Neste mês de agosto, o Brasil deveria extinguir o uso de lixões em todo o território nacional. A ação foi determinada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, por meio da Lei 12.305/2010, onde foi estabelecido a data-limite para o cumprimento da norma, de acordo com o tamanho dos municípios. Apesar disso, ainda encontram-se, em todo o território nacional, depósitos de lixo a céu aberto, sem controle ambiental, sanitário ou de segurança.
Sabe-se que o tratamento irregular de lixo pode alavancar problemas ambientais e causar danos à saúde da população. No Distrito Federal, buscando minimizar a forma que o descarte de resíduos é realizado, Lucas Moya apostou na criação do Projeto Compostar, há quase uma década. Com o intuito de mudar a realidade do lixo orgânico, o empreendedor enxergou, no problema socioambiental da capital, a possibilidade de fomentar a criação de um adubo natural na casa dos brasilienses.
“O Projeto Compostar veio a partir de uma visita que fiz na época que o lixão da Estrutural estava em pleno funcionamento. Achei um absurdo e comecei a estudar maneiras de mudar essa realidade. Percebi que o resíduo orgânico correspondia a 50% de todo o resíduo gerado, e que não havia solução eficiente em Brasília”, conta o sócio-fundador.
Conhecido como Lixão da Estrutural, o Aterro do Jóquei foi fechado há seis anos. Atualmente, a área é ocupada pela Unidade de Recebimento de Entulhos (URE), de responsabilidade do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), e conta com 123.710 metros quadrados. Ainda assim, o espaço permanece enfrentando desafios com o acúmulo de resíduos da construção civil.
Na época, com funcionamento intenso, perto do coração de Brasília, a 15 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, Lucas ressalta que o local era considerado um dos maiores lixões da América Latina e do mundo. “Todo lixo de Brasília ia, praticamente, para o lixão. Não a totalidade, mas a maior parte. Quando visitei o ambiente com a universidade, vi essa realidade e tentei fazer alguma coisa para mudar”, informa.
Foi a partir desse insight que os estudos começaram e Lucas passou a compreender como funcionava a gestão de resíduos. “Comecei a entender um pouco melhor. Percebi que não havia um tratamento eficiente para grande parte do que era descartado. Foi por isso que o Compostar surgiu. Inicialmente, a gente juntou vários apoiadores que queriam auxiliar esse projeto sair do papel”, recorda.
Com a missão de propor, de maneira simples e descentralizada, a gestão dos resíduos orgânicos, o Projeto Compostar atende, atualmente, cerca de 500 residências na cidade. O processo conta com uma equipe que atua indo até a casa dos associados para coletar os resíduos com o intuito de dar uma destinação ambientalmente adequada. “A gente garante que o resíduo de todo mundo está sendo tratado de forma adequada, sendo transformado em adubo e não indo pro aterro, gerando passivos ambientais”, informa.
Como funciona a compostagem
Processo biológico e ambientalmente seguro, a compostagem trata-se de um mecanismo que utiliza microorganismos, como fungos e bactérias, para a decomposição da matéria orgânica para ser transformada em adubo. Na prática, busca-se evitar evitar o envio de orgânicos para os aterros, a fim de aliviar a demanda local e evitar o risco de contaminação da água, solo e ar.
Ao realizar a inscrição no Projeto Compostar, o associado recebe um kit para separar corretamente os seus resíduos, que conta com baldinho, recipiente especial, sacolinhas compostáveis e manual de instrução. Semanalmente ou a cada quinzena, a equipe faz a coleta. Os planos oferecidos variam entre residencial, escritórios, restaurantes e eventos. No caso dos estabelecimentos comerciais, além dos kits, também há o treinamento dos funcionários para realizar a separação de resíduos de forma correta.
“A gente presta esse serviço de regularização, principalmente de restaurantes e empresas maiores aqui em Brasília, para garantir que os resíduos dessas empresas sejam tratados de forma adequada. Dessa forma, a empresa fica regular, de acordo com as leis distritais que regulamentam toda essa questão, e a gente garante que o estabelecimento está dando um passinho rumo à sustentabilidade e que o resíduo dela não está sendo enterrado no aterro”, explica.
Três perguntas para Lucas Moya, sócio-fundador do Projeto Compostar:
Por que a compostagem doméstica deve ser integrada ao cotidiano das famílias?
A separação correta da parcela orgânica deve ser implementada nas residências. Quando o resíduo orgânico não é separado, acaba indo majoritariamente para aterros e lixões no Brasil, junto com os rejeitos. A separação nas residências é o primeiro passo. E o segundo é realizar a própria compostagem ou contratar um serviço de compostagem como o nosso, que faz toda a coleta e compostagem pras residências que nos contratam.
Por que o ato de compostar é importante?
Porque evita que o resíduo vá para aterros e lixões. Nos aterros e lixões, o resíduo orgânico é um grande passivo, podendo gerar gases de efeito estufa, vetores, contaminação de lençóis freáticos, entre outros prejuízos socioambientais. Além de tudo, a compostagem gera adubo orgânico, retornando os nutrientes para o solo, em um ciclo de sustentabilidade.
Como o Projeto Compostar educa e apoia seus clientes na prática da compostagem?
Nós coletamos os resíduos que os apoiadores e clientes geram. Nas empresas, oferecemos treinamento para os colaboradores fazerem a separação correta. Nas residências dos apoiadores, mandamos material informativo. Mas a grande maioria das residências que nos contrata já possuem a consciência socioambiental bem desenvolvida.