Mariana Niederauer – Do Eu,Estudante
O sonho de garantir estabilidade e bons salários na administração pública virou febre. Hoje, muitas pessoas abandonar a carreira de olho na conquista de uma vaga. A decisão de deixar o emprego, no entanto, é delicada, já que exige planejamento financeiro e disciplina. Mas elas avaliam que é a saída para garantir a aprovação. Em muitos casos, essa escolha envolve outros membros da família, que precisam apoiar o concurseiro ao longo do período. Especialistas ouvidos pelo Correio destacam que o resultado costuma vir a médio ou longo prazo. Portanto; os candidatos não devem desanimar com possíveis reprovações e precisam se preparar para essa longa jornada com uma rotina organizada.
Fazer um plano de gastos levando em conta um determinado período e ter como meta a aprovação no mesmo tempo não é uma boa opção. “Esse tipo de raciocínio é totalmente inadequado, porque não é possível dar um prazo para você mesmo passar”, explica o professor da rede de ensino LFG Willian Douglas. As despesas devem ser uma preocupação, pois será preciso encontrar uma forma de sustento, seja cortando gastos, usando economias ou buscando apoio dos familiares. O candidato, no entanto, não pode deixar essa pressão aumentar a ansiedade e comprometer o desempenho nas provas.
Segundo Willian, deve-se encarar essa fase como um investimento em si próprio. Não adianta economizar com os estudos. Essa atitude pode limitar o aprendizado. Fazer um curso de qualidade ajuda a fixar melhor os conteúdos e a acelerar esse processo. O professor sugere que o candidato busque participar de aulas das matérias nas quais tem mais dificuldade. Fazer exercícios para praticar é outra prática importante, porque aumenta a capacidade de fixar as disciplinas.
De acordo com a psicóloga e coach para concursos Daniela Zanuncini, as pessoas levam, em média, três anos até a aprovação. O concurseiro precisa ter isso em mente antes de deixar o emprego com o objetivo de se dedicar exclusivamente aos livros. O primeiro passo é fazer um cronograma personalizado a partir do edital da prova ou, caso as regras ainda não tenham sido lançadas, elaborar um plano baseado nas seleções anteriores. Ela defende que o ideal são seis horas diárias de estudo, período que respeita a capacidade do organismo de manter uma atividade intelectual ininterrupta. “Mais do que isso é loucura, porque a pessoa não terá rendimento”, atesta. Daniela indica uma rotina de qualidade, dividida entre tempo de estudo, atividade física e lazer.
Foco A pessoa também não deve participar de vários certames apenas por ter os dias livres para estudar. “O ideal é escolher um concurso ou alguns que mais se aproximam daquilo que vai atender às suas necessidades, ao seu perfil”, destaca a especialista. Daniela lembra ainda que é importante ter afinidade com as tarefas exigidas no cargo, a fim de evitar frustrações. Para a função de analista, por exemplo, há diferenças entre as atividades desempenhadas em cada órgão. Outra dica que pode ajudar o candidato a selecionar o concurso ideal é identificar as disciplinas que ele mais gosta de estudar. Com isso, é mais fácil definir as possíveis áreas de atuação. Longe da família – Deixar o emprego de assistente administrativa em uma empresa de construção civil não foi tarefa fácil para Pollyana Vasconcelos, 28 anos. Além de readequar a rotina, ela teve que economizar e passar menos tempo com a filha de 8 anos em busca de aprovação para o cargo de agente da Polícia Civil. “Nasci para trabalhar nessa área. Vejo muita injustiça no dia a dia e quero fazer a minha parte para diminuir isso”, conta a candidata, que não trabalha desde fevereiro de 2011. Moradora de Valparaíso de Goiás, ela enfrenta 35km até o cursinho, que fica em Brasília. “Tenho aberto mão de algumas coisas que fazia antes para conseguir um resultado satisfatório. Saio pouco para