O hábito de receber os seus amigos com grandes banquetes despertou em Tin Ching Tsui a paixão por cozinhar. Foi a partir desse sentimento que, em 1973, ele inaugurou, em Brasília, o China Restaurante, o primeiro da região especializado em culinária chinesa e que, até hoje, é considerado uma das principais referências orientais da cidade.
A primeira unidade foi aberta em uma pequena loja alugada com o apoio da representação diplomática do Taiwan, em uma quadra onde também havia o restaurante “Bonapetite” e uma confeitaria, ambos franceses. “Alguns anos depois, em 1985, já com o apoio da Embaixada da China, surgiu a oportunidade de expansão para a Asa Sul (CLS 103), em loja própria, onde estamos até hoje”, conta Janio Tsui, filho de Tin Ching Tsui e, atualmente, sócio-proprietário do China Restaurante.
O empreendedor recorda que, na loja inicial, a sua família foi, praticamente, obrigada a mudar-se. “A proprietária do imóvel dizia que ‘aquele chinês estava ganhando muito dinheiro e pagar um aluguel, por vezes muito maior e fora do preço de mercado, não era nada’”, diz. No entanto, os empecilhos para o funcionamento do restaurante não desanimaram Tin Ching Tsui, que conseguiu consolidar o seu sonho de levar a culinária oriental à capital do Brasil.
“O China Restaurante é uma referência em culinária chinesa no DF, devido ao compromisso com a tradição e a qualidade. Desde 1973, mantemos as mesmas receitas e tradições que conquistaram nossos primeiros clientes. Faço questão de acompanhar pessoalmente a escolha dos insumos toda semana, garantindo que cada ingrediente que entra na cozinha seja da melhor qualidade e que os ingredientes e temperos sejam os que tragam o mais fielmente o sabor original”, informa o sócio-proprietário.
Para Janio, o segredo do sucesso está atrelado à tradição e à manutenção do legado construído pelo seu pai. “Ele lutou muito para que tudo isso se tornasse realidade, e é uma honra continuar esse trabalho”, pontua. Por isso, a autenticidade da culinária chinesa se mantém presente, especialmente, devido ao restaurante manter as mesmas receitas há quase 52 anos.
“A gente faz questão de manter tudo como ele ensinou”, complementa. Esse cuidado e a busca pela excelência reflete, inclusive, no tempo de casa dos funcionários. “Vários estão conosco há mais de 30 anos”, pontua. Além disso, esse diferencial também foi responsável por fidelizar os clientes no estabelecimento. “Várias gerações das famílias que passaram por aqui. É difícil escolher uma única história marcante em quase 52 anos de funcionamento. Somos um ambiente familiar, onde muitas pessoas criaram memórias especiais ao longo dos anos”, celebra.
A jornada até o Brasil
Apesar do estabelecimento ter sido criado na capital, a história da família de Janio Tsui, com a culinária, começou bem antes da vinda para o Brasil. O seu pai, Tin Ching Tsui, iniciou a sua trajetória como aprendiz de cozinha chinesa e, depois de anos, tornou-se cozinheiro dentro da escola de culinária chinesa.
“Era uma das mais disputadas na época, na Associação dos Banqueiros de Hong Kong, onde somente os mais poderosos e mais ricos podiam comer do bom e do melhor, numa época em que a China tinha se tornado um país comunista e Hong Kong era uma colônia inglesa”, indica. Janio informa que quem estava em Hong Kong, oriundo da China, buscava oportunidades, pois havia mão de obra sobrando na época.
“Foi onde o Sr. Tin, como era conhecido, aprendeu os segredos da culinária chinesa, pois os comensais da época eram bastante exigentes, com paladares apurados. Após anos e em busca de melhores condições de vida, decidiu se mudar para o Brasil no final dos anos cinquenta”, explica. Primeiro, estabeleceu-se em São Paulo, trabalhando em dois dos únicos restaurantes chineses que existiam. Depois, passou cerca de quatro anos sozinho, nos Estados Unidos, em Nova Iorque, onde pretendia se estabelecer, já que muitos de seus amigos e colegas estavam migrando para a região.
“Ele aperfeiçoou suas habilidades, tornando-se cozinheiro chef, trabalhando em alguns poucos restaurantes chineses famosos, onde, também, absorveu novas influências”, contextualiza. Em 1972, Tin Ching Tsui retornou ao Brasil após a sua mulher, Hung Sau Wan, que permaneceu no território brasileiro, comunicá-lo que vários colegas estavam se tornando proprietários de restaurantes chineses no país e mundo afora. “Ela questionou se não seria a vez do Sr. Tin também, ter o seu próprio negócio. Foi aí que viu em Brasília uma oportunidade única”, recorda.
Três perguntas para Janio Tsui, sócio-proprietário do China Restaurante:
Como você enxerga a gastronomia chinesa em Brasília?
A cultura chinesa tem como base a tradição e isso se reflete fortemente na culinária. Aqui em Brasília é raro encontrar restaurantes que busquem inovar muito na culinária chinesa, porque ela é construída sobre receitas que passam de geração em geração. Grande parte dos restaurantes chineses são abertos por imigrantes chineses e acabam se tornando negócios familiares, onde as raízes são preservadas.
Quais foram os maiores desafios para a abertura do restaurante?
Os maiores desafios para a abertura do restaurante foram o risco de um investimento alto e a tarefa de apresentar algo completamente novo para as pessoas, e não dar certo. Com as suas poucas economias e empréstimos com alguns poucos amigos, o sr. Tin pensou que se até em dois anos, não desse certo, retornaria aos Estados Unidos, já que possuía o Green Card.
Meu pai foi muito assertivo em suas escolhas. Na inauguração, ele fez questão de convidar grandes influências da época para estarem presentes, sobretudo com o apoio das representações diplomáticas, primeiro de Taiwan e depois Embaixada da China, o que logo ajudou a atrair uma boa clientela.
Há expectativas de expansão para os próximos anos?
Não temos planos de expansão, porque acredito que o verdadeiro valor do restaurante está justamente em ser um ambiente familiar, onde mantemos as receitas originais e todo o cuidado que nos trouxe até aqui.