sobre a ausência de resposta àqueles que enviaram os recursos.