Maila destaque Maíla Oliveira.a jovem mãe de 7 filhos. Foto CV maio 2025

“Tenha paciência que as coisas todas se encaixam”

Publicado em Pessoas

Há mais de um ano, falar nesse blog sobre o dia a dia ou fatos históricos do Parque da Cidade, mostrar cenas típicas do local, divulgar eventos, curiosidades, apresentar atrações, tem sido uma forma de chamar atenção para esse importante espaço público, patrimônio de Brasília. Entre as sessões do blog, pra mim, particularmente, tem sido um rico aprendizado falar com visitantes, usuários, trabalhadores, o que chamo de “Pessoas do Parque”. Escolhidas de forma aleatória, durante as minhas caminhadas, essas pessoas gentilmente atendem o meu pedido de entrevista para conhecer melhor suas vidas, experiências e opiniões sobre o Parque, sobre Brasília e sua visão de mundo. E cada uma mostra algo especial, surpreendente, que desperta a minha vontade de conhecer melhor seu universo e apresentar para os leitores. Como aconteceu com Maíla, uma jovem mãe que fazia fotos com seus filhos numa manhã de sábado na beira do lago.
Maíla Ferreira de Oliveira é de São Francisco, Minas Gerais, e mora há um ano e sete meses em Brasília, no Areal. Estudante de biblioteconomia, faz estágio na Procuradoria Geral do Distrito Federal – PGDF, é divorciada, 41 anos e tem 7 filhos. Fazia frio naquela manhã, mas lá estavam Maíla e seus 7 filhos juntinhos, pousando para o fotógrafo. Achei que era alguma campanha publicitária ou de moda para pessoas negras e quando ela me falou que se tratava de fotos para um livro sobre mães reais, quis conhecê-la melhor, sem disfarçar minha curiosidade sobre os desafios de ter tantos filhos. Ela respondeu às perguntas com a calma e a paciência que diz ser preciso para dar conta de uma família tão grande, principalmente sozinha.
Conheça mais uma pessoa do Parque e sua história de coragem e fé.

Maíla e seus 7 filhos/ Foto CV maio 2025

Perguntas para Maíla Oliveira:

P- Como que você faz pra cuidar de 7 filhos?
R- É uma luta, uma correria.

P- Qual a idade deles?
R- O mais velho tem 21 anos, a mais nova tem 7, então têm 21, 19, 17, 14, 12, 10 e 7, são 2 homens e 5 mulheres.

P- Você sempre quis ter muitos filhos?
R- Sim, eu casei nova e tinha em mente 4 filhos. A gente planejou 4 mas, com a graça de Deus, veio 7.

P- Com tantos filhos, fala um pouco dessa sua luta pra estudar e trabalhar.
R- É uma luta prazerosa pra mim, eu gosto, tem as dificuldades, mas a gente vai conseguindo encaixar, adaptar, sempre buscando melhoria pra eles. E graças a Deus eles me ajudam muito também. Os mais velhos ajudam com os mais novos. É luta, mas pra mim é prazerosa.

P- Estão todos estudando?
R- Sim, todos estudando.

P- E o mais velho já trabalha?
R- Sim, o mais velho já trabalha num supermercado.

P- Onde vocês moram, a vida é tranquila?
R- É tranquila, as escolas ficam todas perto, tem tudo perto.

P- Você conta com a ajuda dos mais velhos pra olhar os mais novos?
R- Sim, tem o de 21 e o de 19 que olham os menores.

P- Você passa o dia todo fora?
R- Agora estou estudando à noite e faço estágio à tarde. Antes, quando eu cheguei aqui, eu estudava à noite, estagiava à tarde e trabalhava na parte da manhã.

P- Por que você quis vir para Brasília?
R- Porque, como a cidade que morava era pequena, eu quero que eles tenham oportunidade. Aí eu pensei: eu preciso ir pra uma capital, pra uma cidade maior. Aí, logo depois que me separei, eu disse: vamos pra Brasília!

P- E eles todos toparam?
R- Todos toparam. Viemos de ônibus, viemos praticamente com a roupa do corpo.

P- Você teve algum apoio quando chegou?
R- O meu irmão, já tinha 5 anos que morava aqui e foi meu apoio inicial. Eu fiquei um mês morando com ele. Aí logo arrumei um serviço e aluguei.

