Congresso discute nutrição animal no DF

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Entre outros temas, congresso da Anclivepa discute, em Brasília, a obesidade de cães e gatos. Estudo internacional aponta que aproximadamente 59% dos cachorros e 52% dos felinos estão acima do peso: os principais fatores para isso são a oferta de alimentos e petiscos em excesso e o sedentarismo

Crédito: Reprodução
Brasília será palco, entre 16 e 18  de maio, de um dos maiores congressos científicos na área de veterinária, o Congresso Brasileiro da Anclivepa. Temas como endocrinologia e dermatologia — que estão entre as principais causas das visitas aos consultórios — serão amplamente discutidos, além de cardiologia, odontologia, leishmaniose e medicina de felinos, entre outros.
Um dos assuntos que também terão espaço no encontro, que reúne veterinários de todo o país, com apresentação de trabalhos científicos, é a obesidade dos animais domésticos, um problema que vem crescendo assustadoramente, com consequências negativas para a saúde dos melhores amigos.
O blog conversou com a médica veterinária Larissa Lima, da Royal Canin, empresa de nutrição animal que estará no evento com a palestra “Como a alimentação pode contribuir para a longevidade dos nossos melhores amigos”. Confira:

1) O que mudou nas últimas décadas em relação à nutrição dos animais domésticos?

A relação entre os animais de estimação e o ser humano está estabelecida há séculos. O que permite sugerir que a alimentação dos gatos e cães também passou por um processo de evolução visível nas últimas décadas. Muitos pets ainda eram alimentados com restos de comida de seus tutores, na década de oitenta, e poucos alimentos específicos para estas espécies existiam no Brasil. Com o aumento do foco na saúde do gato e do cão, novos alimentos mais completos, nutricionalmente balanceados e com grande variedade surgiram no mercado.

Hoje, o pet pode se beneficiar de uma gama de produtos alimentícios que focam na precisão nutricional e fornecem benefícios diretos à saúde.  Além de manter o gato e o cão saudáve,l ainda existem alimentos que irão auxiliar no tratamento clínico de algumas doenças, como a obesidade por exemplo. Nesta nova realidade também ressaltamos o fornecimento excessivo de alimentos e petiscos para gatos e cães, colaborando para o ganho excessivo de peso e causando um desbalanço nutricional.

Por isso, a alimentação do pet, seja ela industrializada ou caseira, deve sempre conter alimentos completos e nutricionalmente balanceados, além de apresentar controle de qualidade e segurança alimentar, sempre sob recomendação de um médico-veterinário.

2) Muitos pets estão ficando obesos. O que contribui para isso?

Assim como no mundo, a obesidade no Brasil é um problema de saúde pública. Nos últimos 10 anos, o excesso de peso cresceu cerca de 60%, segundo dados do Ministério da Saúde. Isso significa que uma em cada cinco pessoas no país está acima do peso, o que especialistas atribuem a mudanças de estilo de vida, sedentarismo, dieta irregular e stress. E o estilo de vida dos tutores pode estar diretamente relacionado ao estilo de vida dos seus animais de estimação.

Estudos comprovam que, no mundo, aproximadamente 59% dos cães e 52% dos gatos estão acima do peso. Os principais fatores para isso são a oferta de alimentos e petiscos em excesso e a falta de exercício físico adequado.

Mas por que os tutores acabam contribuindo para isso, mesmo quando têm boas intenções? Os dados a seguir ajudam a contextualizar:

  • Cerca de 54% dos tutores de gatos e cães cede aos apelos dos pets e oferece mais alimento quando eles “pedem”
  • A utilização de medidas caseiras (como copos ou xícaras) pode exceder a quantidade de alimento fornecido ao gato ou cão em até 80% do recomendado.
  • Um único cubo de queijo cheddar para um animal de cerca de 4kg representa 25% do seu requerimento energético diário. Isso equivale a um hambúrguer de 500 kcal para uma pessoa numa dieta de 2000 kcal/dia.

Além disso, na maioria das vezes o sobrepeso passa despercebido pelo tutor: um estudo realizado em clínicas e hospitais veterinários na Inglaterra identificou que 66% dos tutores não reconheciam a obesidade e sobrepeso quando presentes no gato e cão.

3) Como identificar se o animal está acima do peso?

Primeiro é importante diferenciar a obesidade do sobrepeso. Tanto gatos quanto cães são considerados obesos quando apresentam > 30% ou mais de excesso de peso corporal. Quando o animal apresenta entre 10-30% de excesso de peso, encontra-se em sobrepeso.

Existe um teste simples que auxilia no diagnóstico da obesidade. É possível entender quando o gato ou cão está fora do peso quando não é possível sentir as costelas dele ao apalpá-lo, mesmo aplicando uma certa pressão com as mãos. Em alguns casos, apenas com o contato visual em uma determinada posição já é possível identificar o sobrepeso: gatos e cães devem apresentar uma “cintura” mais fina do que o peitoral, conforme imagens abaixo. Mas é muito importante conscientizar os tutores sobre a importância do acompanhamento de um médico-veterinário, que é o profissional ideal para prevenir, diagnosticar e tratar este problema.

4) Quais são as principais consequências da obesidade nos pets?

A obesidade pode reduzir o tempo de vida dos gatos e cães, em média, em 2 anos. Além disso, a maioria dos animais de estimação obesos apresenta outras doenças concomitantes. A obesidade é considerada o principal fator de risco para doenças ortopédicas em animais de companhia. Além disso, o excesso de peso e o aumento do tecido adiposo resultam em dificuldades respiratórias, principalmente em animais de focinho achatado, chamados de braquicefálicos.

4) De que forma a alimentação equilibrada ajuda a aumentar a longevidade dos animais?

A nutrição adequada é fundamental para a saúde e bem-estar dos pets e fator chave para o controle de peso. Esse cuidado deve começar cedo, já que a alimentação durante o primeiro ano de vida influencia a condição corporal do animal quando adulto – filhotes de gatos e cães acima do peso apresentam maior risco de se tornarem adultos obesos ou com sobrepeso.

É importante oferecer uma nutrição completa e balanceada e respeitar as quantidades ideais para cada pet – elas aparecem indicadas nas embalagens dos alimentos, ou podem ser prescritas pelo médico-veterinário. Além disso, o tutor deve regular a quantidade de petisco oferecida, para não ultrapassar as calorias que o pet necessita, e estar atento à fase de vida do pet. Gatos, por exemplo, têm grandes benefícios na castração, mas também algumas mudanças metabólicas, que requerem uma adaptação na alimentação para evitar ganho de peso.

Já existem alimentos que contribuem para o controle e a perda de peso. Eles apresentam maior teor de proteínas e fibras e croquetes adaptados, gerando uma maior sensação de saciedade. Alimentos úmidos também podem servir de ferramenta no protocolo de perda de peso do gato ou cão, por conta do maior teor de água, que contribui para a diluição calórica e para a menor ingestão energética pelo animal.

Paloma Oliveto

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