Rogério Pereira dos Santos, proprietário da JC Santos Encadernadora e Gráfica | Crédito: Divulgação

Entre papéis e histórias

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Em um tempo em que o digital parece dominar, há um espaço onde o papel ainda respira com força e ganha nova vida. O cheiro característico de tinta e o som cadenciado das máquinas mostram a rotina da JC Santos Encadernadora e Gráfica, empresa tradicional de Brasília, especialista em dar uma nova chance aos livros esquecidos, restaurar memórias e transformar ideias em páginas impressas. De restaurações delicadas a encadernações sob medida, a empresa também abraça novos autores, oferecendo estrutura para quem deseja ver seu próprio livro ganhar forma.

O proprietário Rogério Pereira dos Santos conta que a história do negócio começou em 2002, no Guará – local que a marca reside até hoje. “Inicialmente, nossa empresa dedicava-se exclusivamente à encadernação e restauração de livros, jornais e documentos. Com o tempo, expandimos nossas atividades para abranger outras áreas do setor, incluindo serviços de copiadora, fabricação de pastas para eventos e malotes para contabilidades, impressões digitais e outros segmentos do ramo gráfico”, informa. 

O nome da empresa carrega um significado especial. Quando Rogério decidiu abrir o negócio, já era pai e quis homenagear o seu primeiro filho, Johnatan Caetano, batizando a empresa com o “JC”. Mais tarde, decidiu acrescentar o próprio sobrenome – que também é o do filho – reforçando ainda mais o vínculo familiar presente em toda a trajetória do empreendimento. 

No início, um dos maiores desafios enfrentados por Rogério foi conciliar a falta de recursos para investir em equipamentos com a dificuldade de atrair os primeiros clientes. A estrutura era modesta: o negócio começou em uma loja de apenas 25 metros quadrados, com equipamentos básicos e operado exclusivamente por ele e sua esposa. Mesmo diante das limitações, o casal manteve o foco e a determinação para oferecer um serviço de qualidade, construindo aos poucos a reputação da empresa.

No entanto, o interesse pelo ramo é antigo e, segundo o empresário, surgiu ainda aos seus 14 anos de idade. “Tive interesse nesse ramo devido a oportunidade que tive na gráfica do Senado”, recorda. Quando trabalhava na seção de acabamento, uma funcionária que atuava na coordenação deu uma oportunidade para Rogério ingressar na área de encadernação. “Desde então, vi que era um ramo prazeroso de se trabalhar. E vi o tanto que era bom pegar uma obra literária antiga e restaurá-la, deixando-a como nova”, complementa.

Os serviços da empresa abrangem restauração, higienização e encadernação de livros, com opções de capa dura, couro, brochura, espiral e wire-o em diversos formatos. “Também realizamos a produção de livros para pequenos escritores e oferecemos serviços de copiadora e gráfica rápida”, ressalta. Rogério comenta que a JC também é especializada em impressão digital (banners e lonas), brindes, moleskines e confecção de pastas para eventos e malotes para contabilidades.

Para Rogério, o principal diferencial da empresa diz respeito à qualidade do serviço oferecido. “Nossa prioridade é a qualidade do serviço, que é garantida pela combinação de técnicas tradicionais e modernas. Além disso, focamos em um atendimento personalizado, dando total atenção a cada um dos nossos clientes”, informa. 

A dedicação de Rogério ao ofício vai além do atendimento ao cliente. Para ele, a encadernação é algo insubstituível, uma expressão viva da história dos livros e do saber humano. Esse olhar sensível para o próprio trabalho é o que sustenta o cuidado em cada etapa do processo. “O ato de manusear um volume físico, percebendo a riqueza de informações e conhecimento que ele carrega, é algo que valorizo muito”, afirma. 

Esse comprometimento com a qualidade nasce, sobretudo, da relação afetiva que Rogério tem com a sua atuação diária. Para ele, a encadernação é uma ponte entre passado e presente, carregada de memórias e significado. “Em certa ocasião, um cliente nos procurou para restaurar e renovar a capa de sua antiga Bíblia”, relembra. Ao retornar para buscá-la, Rogério informa que, inicialmente, ele não a reconheceu, pois a peça parecia totalmente nova. 

“Após minha insistência para que ele a desembalasse e conferisse o interior, ele se surpreendeu e ficou maravilhado ao reconhecer suas anotações. Satisfeito com o resultado, ele perguntou como havíamos conseguido restaurá-la a tal ponto e, ao final, prometeu se tornar um cliente fiel e recomendar nossos serviços a amigos e familiares”, diz. Momentos como esse reforçam a convicção de Rogério de que não se trata apenas de encadernar livros, mas de preservar histórias, afetos e conhecimentos que resistem ao tempo.

Três perguntas para Rogério Pereira dos Santos, proprietário da JC Santos Encadernadora e Gráfica:

O que motivou a criação do negócio?

Em 1992, aos 14 anos, tive a oportunidade de trabalhar como menor aprendiz na Gráfica do Senado. Lá, conheci a seção de Encadernação e me apaixonei, em especial pela área de restauração de livros. Foi a partir dessa experiência que surgiu o sonho de ter meu próprio negócio nesse ramo.

Houve mudanças tecnológicas que impactaram diretamente o negócio?

O uso de alguns equipamentos contribuiu para a eficiência e a agilidade na produção dos materiais. Na área gráfica, alguns processos foram automatizados, mas a encadernação continua sendo um trabalho artesanal.

Como é o processo de encadernação de jornais?

O papel-jornal é bastante delicado e exige um processo cuidadoso de preparação. Primeiro, verificamos o material para garantir que não haja cortes ou perdas de informação. Em seguida, realizamos uma costura especial para que o volume possa receber a colagem.

Depois, preparamos o volume para o corte, que é feito sob medida para a confecção da capa, que irá receber a gravação de dizeres em dourado. Todo esse processo é realizado de forma manual em nossa oficina.