P- O que você acha de Brasília?
R- Eu adoro! Logo que me separei eu vim pra cá pra passear, pra conhecer, e quando cheguei aqui, me apaixonei. Antes disso, eu tinha uma filha adotada, e ela faleceu, logo que me separei. Por isso eu quis fazer essa mudança, em homenagem a ela, que era especial, deficiente.

R- Você adotou ela primeiro ou foi depois de ter filho?
P- Eu já tinha 3 filhos quando adotei.

P- Por que você adotou?
R- Porque a mãe dela faleceu no parto.

P- Ela ficou doente?
R- É, ela tinha paralisia, tinha convulsões, várias complicações, faleceu com 19 anos.

P- Você ainda pensa em ter filhos?
R- Não, agora eu quero cuidar deles e da vida.

P- O que você sonha pra eles?
R- Eu sonho com o melhor que eles quiserem ser. Eu estou buscando, tô correndo atrás e o que eu puder fazer pra eles estudarem, terem uma profissão, é isso que eu vou fazer. O que eu quero é que eles estudem, que façam alguma coisa.

P- E qual é o seu maior receio em relação a eles?
R- São tantos medos, que é algo que nem penso. A gente já passou por tantos problemas, cada um deles, uns três tiveram bastante problemas de saúde, então hoje eu não… tá todo mundo bem, então eu nem penso, só quero que estejam todos bem.

P- Você acredita em quê?
R- Em Deus, a Providência Divina é o meu norte.

P- Você tem religião?
R- Eu sou católica

P- E pra orientar seus filhos na vida, que valores você passa para eles?
R- A doutrina católica, a gente segue a doutrina católica. Onde estou eu levo. A primeira coisa que fiz quando cheguei aqui foi buscar a igreja. Cada um tem um movimento, da pequenininha ao maior, sempre tem um movimento na igreja.

P- Você já conhecia o Parque da Cidade?
R- Não, é a primeira vez que estou vindo aqui.

P- Porque você escolheu fazer as fotos aqui?
R- Foi a editora que escolheu fazer aqui e a gente veio. O meu filho mais velho já tinha vindo, ele adorou.

P- E o que você está achando?
R- Eu amei, achei super lindo. Achei muito agradável, amplo, tem vários locais para ficar em família, fazer piquenique, passar o dia, viver em família. Buscar esses momentos num local como esse é maravilhoso. A gente precisa ter essas memórias, que as crianças guardem. E um local como esse é ótimo para ter essas memórias. Vou voltar, com certeza. Eu trabalho aqui perto e nunca tinha vindo.

P- Sobre esse livro, me fale o que é esse livro.
R- É sobre mães reais, histórias reais de mães. É um grupo de mães e cada uma conta a sua história de vida, como foi o parto, o nascimento, sua história. O lançamento está previsto pra novembro.

P- Quem lhe chamou pra participar?
R- Uma conhecida que trabalha comigo estava participando e me apresentou, e estou participando, agora fazendo as fotos.

P- Qual o seu conselho para as pessoas?
R- Acho que é união, paz, tentar ter diálogo, entender um ao outro. Eu acho que as pessoas às vezes só pensam em si, não pensam no outro. E ter fé, não desistir.

P- Qual o seu recado para as mães, sendo você uma mãe de 7 filhos?
R- Como eu acredito muito na Providência e na paciência. Tenha paciência que as coisas todas se encaixam. Ás vezes a gente fica achando que não vai dar certo, mas tem que ter paciência, ter calma, ter diálogo.

P- As pessoas se preocupam muito com a questão econômica. Como você está se virando com 7 filhos pra alimentar, vestir, comprar material escolar…?

R- Graças a Deus meu filho está me ajudando, faz pouco tempo que saí de um serviço e estou buscando outro. Quando vim pra cá, eu tinha em mente que, com um só serviço, eu não ia conseguir ficar aqui. Então já tinha isso em mente, que eu preciso estar trabalhando em dois empregos. Então eu trabalho em um, faço estágio no outro, a minha filha também já é menor aprendiz e me ajuda, e o outro que trabalha.

P- Seu ex-marido ajuda?
R- Tem uma pensão só, que não é algo que dá pra contar, é uma ajuda. Por isso tenho isso em mente: eu preciso trabalhar em 2 empregos, ou eu passo num concurso pra ganhar mais.

P- Você é guerreira, vai conseguir.
R- Com a graça de Deus.

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