Empresas de Brasília facilitam a vida dos tutores que optam pela alimentação natural e fazem marmitas congeladas sem produtos químicos
POR MARINA ADORNO, ESPECIAL PARA A REVISTA DO CORREIO
Quem tem animal de estimação se preocupa cada vez mais com a saúde do seu pet. Recentemente, um tema que provoca debate e desassossego entre os tutores é a alimentação oferecida aos cães e gatos. Refeições balanceadas, personalizadas e preparadas da mesma forma e com alimentos que também fazem parte da dieta humana surgiram como uma alternativa para substituir as rações industrializadas.
O número de adeptos ao cardápio mais natural está crescendo em Brasília. Para os que se preocupam com a saúde dos animais mas não têm tempo de planejar e preparar cada refeição, não é já existem na cidade opções de empresas que fornecem comidas prontas e congeladas. É só descongelar e servir ao pet.
Kleber Felizola formou-se em veterinária 32 anos atrás e, há quatro, decidiu mudar a rotina dos seus cães e preparar para eles uma comida livre de conservantes. Ele tem um canil e, na época, criava 40 buldogues ingleses. Rapidamente, percebeu os benefícios da troca de cardápio. “Ficava triste ao vê-los comendo ração. Então, procurei outra opção e comecei a estudar mais sobre a alimentação natural”, conta.
Os clientes do canil percebiam a diferença nos cachorros cuidados por Kleber e começaram a perguntar do que eles se alimentavam. “Muitos tinham o interesse de oferecer uma comida mais saudável para o pets, mas não tinham tempo para prepará-la”, relembra o especialista em nutrologia veterinária. Diante dessa demanda, o veterinário abriu uma empresa especializada na comercialização de refeições naturais congeladas para cães e gatos. Foi assim que, há aproximadamente dois anos, surgiu a Pets Kitchen. O processo é simples: uma equipe faz a análise do animal e, de acordo com o peso, a raça e a idade, elabora um cardápio personalizado, que leva em consideração o quanto ele vai comer por dia e por mês.
Uma preocupação recorrente quando o assunto é a alimentação natural é o custo. A impressão geral é de que esse tipo de tratamento é muito mais caro e inacessível para muitas pessoas. Kleber esclarece que o que gasto com esse tipo de refeição para um cachorro de até 10kg é muito próximo ao valor de ração premium. Entretanto, o especialista destaca um outro aspecto que não é levado em consideração na maioria das vezes: “Se você fizer uma comparação de gastos entre os dois grupos desde o nascimento, vai observar que o dono do cão alimentado de maneira mais saudável gastou menos com veterinários e remédios. Além disso, esse animal vive, em média, dois anos a mais. O custo-benefício compensa”.
Para o veterinário, a vantagem da ração é apenas a praticidade. Já a ideia da alimentação natural é tirar da dieta do animal tudo aquilo que agride o organismo e oferecer o alimento mais parecido com o que ele comeria se estivesse solto na natureza. Na lista, tem ingredientes como legumes, carnes, miúdos, arroz, aveia e até linhaça. A diferença para a comida que o dono serve no próprio prato está no balanceamento (as quantidades certas de cada nutriente, indicadas para cada pet) e também nos temperos, já que é condimentada de forma suave, com pouco sal e azeite. O alho, por exemplo, pode ser usado em doses reduzidas e a cebola deve ser abolida de vez — ambos podem causar anemia hemolítica, complicação que destrói as hemácias do animal. Além disso, segundo Kleber, nas dietas industrializadas existe um excesso de carboidrato. E os grãos, como milho, arroz e soja, na grande maioria dos casos, são transgênicos. Sem falar que mais de 50% da população canina e felina são obesos e o carboidrato contribui isso. “Pelo convívio com o homem, os cães se adaptaram ao consumo de carboidratos e aprenderam a digeri-los. Porém, temos que nos lembrar de que eles são lobinhos”, defende o especialista.
A empresária Thaís Souza descobriu essa nova possibilidade de cardápio de forma quase acidental. Ela procurou itens para fazer uma festa de aniversário para Léo, um de seus schnauzer miniatura. Como não encontrou nada que a interessasse,decidiu produzi-los por conta própria.“Fiz a festa dele e depois recebi alguns pedidos de amigos”, lembra. Até que, em outubro de 2013, ela criou a Théo & Léo. Durante o primeiro ano, o foco da empresa eram os produtos para festas de aniversários, mas,rapidamente, percebeu que poderia expandir os negócios com uma linha de petiscos naturais, sorvetes e marmitas personalizadas sob encomenda. O seu outro schnauzer, Théo, foi a cobaia escolhida para experimentar as refeições naturais preparadas por ela.
O cachorro, que sempre foi muito saudável, se adaptou rapidamente ao novo cardápio e ela percebeu os benefícios em 15 dias. “Ele ganhou massa muscular, ficou mais disposto, e o pelo, mais brilhante”, relata. Quando ela descobriu que Léo tinha epilepsia, também mudou a alimentação dele e hoje não tem nenhum gasto com medicamentos. “Consegui controlar as crises convulsivas apenas com alimentação natural e com as mudanças para deixar o ambiente menos estressante”, acrescenta. Segundo Thaís, para animais com problemas de saúde vale muito a pena fazer o investimento. No início deste ano, a Théo & Léo anunciou uma parceria com a marca AuAu Natural. Agora, além das marmitas feitas de maneira personalizada,é possível comprar a comida congelada em pontos de venda espalhados na cidade. “Temos a opção de picadinho de carne e escondidinho de frango”, recomenda. Para aqueles que não fizeram a transição completa, servir refeições naturais duas ou três vezes na semana funciona como um detox para os animais.“É importante que os tutores não arrisquem uma dieta por conta própria se o pet tem algum problema de saúde”, adverte. Thaís destaca que o mercado de comidas para pets está em processo de mudança.“Apesar da crise, existe uma busca até por rações de maior qualidade. Quanto mais colorida a ração, mais corante ela tem e isso não faz bem para o animal. As grandes marcas estão percebendo isso e se adaptando.
Polêmica
No começo de abril, o polêmico documentário Pet Fooled foi adicionado ao catálogo do Netflix Brasil. Durante os 70 minutos de filme, dois veterinários investigam o funcionamento interno da indústria de alimentos para animais de estimação e reforçam o impacto negativo desses produtos na saúde dos bichos.