CBPFOT020220161432 Beatriz Raposo com seu cão Lusa. Foto Zuleika de Souza/CB/DA Press

Grama,aliada ou vilã?

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(da Revista do Correio)

 

Quem cria animais em apartamento se alegra ao vê-los brincando na área verde do prédio. É possível que o comportamento espontâneo dos pets ao ar livre tenha relação direta com seu passado ancestral, antes de serem domesticados. Nesses passeios, os tutores observam que as mascotes, volta e meia, comem grama. Segundo o veterinário Rafael Silva, a explicação para essa estranha dieta está no instinto. “Quando os bichos estão passando por algum distúrbio intestinal, comem grama pra poder vomitar ou melhorar a digestão”, afirma. A princípio, o hábito seria benéfico, já que a grama é rica em clorofila, potente anticoagulante, que ajuda na cicatrização de feridas. A vegetação teria ainda alta quantidade de fibras e vitaminas. O risco é a intoxicação por pesticidas, conhecidos principalmente por quem mora em condomínios residenciais. Rafael Silva lembra que esses produtos são tão tóxicos que até mesmo quem realiza a aplicação precisa estar protegido com roupas especiais, e, portanto, os insetos indesejados não são o único alvo. Eles não devem, contudo, ser ignorados, já que, em alguns casos, são vetores de doenças. A grama alta e sem tratamento pode abrigar desde aranhas e escorpiões até o exótico caramujo gigante africano, que transmite doenças letais, como a angiostrongilose. “Uma solução seria criar galinhas caipiras, que comem formigas e besouros, mas precisam de cuidados”, pondera o veterinário.

É possível encontrar em pet shops “graminhas” próprias para consumo animal. As sementes de aveia, sorgo, milheto e azevém germinam conforme são regadas e, após uma semana, a planta está alta o suficiente para consumo. É interessante verificar ser o animal está com alguma carência de nutrientes. Parecido com o caso de grávidas que têm desejo por tijolos devido à deficiência de ferro, cães e gatos que comem grama podem estar buscando vitaminas “roubadas” por parasitas como carrapatos. Nesses casos, somente um exame de sangue detectará eventuais anomalias.

Outro problema pode ser as alergias, que não são causadas especificamente pela grama, mas pelo pólen das plantas. Como o pólen é uma partícula minúscula, não é necessário o contato físico para a reação começar: basta estar em um local próximo para que a atmosfera e o voo dos insetos se encarreguem do transporte. A grama fica mais nociva quando está recém-cortada, pois libera pólen mais facilmente. Os sintomas iniciais são tosse e espirro persistentes, além de dificuldade de respirar.

Os sintomas na pele podem ser coceira, inchaço, vermelhidão e surgimento de pápulas, pequenas lesões semelhantes a espinhas. Nesses casos, o tutor pode tratar as lesões com uma pomada, que deve ser aplicada com a pele higienizada e seca. A medicação não pode, porém, ser administrada sem orientação médica, já que a pele ferida fica mais suscetível à ação alérgica dos próprios remédios.

Algumas raças têm predisposição genética a dermatites. De acordo com Rafael Silva, uma opção para tornar a pele mais resistente a alergias é a suplementação de ômega-3 e ômega-6, que após 20 a 30 dias começa a fazer efeito. “A maioria dos alergênicos são absorvidos pela pele, tem uma absorção transcutânea. A função da suplementação é melhorar a integridade da barreira cutânea”, afirma.

 

Relatos de donos:

 

“Minha cachorra Lusa está bem velhinha, tem 15 anos e está mais sensível com comida. Quando ela come alguma coisa que não seja ração (por exemplo, um pedaço de pão), ela passa mal. Após o vômito, ela vai ao quintal e come um pouco de grama. Não sei que relação ela faz. Talvez seja para terminar de vomitar, já que grama pode ajudar a irritar o estômago e ajudar a esvaziá-lo.”

Beatriz Raposo(foto), bióloga, 22 anos

 

“Meus gatos comem direto. A grama, o matinho e algumas plantas os ajudam a eliminar os bolinhos de pelo, que ficam acumulados no intestino.”

Domingas Lisboa, estudante, 19 anos

“Normalmente, meus cachorros não mostram muito interesse na grama. Como moro em casa, eles gostam de comer os frutos das árvores de vez em quando. Quando cai coco do vizinho, eles usam de bola. Mas, quando os vejo comerem grama, normalmente reparo que vomitam. Daí, eu aplico o vermífugo neles. Normalmente, esse comportamento para por um tempo.”