Como dizem os portugueses, vivemos uma era de grandes avanços na desmaterialização da economia. O computador que fez o homem pousar na Lua há cerca de 52 anos, não tinha nem de longe, a capacidade de processamento que o smartphone utilizado para a leitura deste artigo e ocupava uma imensidão de espaço físico, além de metais, parafusos, chapas etc.
Quanto mais exponencial é a tecnologia, mais intangível ela se torna. Basta ver as experiências nanotecnológicas que já impactam o mercado de diferentes formas: geração de energia, tinta fosforescente, produção de cosméticos, nano ´cápsulas que depositam a medicação diretamente nas células, tecidos inteligentes etc. 1 nano corresponde a 1 bilionésimo do metro e as atuais experiências neste nível subatômico da matéria já ultrapassa a escala de 200 nanos. Os Chips foram tão miniaturizados que são operados em nuvem atômica. Por falar em nuvem, nada mais etéreo que ela para o gigantesco repositório global de informações onde nossas memórias, projetos e registros em geral encontram-se armazenados, sem necessitarmos de máquinas, hardwares etc para dar conta de nossa sede cibernética.
As estradas foram pavimentadas e essa busca pelo intangível que fez surgir as duas primeiras gerações da internet: a Web1, baseada em busca de informações via hyperlinks e a Web2 com o surgimento das Redes Sociais, agora faz surgir a Web3. Em minha opinião, a mais recente se estabelecerá em duas etapas: a primeira com a construção de mundos, o chamado “Metaverso” e a segunda quando a “Rede Blockchain” permitir um nível avançado de funcionamento “peer to peer” em que haverá uma verdadeira revolução nas dinastias e feudos dos controladores da Rede Mundial. Estejamos certos, não faltarão resistências e sabotagens para garantir a não prevalência de um modelo mais democrático, seguro e descentralizado.
De que forma o “Metaverso” vai revolucionar nossa maneira de viver, consumir, relacionar, divertir etc? Da mesma forma que na Web 1 e 2, porém com muito mais abstração-realista, se é que se pode afirmar este paradoxo!
Estamos diante da eterna e ilimitada capacidade criativa e imaginativa do ser humano, cujas infinitas possibilidades já dão mostras de possuírem um impulso existencial inevitável.
As marcas de luxo, principalmente, já identificaram que esta vontade humana de ser o que quiser, sem limites ou julgamentos; desejar o que for, para além das limitações dos 5 sentidos, pode ser “imaterializada”, no campo da realidade virtual, da realidade aumentada e da própria holografia.
Gigantes como Microsoft, Apple, Google e Facebook, amedrontam-se com Plataformas de Games, como a Roblox, OpenSea, SandBox, Fortnite etc. A razão compreensível se dá pelo fato de que esta turma que congrega um mercado global de US$300 bilhões (universo dos Games), conhece melhor que ninguém o perfil psico-social da Geração “Z” (nascidos entre 1995 e 2010) e da Geração “Alpha” (nascidos à partir de 2010) cujo comportamento, visão, idéias, determinarão o padrão de consumo global do futuro. Não é por acaso que embora muito atrasado e diante de uma avalanche de acusações, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg alterou o nome da empresa para “Meta” e anunciou seu “Metaverso” com uma sinalização de US$100 bilhões de investimento.
Estima-se que aproximadamente 5 milhões de brasileiros já convivem no “Metaverso”, especialmente na Plataformas de Games que passaram a aprimorar suas definições de “mundos” para um grau de atratividade cada vez maior neste mergulho virtual tão lucrativo.
Quais são as marcas principais presentes no “Metaverso” até o momento?
Coca Cola: Promoveu um Leilão de uma Caixa Surpresa na Plataforma OpenSea que durou 72h e arrecadou próximo de R$3milhões. O “felizardo” arrematou NFTs (Non Fungible Tokens) de um cooler Coca-Cola Vintage com movimento e iluminação com 3 outros NFTs dentro dele:
Uma jaqueta bolha Coca-Cola 3D projetada sob medida para ser usada na plataforma de realidade virtual Decentraland; um Sound Visualizer ilustrando a sonoridade de uma Coca-Cola ao abrir e um Cartão da Amizade Coca-Cola com arte renovada de 1948. O vencedor também recebeu uma geladeira física Coca-Cola totalmente abastecida.
Gucci: Vendeu uma Bolsa que só existe no mundo virtual para compor o figurino de algum Avatar exigente, pela bagatela de US$4.000,00. A Plataforma utilizada foi a Roblox.
