da Revista do Correio
Dizem que ter dois pets é melhor do que um, porque eles se fazem companhia e dão menos trabalho. Será mesmo?
Keyla Queioz, com as filhas Beatriz e Victoria e as mascotes Charlote e Chanel: alegria em dobro.Foto Zuleika de Souza/CB/DA Press
Sair de casa e deixar o animal de estimação sozinho pode ser um momento difícil. Dependendo da rotina do dono, isso significa um dia inteiro de isolamento. Adquirir um outro pet é uma opção para proporcionar companhia e melhorar o bem-estar dos bichos. A veterinária Gisele Cunha explica que algumas mascotes podem apresentam comportamentos ansiosos em momentos de solidão. Como exemplo, ela cita o lamber excessivo das patas, que chega a provocar lesões (a chamada dermatite acral). A destruição de objetos para chamar a atenção dos donos é também frequente. “A introdução de outro animal pode amenizar esses problemas. Os cães nasceram para conviver em grupo”, aponta Gisele. O novo membro da família precisará de um tempo para se integrar. Deixe os animais se conhecerem, sem pressa. “Quando dá errado, a culpa, geralmente, é dos humanos, que criam expectativas, geram uma tensão”, avisa a veterinária. Ela afirma que é normal existirem alguns desentendimentos. “Muitas vezes, prender o focinho e rosnar são apenas expressões de hierarquia. Sempre vai ter um que quer ser ‘chefe’.” Gisele também recomenda ter cuidado para que o pet mais velho não se sinta desprezado. “Não pode dar a impressão de que ele deixou de ser amado. Tem que continuar dando atenção exclusiva para ele em alguns momentos. Por exemplo, passeando sozinho”, recomenda. A família da dona de casa Keyle Queiroz, 39 anos, ficava apreensiva em deixar sozinha Charlote, uma shih tzu de 1 ano e meio. “Ela fazia uma cara de triste. Não sei quem ficava mais ansiosa, ela ou a gente”, descreve Keyle. Quando os pais de Charlote tiveram uma nova ninhada, a família enxergou uma oportunidade. “Não pensamos duas vezes, ficamos com uma das filhotes, a Chanel”, revela a estudante Beatriz Queiroz, 17, filha de Keyle. Ela lembra que a família até se privava um pouco de sair para não deixar Charlote isolada. Elas levavam paninhos com o cheiro da filhote para casa, a fim de que Charlote começasse a se acostumar. O resultado foi positivo: hoje, elas brincam, dormem juntas, fazem companhia uma à outra. Mas cada uma tem o seu espaço. Não dividem cama, vasilha e comida. De vez em quando, ambas visitam o restante da família. Inclusive, o aniversário de um ano da ninhada de Charlote teve direto a festa com a presença dos pais e de outras três irmãs dela. O bufê incluiu caninos. “Foi maravilhoso”, define Keyle. A próxima festa deve ser ainda maior, pois vai incluir as irmãs mais novas, da ninhada em que Chanel veio ao mundo. Além da opção de adquirir um novo amigo, o adestrador e comportamentalista canino Fernando Bosco aconselha a promover o enriquecimento ambiental: como colocar brinquedos, ossos e esconder a comida em diferentes lugares. São atividades para praticar na ausência do dono, que diminuem a ociosidade. Não é preciso gastar muito, eles se divertem com pouco. “Uma simples garrafa pet pode ser o melhor presente para um cachorro”, indica Fernando. A preocupação com espaço não é determinante, desde que haja saídas com o animal. “É preciso ter uma rotina de atividade física diária”, aponta o adestrador, que aconselha três saídas diárias — duas breves e uma mais longa, para deixar o cachorro se exercitar. Também vale se planejar financeiramente. Os gastos podem dobrar: aumenta a quantidade de vacinas, de ração etc. Segundo Fernando Bosco, os cachorros podem apresentar ansiedade quando ficam sozinhos, principalmente se o dono der “excesso de mimo”, o que deixa o animal dependente. “Eles podem ter comportamentos destrutivos, automutilação, latir muito”, enumera. “É importante tratar o animal como animal, e eles são muito bem cuidados assim. É comum a ‘humanização’ do cachorro resultar em dependência em relação ao dono”, alerta. Também não se pode exagerar nas despedidas ou no momento de retornar à casa. Aja com naturalidade. O cachorro percebe o comportamento diferente do dono e fica ansioso. A escolha do novo companheiro Especialista em comportamento canino, o adestrador Fernando Bosco recomenda adquirir animais de portes e idades compatíveis. Assim, há menos chance de eles se machucarem. “Além disso, filhotes têm muita energia”, pontua Fernando, e podem acabar incomodando um cão velhinho, que gosta de ficar quieto. O temperamento do novo morador precisa ser levado em conta. Avalie se ele é ciumento, se gosta de interagir com outros animais, se