(Por Renata Rusky, da Revista do Correio) (fotos Zuleika de Souza e arquivo pessoal)
Originalmente, gatos são animais do deserto; portanto, têm o organismo adaptado para viver em ambientes com escassez de água. Para economizá-la, seus rins tentam expelir o máximo de toxinas no mínimo de líquido. A urina deles é mais concentrada que a nossa — tem muito mais ureia e creatinina, por exemplo.
Os problemas renais dos felinos podem ser de nascença ou por degeneração, ao longo do tempo. Segundo a veterinária Bruna Tadini, é crucial, portanto, fazer exames quando o gato nasce. Quando adulto, até cerca de 10 anos, os checapes devem ser anuais e, depois disso, semestrais. “Os problemas renais podem acontecer precocemente, com 3 ou 4 anos, mas é mais comum com o avanço da idade”, ela tranquiliza.
Não há como evitar a propensão, mas algumas medidas podem atrasar o aparecimento da doença e desacelerar a evolução dela. É importante que o animal coma ração com proteína de boa qualidade e seja incentivado a tomar muita água. “Existem até rações específicas para gatos com doenças renais”, complementa Bruna.
A advogada Gabriela Ramos Monteiro, 41 anos, já vivenciou duas experiências tristes com seus gatos. Ambos haviam sido adotados: Pikachu, em 1999, e Pretinho, no ano seguinte. Pikachu tinha muitos cálculos renais. Foram feitos diversos procedimentos para melhorar a saúde dele. No fim, acabou morrendo de insuficiência renal, aos 14 anos. Já o aparecimento da doença no Pretinho foi repentino, em dezembro de 2014, e, em três meses, já quase aos 5 anos, foi eutanasiado. “É muito ruim ver o animal definhar na sua frente: ele não quer comer e não é só por charme; ele fica sujo, e gato gostar de estar limpo; ele perde muito peso, muita massa muscular. Quando levei o Pretinho para a eutanásia, ele era uma geleia”, lamenta Gabriela.
Um dos primeiros sinais que Pikachu deu de que havia algo errado foi urinar fora da caixa. A gatinha estava com cistite e sentia dor. Na primeira vez que ela teve a cistite, o veterinário tratou apenas o problema e não investigou a causa. Depois, foi descoberto que um dos rins dela estava comprometido. Foram feitas três litotripsias (operação que consiste em despedaçar cálculos na bexiga), as quais foram essenciais para que ela engordasse e ficasse forte para aguentar o procedimento que seria feito depois de alguns meses.
A dieta de Pikachu precisava ser especial. Gabriela testou todas as rações específicas para animais com problemas renais, mas nenhuma agradou a gata. A dona precisou cozinhar para ela. O sangue dos animais com rins doentes fica intoxicado, o que faz com que tenham enjoos crônicos. Gabriela conta que, diante dessa situação, acabava dando ao animal de estimação aquilo que ele queria comer.
O tratamento de Pikachu e de Pretinho também incluía a chamada fluidoterapia. Ela é um ponto-chave no tratamento. O objetivo é repor a hidratação, equilíbrio de eletrólitos e diminuir a concentração de substâncias nocivas no organismo. O soro pode ser aplicado em casa e Gabriela assim o fazia. Em Pikachu, que estava melhor, o procedimento era feito em dias alternados. Em Pretinho, todos os dias.
É importante descobrir a doença o quanto antes. “Um gato com problema renal, normalmente, só apresenta sintomas quando 75% dos rins já estão sem funcionar”, alerta o veterinário Luciano Henrique Giovaninni. O diagnóstico precoce diminui as chances de evolução da doença e garante qualidade de vida para a mascote por mais tempo.