Nathalie Nobre com seu cachorro Nick Nathalie Nobre com seu cachorro Nick

Gente estranha na casa

Publicado em comportamento

(da Revista do Correio)

(Fotos Zuleika de Souza)

 

Quando um cachorro passa por situações inesperadas, ele pode tornar-se ansioso e alterar o comportamento. Nem sempre a mudança precisa ser claramente desconfortável, como o barulho de fogos de artifício. Às vezes, a simples entrada de pessoas (conhecidas ou não) na casa é suficiente para deixá-lo agitado.

O comportamentalista canino Renato Buani aponta que o melhor modo de tornar a visita um evento natural é acostumar o cachorro com muitas situações, locais e pessoas. Isso já pode ser feito por volta de 3 meses de idade, após a vacinação. Buani propõe que seja feito um trabalho de adestramento específico para visitas, de modo a diminuir a sensibilidade do animal ao barulho da campainha. Uma dessas técnicas é pedir para uma pessoa não conhecida pelo pet tocar a campainha seguidamente. A cada toque, o cão ganha um petisco. Com a prática, ele vai associar a “visita” a algo positivo.

Em situações reais, o dono pode orientar o visitante a ofertar um petisquinho tão logo cruze a porta. Para cachorros agressivos, porém, o especialista acredita ser melhor procurar ajuda profissional e, inicialmente, manter o bicho afastado dos não moradores. “O ideal é que o animal tenha um nível de restrição e, se alguém tiver interesse em interagir, pode aproximar-se”, indica.

Nathalie Nobre com seu cachorro Nick
Nathalie Nobre com seu cachorro Nick

A professora Nathalie Nobre, 39 anos, não tem problemas com o labrador Nick. Quando ele chegou à família, há quase nove anos, Nathalie morava em um apartamento com metade do tamanho do atual. O marido da professora ficou com receio de cuidar de um labrador, que pode chegar aos 60kg, mas Nathelie insistiu.”Deixei ele (Nick) em casa, tranquei as portas e saí para comprar o enxoval”, diverte-se.

A preparação para a novidade começa já quando o interfone toca. Nick fica sentado próximo à porta esperando Nathalie abri-la, para ele ir para a frente do elevador recepcionar a visita. A madrasta de Nathalie tem medo de cães, por isso é a única pessoa que recebe tratamento diferenciado. Nick fica preso até que ela se acomode. Quem não conhece o cachorro pode assustar-se com o tamanho. “Os entregadores, às vezes, se assustam e voltam para o elevador”, conta.

Já Pierre, o cãozinho da dona de casa Ana Maria Souza, 51, nem sempre consegue controlar a felicidade quando recebe alguém: ele pula nos convidados. “Ele sempre fica muito afoito, late já na escada, só depois fica quieto”, conta. Ela tem ainda uma vira-lata de sete meses, Marjorie, que se inspira em Pierre para tudo que faz. Ambos serão castrados no início de janeiro — o que, provavelmente, os deixará mais tranquilos. “Um dia, Pierre ficou sozinho e, quando cheguei, ele virou a cara pra mim, não quis almoçar”, lembra.

Segundo Buani, o hábito de pular nas pessoas é um mecanismo criado ainda na infância dos cães, quando eles sabem que vão ser recompensados com colo quando fizerem isso. Por isso, sempre que querem atenção partem para o contato físico. O problema surge quando eles crescem e não têm consciência de que cresceram, podendo machucar alguém. Para solucionar isso, é simples: basta olhar para cima ou para os lados, ignorando o pet. Se ele não encontra atenção, logo desiste.

Nathalie Nobre acredita que o bom comportamento de Nick é reflexo de uma vida social saudável. Ele tem amizade com vários cães do condomínio, recebe visita das crianças vizinhas e, periodicamente, nada na piscina. A única atitude de Nick que incomoda Nathalie talvez faça parte do instinto evolutivo dos cães: “Ele cheira o bumbum das pessoas”.