é agitado. Um profissional pode ainda realizar testes para identificar a dominância. A convivência entre dois dominantes ou dois submissos traz complicações adicionais. No primeiro caso, eles vão ter disputas e, no segundo, eles podem copiar comportamentos indevidos um do outro. “Um cão dominante ajuda a dar segurança, equilíbrio para a matilha. Dois submissos podem ser inseguros e latir muito, por exemplo”, explica Fernando. O adestrador aconselha a castrar os animais, mesmo que não seja um casal. O procedimento contribui para evitar brigas.”Não é remédio para agressividade, mas pode ajudar a diminuir. Nas fêmeas, traz estabilidade hormonal e controlar mudanças de comportamento que ocorreriam no cio”, explica Fernando. Mas não existem regras determinantes, é possível que o relacionamento dê certo apesar das diferenças. A companhia pode até ser de outra espécie, um gato, por exemplo. Nesse caso, são os felinos que “mandam” na relação. “Se o gato não se sentir à vontade, por ser uma presa, ele tende a fugir. Mas cães e gatos podem conviver em harmonia”, afirma Fernando. O vira-lata Luke se deu muito bem com dois gatinhos. Eles foram adotados pela família da servidora pública Rosana Baioco. Em janeiro, o filho mais velho dela, Estevam Silva, 25 anos, encontrou três filhotes de gato dentro de uma caixa de papelão na rua. Ele levou para o apartamento da família, que seria um lar temporário, mas virou definitivo. Eles ficaram com dois gatos, Stacey e Júnior, o terceiro foi para outra pessoa. “Acabei me apegando”, justifica Rosana. E o cachorro Luke também gostou dos novos amigos. “Eles se adaptaram; aparentam estar felizes. O Luke é muito cuidadoso com os gatos”, revela a servidora. Ela lembra que não houve tanto sucesso quando Luke teve a companhia de filhotes de cachorro, que ficaram na casa de Rosana até serem adotados. Com 11 anos, Luke prefere um ambiente tranquilo. “Ele ficou nervoso. Os filhotes ficavam em cima, perturbavam demais ele”, descreve. Rosana destaca ainda que os felinos dão pouco trabalho. “Eles mesmos se limpam e não precisam sair para passear.” Rosana recomenda que as pessoas prefiram adotar um novo pet em vez de comprá-los. “Há animais de vários portes e comportamentos para adoção. As entidades de proteção aos animais conseguem indicar a melhor opção para cada pessoa”, incentiva. Keyla Queioz, com as filhas Beatriz e Victoria e as mascotes Charlote e Chanel: alegria em dobro Dizem que ter dois pets é melhor do que um, porque eles se fazem companhia e dão menos trabalho. Será mesmo? Sair de casa e deixar o animal de estimação sozinho pode ser um momento difícil. Dependendo da rotina do dono, isso significa um dia inteiro de isolamento. Adquirir um outro pet é uma opção para proporcionar companhia e melhorar o bem-estar dos bichos. A veterinária Gisele Cunha explica que algumas mascotes podem apresentam comportamentos ansiosos em momentos de solidão. Como exemplo, ela cita o lamber excessivo das patas, que chega a provocar lesões (a chamada dermatite acral). A destruição de objetos para chamar a atenção dos donos é também frequente. “A introdução de outro animal pode amenizar esses problemas. Os cães nasceram para conviver em grupo”, aponta Gisele. O novo membro da família precisará de um tempo para se integrar. Deixe os animais se conhecerem, sem pressa. “Quando dá errado, a culpa, geralmente, é dos humanos, que criam expectativas, geram uma tensão”, avisa a veterinária. Ela afirma que é normal existirem alguns desentendimentos. “Muitas vezes, prender o focinho e rosnar são apenas expressões de hierarquia. Sempre vai ter um que quer ser ‘chefe’.” Gisele também recomenda ter cuidado para que o pet mais velho não se sinta desprezado. “Não pode dar a impressão de que ele deixou de ser amado. Tem que continuar dando atenção exclusiva para ele em alguns momentos. Por exemplo, passeando sozinho”, recomenda. A família da dona de casa Keyle Queiroz, 39 anos, ficava apreensiva em deixar sozinha Charlote, uma shih tzu de 1 ano e meio. “Ela fazia uma cara de triste. Não sei quem ficava mais ansiosa, ela ou a gente”, descreve Keyle. Quando os pais de Charlote tiveram uma nova ninhada, a família enxergou uma oportunidade. “Não pensamos duas vezes, ficamos com uma das filhotes, a Chanel”, revela a estudante Beatriz Queiroz, 17, filha de Keyle. Ela lembra que a família até se privava um pouco de sair para não deixar Charlote isolada. Elas levavam paninhos com o cheiro da filhote para casa, a fim de que Charlote começasse a se acostumar. O resultado foi positivo: hoje, elas brincam, dormem juntas, fazem companhia uma à outra. Mas cada