A democratização e popularização da arte são premissas essenciais para a Galeria Risofloras. Localizada na Praça do Cidadão, em Ceilândia, a iniciativa foi criada para promover e valorizar a cena artística fora do Plano Piloto. O espaço expositivo surgiu, em 2018, pelo programa Jovem de Expressão, onde havia um posto da Polícia Militar abandonado na região.
“A Galeria Risofloras recebe esse nome em homenagem a um, entre tantos coletivos de artistas, que nasceu no Jovem de Expressão, a partir das iniciativas que oferecem formação na economia criativa para jovens entre 18 e 29 anos”, conta Gu da Cei, artista visual e curador da Galeria Risofloras. Desde a sua fundação, o ambiente já recebeu mais de 20 exposições de diferentes temáticas e linguagens, desde fotografias até performances, pinturas e desenhos.
Para o Gu da Cei, a Galeria é um lugar destinado, principalmente, à arte contemporânea. Ele ressalta que se trata de um espaço de experimentação, formação e impulsionamento de artistas periféricos que geralmente não encontram espaço em outros locais expositivos. “A gente nasce com esse intuito de descentralizar a arte contemporânea. Sabemos que os espaços expositivos estão muito centralizados no Plano Piloto e a Risofloras é a primeira, até então, de Ceilândia”, explica.
O artista visual defende que ambientes como a Risofloras mostram possibilidades de expressão e incentivam as pessoas a experimentarem novos conhecimentos. “As exposições de arte são uma forma de compartilhar informação e de apresentar a arte enquanto uma possibilidade de vida, seja de expressão ou de caminho profissional a ser seguido”, pontua. Rayane Soares, que também é curadora da Galeria, complementa, destacando a relevância da Galeria especialmente por ela ter se tornado um ambiente que impulsiona novos artistas e, ainda, valoriza a arte periférica.
“Quando a gente fala de artes periféricas, de alguma forma, a gente está falando sobre arte negra, que por muito tempo foi e ainda é marginalizada, às vezes até mesmo não reconhecida como arte. Então, a Risofloras nasce com essa ideia de mostrar que aquilo que aquele jovem faz, aquele artista faz é arte e que ela pode sim estar dentro de uma galeria”, ressalta.
A profissional indica que, além do âmbito cultural e profissional, o envolvimento da arte com o ser humano também está atrelado ao resgate da identidade e da autoestima. “De alguma forma, o jovem periférico está falando sobre ele a partir de uma obra de arte. É sobre a identidade e o cotidiano dele”, contextualiza. Além disso, segundo Rayane, essa produção permite que outros indivíduos se identifiquem com a história retratada pela arte construída na periferia.
“A gente está com a exposição do Foto de Quebrada, que são fotos de diferentes lugares do Brasil, mas o que as une é a questão da geografia periférica. Eu consigo me identificar com a jovem negra do Rio de Janeiro, por exemplo, porque de alguma forma aquele ambiente onde ela cresce ou aquela música que ela escuta e até mesmo aquela estética de roupa que ela usa é a mesma que a minha” exemplifica.
Exposições para 2025
Na Galeria, a seleção das exposições são realizadas de diferentes formas. Uma delas é via edital de chamamento. De acordo com os curadores, a agenda da Risofloras para 2025 está praticamente fechada. “Estamos com um edital de ocupação para o ano que vem, em que a gente vai selecionar cinco exposições para ocuparem a Galeria ao longo do primeiro semestre”, sinaliza Gu da Cei.
Rayane também indica que, em breve, será lançado mais um edital para a ocupação do espaço para o segundo semestre de 2025. “A Risofloras tem conseguido funcionar durante todo o ano. Em 2024, esteve aberta todos os meses com um grande fluxo de visitação”, celebra.
Três perguntas para Gu da Cei, artista visual e curador da Galeria Risofloras:
Como a Galeria busca democratizar o acesso à arte no Brasil?
As artes visuais podem ser uma coisa mais próxima da população, como apresentar que os artistas e o público não precisam se deslocar a longa distância, para o Plano Piloto, para ver ou para expor suas artes. E é dessa forma que a gente busca democratizar o acesso à arte no Brasil, tornando ela mais próxima das pessoas, apresentando novos artistas, principalmente artistas que não têm espaço em outras galerias. Democratizar a arte a partir dessa descentralização e promoção de artistas historicamente colocados à margem.
Quais são, ainda, os empecilhos de atuar na descentralização da cultura?
Além dos incentivos governamentais e privados para manter e crescer, acho que o maior empecilho de atuar na descentralização cultural é fazer com que as pessoas que estão no centro venham consumir a arte que está na periferia, porque geralmente fazemos o movimento contrário, vamos para o centro consumir cultura. É um desafio essa mudança: fazer com que as pessoas do centro venham até a Galeria e, ainda, promover essa educação, tanto da comunidade local como da comunidade externa para consumir esses trabalhos de arte.
Como as exposições e atividades são pensadas para atrair e envolver públicos que normalmente não frequentam galerias de arte?
A maneira que a gente encontra de atrair e engajar essas pessoas que geralmente não frequentam as galerias de artes é apresentar temáticas que condizem com as suas realidades e vivências, mostrando que aquilo que está no espaço conversa com a história dessas pessoas. É fazer com que a pessoa se reconheça dentro da Galeria.