(da Revista do Correio)
A gestação é um momento mágico para todas as espécies. Também no caso dos animais, existem uma série de cuidados que devem ser tomados antes, durante e após o parto. A gravidez pode simplesmente acontecer em um descuido do dono ou em meio à afobação instintiva dos bichos. Mas pode ser planejada. Nesse caso, a primeira coisa que se deve levar em conta é o período de cio das fêmeas.
O cio das cadelas ocorre semestralmente e dura cerca de 15 dias, sendo que, nos 10 primeiros dias, o animal apresenta o sangramento. Assim que o sangue para de sair, inicia-se o período fértil. Então, o tempo de gestação dura por volta de 60 dias e a quantidade de filhotes varia de acordo com o porte do cachorro. Raças grandes, como pastor alemão, rottweiler e são bernardo, têm, em média, oito filhotes. Já as raças pequenas, como chihuahua, pinscher e yorkshire, têm cerca de dois filhotes.
A anatomia das gatas funciona de forma diferente. O cio delas ocorre, normalmente, a cada trimestre e dura entre quatro e sete dias. Para identificar se ela está nesse período, repare o comportamento da felina. Elas não apresentam sangramento, mas passam a miar muito e a se esfregar no chão, nos móveis e nas pessoas. A quantidade de filhotes varia de acordo com questões genéticas, como o tamanho da raça e outros fatores, mas elas tendem a ter de dois a 12 filhotes em uma única ninhada. A gestação dura por volta de 65 dias.
Quando a fêmea está prenha, deve-se ficar atento à saúde da mamãe. Rafael Silva, veterinário da Clínica Veterinária Dom Bosco, conta que o ideal é que a primeira cria nasça entre 1 ano e meio e 2 anos do animal. Nessa idade, a fêmea está mais madura e com o instinto materno desenvolvido. “Durante a gestação, é importante não deixar de fazer a ecografia abdominal para ter certeza de que os filhotes estão vivos. O exame ainda é determinante para saber se o parto será normal ou cesariano”, acrescenta o profissional.
Tanto as cadelas quanto as gatas devem esperar o intervalo de, pelo menos, um cio para ter nova ninhada. Essa folga é necessária para a plena recuperação da forma física do animal e para não comprometer a saúde reprodutiva da mãe. No intervalo entre uma gestação e outra, as mamas costumam voltar ao tamanho normal. Quando não se respeita essa regra, a chance de infecção mamária aumenta. Além disso, o peso e a condição nutricional da fêmea devem ser alvo de atenção especial no período pós-parto.
A ideia de planejar o cruzamento com o macho é justamente dar maior amparo ao animal. Também é uma maneira de evitar uma gravidez indesejada e o consequente descaso com os filhotes que chegaram sem avisar. Orcilene Arruda, diretora do abrigo Flora e Fauna, conta a história de Emma, uma cadelinha de aproximadamente 2 anos que foi resgatada nas ruas com dois filhotinhos. “De tanto cruzar e parir nas ruas, ela acabou tendo tumores venéreos e mamários. Mesmo resgatados, infelizmente, os filhotinhos não resistiram”, lamenta. Apesar da trajetória triste, a cadela recebeu tratamento, foi castrada e está saudável.
Mas, ao contrário de Emma, nem todas as cadelas que vivem nas ruas têm a mesma sorte. “A história dessas mãezinhas de rua é sempre muito triste. Elas fazem de tudo para tentar encontrar um lugar seguro para parir e proteger seus filhotes. O instinto materno é realmente forte, mas as condições, na enorme maioria das vezes, não são nada favoráveis”, acrescenta Orcilene.
Ainda tem a história de uma gatinha abandonada recentemente perto do abrigo, com quatro filhotes — dois deles de aproximadamente 45 dias, enquanto os outros têm por volta de 6 meses. “Eles foram deixados dentro de uma sacola. Um caso bem triste de abandono. Como a idade dos filhotes não era a mesma, cremos que eles são de duas crias diferentes”, conta a diretora da instituição. O abrigo resgatou a família e garante que todos vivem bem. Os filhotinhos menores já foram encaminhados para adoção. A gatinha mãe e os filhotes mais velhos serão castrados e, então, também poderão ganhar um novo lar.
Mas as bichinhas são danadas e, mesmo sob vigilância cerrada dos cuidadores, podem aprontar. É o caso da cadelinha Penélope, de 5 anos, da raça shih tzu. A dona dela, Stael Gonçalves, conta que ela fugiu de casa e ficou ausente por aproximadamente uma hora. Foi tempo suficiente para que, depois de alguns dias, a aposentada descobrisse a gestação da mascote. A parte surpreendente é que, na hora que os cinco filhotes nasceram, Stael percebeu que eles eram da mesma raça que Penélope. Não se sabe ao certo quem é o pai da ninhada, mas, coincidentemente, a cadela escolheu o par perfeito.
Porém, se seu desejo não for cruzar o bichinho, a melhor opção sempre será a castração. O processo traz uma série de benefícios para os animais de estimação e para a sociedade, como a prevenção de doenças e a contribuição para reduzir a quantidade de ninhadas indesejadas e, consequentemente, o potencial abandono de animais.