uma tem o seu espaço. Não dividem cama, vasilha e comida. De vez em quando, ambas visitam o restante da família. Inclusive, o aniversário de um ano da ninhada de Charlote teve direto a festa com a presença dos pais e de outras três irmãs dela. O bufê incluiu caninos. “Foi maravilhoso”, define Keyle. A próxima festa deve ser ainda maior, pois vai incluir as irmãs mais novas, da ninhada em que Chanel veio ao mundo. Além da opção de adquirir um novo amigo, o adestrador e comportamentalista canino Fernando Bosco aconselha a promover o enriquecimento ambiental: como colocar brinquedos, ossos e esconder a comida em diferentes lugares. São atividades para praticar na ausência do dono, que diminuem a ociosidade. Não é preciso gastar muito, eles se divertem com pouco. “Uma simples garrafa pet pode ser o melhor presente para um cachorro”, indica Fernando. A preocupação com espaço não é determinante, desde que haja saídas com o animal. “É preciso ter uma rotina de atividade física diária”, aponta o adestrador, que aconselha três saídas diárias — duas breves e uma mais longa, para deixar o cachorro se exercitar. Também vale se planejar financeiramente. Os gastos podem dobrar: aumenta a quantidade de vacinas, de ração etc. Segundo Fernando Bosco, os cachorros podem apresentar ansiedade quando ficam sozinhos, principalmente se o dono der “excesso de mimo”, o que deixa o animal dependente. “Eles podem ter comportamentos destrutivos, automutilação, latir muito”, enumera. “É importante tratar o animal como animal, e eles são muito bem cuidados assim. É comum a ‘humanização’ do cachorro resultar em dependência em relação ao dono”, alerta. Também não se pode exagerar nas despedidas ou no momento de retornar à casa. Aja com naturalidade. O cachorro percebe o comportamento diferente do dono e fica ansioso. A escolha do novo companheiro Especialista em comportamento canino, o adestrador Fernando Bosco recomenda adquirir animais de portes e idades compatíveis. Assim, há menos chance de eles se machucarem. “Além disso, filhotes têm muita energia”, pontua Fernando, e podem acabar incomodando um cão velhinho, que gosta de ficar quieto. O temperamento do novo morador precisa ser levado em conta. Avalie se ele é ciumento, se gosta de interagir com outros animais, se é agitado. Um profissional pode ainda realizar testes para identificar a dominância. A convivência entre dois dominantes ou dois submissos traz complicações adicionais. No primeiro caso, eles vão ter disputas e, no segundo, eles podem copiar comportamentos indevidos um do outro. “Um cão dominante ajuda a dar segurança, equilíbrio para a matilha. Dois submissos podem ser inseguros e latir muito, por exemplo”, explica Fernando. O adestrador aconselha a castrar os animais, mesmo que não seja um casal. O procedimento contribui para evitar brigas.”Não é remédio para agressividade, mas pode ajudar a diminuir. Nas fêmeas, traz estabilidade hormonal e controlar mudanças de comportamento que ocorreriam no cio”, explica Fernando. Mas não existem regras determinantes, é possível que o relacionamento dê certo apesar das diferenças. A companhia pode até ser de outra espécie, um gato, por exemplo. Nesse caso, são os felinos que “mandam” na relação. “Se o gato não se sentir à vontade, por ser uma presa, ele tende a fugir. Mas cães e gatos podem conviver em harmonia”, afirma Fernando. O vira-lata Luke se deu muito bem com dois gatinhos. Eles foram adotados pela família da servidora pública Rosana Baioco. Em janeiro, o filho mais velho dela, Estevam Silva, 25 anos, encontrou três filhotes de gato dentro de uma caixa de papelão na rua. Ele levou para o apartamento da família, que seria um lar temporário, mas virou definitivo. Eles ficaram com dois gatos, Stacey e Júnior, o terceiro foi para outra pessoa. “Acabei me apegando”, justifica Rosana. E o cachorro Luke também gostou dos novos amigos. “Eles se adaptaram; aparentam estar felizes. O Luke é muito cuidadoso com os gatos”, revela a servidora. Ela lembra que não houve tanto sucesso quando Luke teve a companhia de filhotes de cachorro, que ficaram na casa de Rosana até serem adotados. Com 11 anos, Luke prefere um ambiente tranquilo. “Ele ficou nervoso. Os filhotes ficavam em cima, perturbavam demais ele”, descreve. Rosana destaca ainda que os felinos dão pouco trabalho. “Eles mesmos se limpam e não precisam sair para passear.” Rosana recomenda que as pessoas prefiram adotar um novo pet em vez de comprá-los. “Há animais de vários portes e comportamentos para adoção. As entidades de proteção aos animais conseguem indicar a melhor opção para cada pessoa”, incentiva.