Na quarta-feira (29), o empreendedor Elon Musk solicitou uma pausa de seis meses na pesquisa sobre Inteligências Artificiais (IAs) mais avançadas que o GPT-4, modelo lançado em março, pela OpenAI. Musk alertou que a tecnologia traz grandes riscos para a humanidade.
Um dos motivos pode estar relacionado ao futuro dos empregos em âmbito mundial. Em conjunto com a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, pesquisadores da empresa responsável pela criação da ferramenta apresentaram um estudo indicando as profissões mais impactadas com o avanço das IAs.
Levando em consideração o mercado de trabalho norte-americano, 82,5% dos redatores e autores, e 68,8% dos poetas, compositores e escritores estão expostos às tecnologias. Os dados foram apresentados pelo periódico The Wall Street Journal.
Na análise de Victor Tagore, editor-chefe da Tagore Editora, empresa de Brasília, as IAs estão incidindo amplamente no mercado editorial. “Está mexendo com a forma de escrever e também com concursos literários, que não têm como se proteger de pessoas que usam esse tipo de ferramenta para criar textos”, avalia.
No entanto, apesar das IAs preocuparem, o mundo digital tem facetas interessantes para serem exploradas. O editor-chefe da Tagore comenta, por exemplo, que a editora surgiu da necessidade de produzir e-books, em 2016. “Eu acreditava que esse mercado teria um boom, o que, na verdade, está acontecendo agora, com a grande alta dos insumos”, informa.
A aposta no negócio foi exitosa e tende a se manter de forma positiva ao longo dos anos. Por meio de um levantamento realizado pela empresa Business Wire, foi indicado que o mercado de e-books deve crescer 28% no que envolve receitas, em âmbito mundial, até 2026, com alta anual média de quase 5%.
“Atualmente, o livro impresso compartilha o seu espaço com o eletrônico e o áudio. Todos são livros e, na Tagore, fazemos todos os formatos. Mas vejo que impresso tem dois pontos: prestígio e liberdade. O livro impresso, assim como o jornal, ainda é um local de liberdade de pensamento”, analisa.
Apesar da grande variedade de espaços onde é possível inserir um conteúdo, Tagore indica que há públicos definidos para cada formato. “Vejo o livro impresso para romances, contos, histórias de famílias e biografias. Livros com qualidade gráfica de excelência. Já o mundo técnico é todo digital. Do direito até a própria biblioteconomia. Tudo depende sempre de uma avaliação da perenidade do assunto”, ressalta.
“O livro impresso, assim como o jornal, ainda é um local de liberdade de pensamento”
– Victor Tagore, editor-chefe da Tagore Editora
Dados do setor
De acordo com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), em relação ao mesmo período do ano passado, fevereiro registrou queda de 12,93% em volume e 7,61% em faturamento das empresas do mercado editorial.
Segundo a entidade, a venda de 4,03 milhões de exemplares, com uma receita de R$ 194,88 milhões, não foi o suficiente para superar o desempenho do mesmo mês do ano anterior, que registrava 4,63 milhões de livros movimentados e um faturamento de R$ 210,94 milhões.
“O evidente declínio do período vem confirmar as preocupações demonstradas pelo setor com o cenário econômico. Ainda é cedo para estabelecermos uma tendência de médio prazo, mas será fundamental que o Produto Interno Bruto (PIB) apresente sinais de crescimento sustentado”, destaca Dante Cid, presidente do SNEL.
Na análise do editor-chefe da Tagore Editora, há grandes desafios no cenário atual do setor, especialmente para escritores do país. “O maior desafio para o livro brasileiro é o próprio brasileiro, que não consegue ser atraído para ler a literatura nacional”, comenta.
Para Tagore, a pandemia também trouxe déficits significativos para o segmento. O especialista observa que muitas livrarias e distribuidoras fecharam as portas. Com essa realidade, se os grandes estabelecimentos sentiram dificuldades, a situação para empresas menores também foi complexa.
“Logo, os pequenos empreendimentos, que não tinham estrutura de venda on-line, passaram por isso. No entanto, tivemos um fortalecimento de quem já era consolidado no mercado. A Amazon, por exemplo, saiu de 20% das vendas para 64%, no Brasil”, destaca.
Três perguntas para Victor Tagore, editor-chefe da Tagore Editora:
O que uma equipe editorial faz?
Revisão de texto, copidesque de texto, leitura crítica, design gráfico, design de capa do livro, ilustrações, marketing editorial, logística editorial, distribuição e venda de livros e projetos culturais.
Como é o dia a dia dentro deste mercado?
Super corrido, para quem acha que livro é coisa antiga. É, na verdade, uma loucura em cada lançamento e novo projeto. A Apple lança um telefone por ano. Nós, por outro lado, considerando as devidas proporções, lançamos 10 produtos anualmente. Além disso, cada livro tem o seu público, que precisa ser estudado, pensado e atraído para aquele conteúdo. Ainda a logística, que é uma tarefa hercúlea e burocrática, e que tem que ser travada junto aos nossos parceiros, que são as livrarias e distribuidores.
Há muitos escritores brasilienses?
Muitos e de ótima qualidade. Para fomentar esses escritores, a Tagore Editora tem um projeto, com a Livraria Leitura, que abre espaço para livros de autores locais, que se chama “Leia um autor de BSB”. Em todas as livrarias da rede, no Distrito Federal, há uma estante para a literatura de Brasília.