Topless e liberdade no Parque

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Foto Cedoc CB 1988

Você sabia que o topless foi praticado livremente no Parque da Cidade nos anos 80?

No início daquela década, o Brasil vivia a abertura política, depois de um longo período de ditadura militar e de censura. Os ventos de liberdade começavam a soprar no país, agitando a cultura na época, dando origem a um comportamento conhecido como “desbunde”, iniciado nas areias quentes de Ipanema, no Rio de Janeiro, que tomou conta do país.

O desbunde, na verdade, um estado de espírito libertário pelo direito de cada um ser e fazer o que quisesse, virou verbo, atitude e moda entre os jovens adultos, principalmente, e fazia parte dele a adoção do topless pelas mulheres – os homens mais ousados aderiam à tanga.

A prática do topless nas praias virou debate nacional e deu muito o que falar no primeiro Carnaval da década. As mulheres com seios à mostra chocaram muitos e viraram assunto de polícia em várias cidades. A discussão sobre a prática do topless chegou a Brasília, tomou conta dos clubes, quando foi proibido por vários deles, e criou grande expectativa sobre o que aconteceria na rua, em particular no irreverente bloco Pacotão. O Correio Braziliense fez matérias e registrou o fato nas suas páginas de cobertura da festa, para desgosto das senhoras recatadas, que reclamavam das fotos de mulheres com seios nus, em cartas pra redação na época.

Cedoc/CB/1980

O debate sobre o topless e o “atentado ao pudor” dura mais de 40 anos no país. Mas, no Parque da Cidade, como mostram algumas imagens, há registros de que as mulheres puderam praticar o ato à vontade, sem serem importunadas.

Por ser a maior área de lazer ao ar livre do Distrito Federal, e ter um universo bastante plural de frequentadores, costumo dizer que o Parque da Cidade é um excelente local pra se observar tendências de comportamentos, com reflexos do que acontece na sociedade. É um lugar que, em geral, não lança tendências, mas pelas conversas que se ouve, pela forma das pessoas estarem e usarem os espaços, um bom observador pode ver ali pra onde caminha a humanidade.

Eu morava em cidade de praia antes de viver em Brasília, e quando cheguei aqui, há mais de 35 anos, ficava impressionada ao ver que os brasilienses usavam o Parque como se estivessem numa praia. Era muito comum ver pessoas de todas as idades caminhando na pista com roupa de banho, a mais de mil quilômetros do litoral mais próximo. Arrisco dizer que o Parque da Cidade sempre sugeriu uma liberdade, do ponto de vista de exposição dos corpos, só experimentada em cidades com orla, calçadão e mar.

Com o passar dos anos, observei que mulheres de roupa de banho foram sumindo do Parque, ficando hoje uma prática restrita aos homens, quando praticam esportes.

Homens praticam esportes de sunga/ Foto CV/2024

 

Homens de sunga no futevolei/Foto CV/2024

Já faz algum tempo que não tenho visto pessoas de biquíni ou sunga, esticadas ao sol no gramado, ou em movimento nas pistas, uma cena tão única e própria do Parque. Fazendo topless então, nunca.

É bem verdade que, aquilo que era uma moda no início, virou hoje uma luta feminista por igualdade de gênero no Brasil, mais comum em atos de protesto e manifestações políticas. Apesar de não ser considerado crime, a repressão continua, quando, principalmente pelo litoral, mulheres que aderem ao topless continuam sendo presas por ato obsceno, enquadradas no Artigo 233 do Código Penal.

Mas no Parque da Cidade, não há esse tipo de registro. Entretanto, acredito que a prática volte, mais ainda se  for pra comemorar a conquista de alguma lei que conceda às mulheres a liberdade de poder afirmar “meu corpo, minhas regras”,  e fazer topless não só no Parque, mas onde quiserem.

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