festas, fico menos com a minha família e procuro guardar cada centavo”, diz, emocionada. Dez horas de estudo – Depois de conseguir classificação em quatro certames, mas não ter sido nomeado, Rodrigo Henrique Ferreira, 27 anos, resolveu deixar o emprego e se dedicar exclusivamente aos livros. “Percebi que queria mesmo prestar concurso”, diz. Ele trabalhava como técnico em informática numa multinacional. Hoje, tem três prioridades: saúde, família e estudos. Em alguns dias, chega a ficar sentado por10 horas. Por isso, não abre mão de fazer exercícios físicos na academia. O objetivo é ser aprovado para o cargo de perito criminal da Polícia Civil. Como já conseguiu estudar todo o conteúdo cobrado na prova, ele se dedica à resolução de questões similares às cobradas em exames anteriores. “Agora, tenho capacidade e conhecimento para passar.” O Estado como patrão – Viviane Cunha, 32 anos, era supervisora de logística em uma distribuidora de medicamentos. “Eu trabalhava demais, 10 horas por dia, de segunda a sábado. Não tinha qualidade de vida”, relata. Depois de passar por uma crise de estresse, decidiu abandonar a carreira. “Eu gosto de ter a minha vida programada, de poder tirar férias, por exemplo”, conta. Há um ano e meio, estuda para concursos de tribunais e de agências reguladoras. Ela tem certeza de que fez a escolha correta, pois está familiarizada com o trabalho exercido na administração pública. A rotina da concurseira vai das 9h às 18h, com pequenos intervalos de descanso a cada três horas. Viviane sabe que a aprovação não é um plano imediato e conta com o apoio do marido para não desistir do objetivo.
Dandara Andrade, 17 anos, quer ser aprovada antes da graduação
Graduação adiada – Com apenas 17 anos, Dandara Andrade deixou a cidade mineira de Unaí e veio para a capital federal com a intenção de se preparar para cursar psicologia. Ao chegar a Brasília, começou a trabalhar em uma clínica de odontologia como secretária, mas deixou o cargo em 11 de julho com a intenção de passar em um concurso. Agora, aos 19 anos, Dandara diz que só vai prestar vestibular depois da aprovação. “Meu foco é o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.Vou tentar para o cargo de técnico judiciário e, depois, quando ganhar estabilidade, quero fazer direito”, revela a jovem, que resolveu seguir esse caminho após ouvir os conselhos dos tios que já trabalham no serviço público. Em busca da estabildade – Durante a crise financeira de 2009, o professor Luiz Fernando Brito, 42 anos, foi demitido do cargo de coordenador do curso de história em uma universidade particular de Brasília. Apesar de gostar da profissão que exercia, preferiu não buscar outro emprego e manteve o foco nos estudos com o objetivo de ser aprovado para o cargo de analista. As 10 horas diárias de dedicação resultaram na aprovação em três concursos, um deles o da Defensoria Pública da União (DPU), para o qual ele espera ser chamado em breve. Outra seleção em que o professor quer passar é a do Tribunal Superior do Trabalho (TST). “Caso seja aprovado, acredito ser possível trabalhar na área de memória histórica do órgão, que tem relação com a minha formação”, diz, esperançoso. Seguindo a tradição – Preocupada em ter mais tempo para a família, Fabiana Carlini, 34 anos, deixou o emprego de assessora legislativa em 30 de julho deste ano. Agora, ela ocupa o tempo livre estudando para provas de tribunais. Mãe de dois filhos, de 8 e 12 anos, Fabiana preferiu deixar o setor privado com o objetivo de ter uma jornada de trabalho que permita passar mais tempo em casa com eles. “Quero ser aprovada na área de direito trabalhista, em que sou especialista. Além disso, é uma tradição na minha família trabalhar no serviço público”, relata. A candidata não tem pressa e pretende alcançar a aprovação em dois anos. Enquanto isso, passa a tarde e a noite no cursinho preparatório.