Nas grandes cidades, é comum que a paisagem urbana passe despercebida por quem a atravessa todos os dias. Edifícios icônicos se tornam pano de fundo da rotina, vistos mais como referência de localização do que como parte viva da história ou da cultura local. Mas e se esses espaços ganhassem novos significados, ainda que temporariamente? E se a arte ocupasse esses lugares de forma inesperada, provocando outro olhar sobre o que já está ali?
Essa é a proposta do Brasília Museu Aberto, projeto cultural que surgiu em 2020 – em comemoração aos 60 anos de Brasília – com o objetivo de transformar a cidade, permitindo que a arte dialogue diretamente com o espaço urbano e com os cidadãos. Para isso, a iniciativa promove projeções de obras de artistas visuais em edifícios icônicos da capital.
“Trata-se de uma experiência inovadora de interação entre arte e espaço público, onde diversas formas de expressão artística, como projeções mapeadas de artistas visuais e música se integram ao cenário urbano, enriquecendo a vivência da cidade”, conta Danielle Athayde, idealizadora e curadora do Brasília Museu Aberto.
Neste ano, a mostra – com data única – será realizada no dia 15 de agosto, na fachada do Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves. O espaço será palco de uma galeria digital a céu aberto, com projeções que contam e ressignificam a história da arte brasileira.
Para essa edição, a profissional conta que a curadoria foi realizada através de um processo seletivo que valorizou a diversidade e a representatividade, buscando artistas que refletem a pluralidade cultural de Brasília e dialoguem com a temática da edição, que é “Brasilidades”.
“Também serão homenageados cinco importantes artistas brasilienses com destaque no cenário nacional e internacional que nos deixaram recentemente: Francisco Galeno, Marlene Godoy, Orlando Brito, Paulo Iolovitch e Vladimir Carvalho com uma seleção de obras especiais que serão projetadas em 2025”, informa.
Danielle aponta que a linha curatorial busca destacar a identidade brasileira em suas diversas manifestações, explorando temas que conectam o passado e o presente, enfatizando a riqueza cultural e a diversidade do Brasil, tendo Brasília como destaque.
Para uma experiência imersiva com a arte em suas diferentes formas, o público também contará com uma apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNC), sob a regência do maestro Claudio Cohen. “A presença da OSTNC é fundamental para proporcionar uma experiência sensorial completa, unindo música brasileira de altíssima qualidade e arte visual, e enriquecendo a atmosfera do evento com uma trilha sonora que dialoga com as obras expostas
A orquestra contará com a participação de 60 músicos e apresentará um repertório abrangendo composições eruditas, como Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos; e O Guarani, de Carlos Gomes, até clássicos populares como Aquarela do Brasil, de Ary Barroso; temas de Luiz Gonzaga; e sucessos do rock da Legião Urbana, revelando toda a diversidade e riqueza da cultura musical nacional.
Experiência artística imersiva
Danielle acredita que a cidade é parte integrante da experiência do Brasília Museu Aberto e, ainda, responsável por estabelecer uma ligação entre a arte, a história e o dia a dia do cidadão. “Esperamos proporcionar uma experiência imersiva e transformadora, onde o público possa vivenciar a arte de maneira educativa, interativa, dinâmica, envolvente e reflexiva, conectando-se com a cidade e suas histórias e sua música”, ressalta.
A curadora ressalta que a expectativa para a edição deste ano é inspirar novas gerações de artistas e cidadãos, fortalecendo a cena artística das artes visuais em Brasília, além de fomentar uma consciência crítica sobre a arte e o seu papel no espaço público. “Desejamos estreitar os laços da comunidade brasiliense com a cultura, despertando novas percepções sobre a cidade e o seu potencial criativo”, acrescenta.
Três perguntas para Danielle Athayde, idealizadora e curadora do Brasília Museu Aberto:
Como o projeto evoluiu desde a sua criação?
Desde sua criação, o projeto evoluiu em termos de escala e alcance, estamos na quarta edição e a cada ano incorporando novas tecnologias, expandindo as mídias utilizadas e aumentando a participação de artistas locais e nacionais, além de se adaptar a novas realidades sociais e culturais da cidade.
O que Brasília representa dentro do projeto?
Brasília, cidade famosa por sua arquitetura e pelas obras icônicas de Oscar Niemeyer, representa um símbolo de modernidade e diversidade. Ao usarmos essas “estruturas” como cenário urbano e como características únicas exploradas artisticamente, promovemos uma interação entre arte e arquitetura.
Ao apresentar a arte de forma inovadora com recursos tecnológicos para as ruas e espaços públicos da cidade saindo do lugar comum, o projeto se torna mais atraente e acessível. Fomenta um sentimento de pertencimento, permitindo que o público se veja representado e conectado à nossa cidade de maneira mais forte.
O que você espera que as pessoas levem consigo após vivenciar o Brasília Museu Aberto?
Espero que as pessoas levem consigo uma nova perspectiva sobre a arte e a cidade, um sentimento de pertencimento e uma maior abertura para a diversidade das expressões culturais que nos cercam. E saiam felizes, cheios de inspiração e com gostinho de quero mais. Afinal, a cultura é para todos.