Nike: Além de criar a Nikeland na Plataforma Roblox, a empresa impressionou-se com o case da RTFKT, especializada na criação de tênis e artefatos digitais, que em 6 minutos de lançamento na Plataforma de Games Sandbox, vendeu 600 pares de tênis no NFT, criados pelo Artista adolescente “FEWOCIOUS”, faturando mais de US$ 3.1 milhões.
“Esta aquisição é mais um passo que acelera a transformação digital da Nike e nos permite atender atletas e criadores na interseção de esporte, criatividade, jogos e cultura”, diz John Donahoe, presidente e CEO da NIKE, Inc.
Ralph Lauren: Operando na Plataforma Zepeto que tem o investimento da SoftBank e um valuattion superior a US$1 bilhão, a marca alcançou rapidamente mais de 1 milhão de visitantes em sua loja virtual.
Boticário: Atuando na Plataforma Avakin, a marca obteve mais de 9 milhões de visitantes em sua loja virtual.
Dolce e Gabbana: Lançou uma coleção com 9 modelos, sendo 4 deles exclusivamente virtuais com possibilidade de compra via NFTs. Apurou US$ 5 milhões em vendas.
Balenciaga, Gucci e Burberry também podem ser encontradas na tradicional Plataforma Fortnite.
Hermés, Adidas, OutBack, Rolls Royce etc etc etc, todos estão presentes em diferentes “Metaversos”.
BioBots: Uma Startup brasileira de publicidade, arrancou na frente e se especializou na criação de Avatares de “Influencers” e famosos, como por exemplo a versão digital da Sabrina Sato, chamada “Satiko”. A fila de celebridades para literalmente, “entrar no jogo” é imensa. O faturamento da empresa que já chega a R$20 milhões deverá saltar para R$50 milhões até 2023.
Fundos Imobiliários e Fundos de Investimento especializados em negócios ligados ao “Metaverso” como o recém lançado pela XP e Rico, que prevê R$100 milhões de aporte inicial, demonstram que os dias do comércio eletrônico tradicional estão contados. Vem aí uma avalanche de tecnologias de segurança, de interoperabilidade, de modelos de financiamentos (DeFi) especializados em NFTs ou em carteiras digitais baseadas em criptomoedas e uma inimaginável quantidade de experiências. Trabalhar, estudar, namorar no “Metaverso” já é uma realidade e embora bem virtual, buscará se estabelecer em um nível tão próximo do real, que nossa capacidade cognitiva não saberá distinguir uma da outra!
Que possamos buscar neste avanço surreal dos meios digitais, a oportunidade de mais amor, generosidade, equidade e respeito. Precisamos canalizar este poder criativo em favor de uma comunidade global mais colaborativa e consciente. O entusiamo proporcionado por estas novas e muito avançadas fronteiras da intangibilidade não podem se limitar aos velhos interesses comerciais que motivaram a Web 1 e a Web 2, mas antes ao salto quântico das possibilidades de ensino-aprendizagem, desenvolvimento profissional, interações culturais, evolução espiritual.
Temo que a engenhosidade humana de projeção de mundos, possa de alguma forma ser cooptada por uma poderosa indústria que atualmente trava uma acirrada disputa pela Atenção e o Tempo de todos nós. Como ser livre mediante um bombardeio de estímulos ou diante de algorítimos preditivos que se antecipam as nossas tendências e criam sensações de prazer e necessidade de consumo, mantendo-nos numa espiral de “Distrações” e “Determinação de Prioridades”, ferindo claramente nosso processo natural de escolha e livre-arbítrio?
Esta destinação de boa parte de nossas atenções e distrações no universo virtual é o que gera tráfego na rede e US$bilhões no atual modelo sustentado pelas publicidades pagas. Isso porque o atual estágio se dá em grau de impacto cognitivo mediano com a utilização de telas 2D, bidimensionais, o que dirá no “Metaverso” 3D, tridimensional, holográfico com possibilidades de sensações táteis(roupas, luvas especiais etc), sensações de cheiro (diversos modelos já no mercado), paladar (exemplo dos filmes plásticos sobre telas, ativados por imagens) ?
No passado, os Territórios Físicos, foram alvos das conquistas dos Colonizadores, onde a separatividade dos povos conquistados, a usurpação de seus recursos e a exploração dos nativos, era a regra básica de Controle. Na atualidade, os Territórios desta disputa entre os avarentos Colonizadores, são as Mentes de todos nós, especialmente dos “Nativos Digitais”.
Se podemos transcender os limites materiais de nossa existência, que possamos nos tornar mais próximos da unidade essencial que é sem dúvidas, invisível aos olhos!
Namastech!