Preocupados com a saúde e o controle da natalidade dos animais resgatados das ruas, veterinários criam projeto de castração. A parceria é feita com quem recolhe cães e gatos abandonados. Juntos, cuidam dos bichos antes de doá-los
Há quem retire cães e gatos abandonados e esquecidos nas ruas para buscar um lar que os acolham. São membros de organizações não governamentais e protetores independentes espalhados pela cidade que se dedicam ao trabalho de proteção animal. Mas, antes de encontrar um novo dono para eles, é preciso cuidar da saúde e fazer o controle da natalidade desses animais. Para reforçar esse time de resgate, médicos veterinários se voluntariam para ações de parceria com essas Ongs. Eles oferecem serviços de castração de cães e gatos, a preço mais baixo, além de conscientizarem quem resgata esses bichos.
Com isso, há mais ou menos um ano, nasceu o Projeto C.O.R.J.A — sigla que significa Castração Organizada, Responsável, Justa e Acessível. A iniciativa surgiu a partir da união de 40 médicos veterinários que, com o Hospital Veterinário da UPIS, fazem um mutirão de castração. Cães e gatos recebem atendimento de qualidade no pré-operatório, como avaliação médica veterinária, eletrocardiograma, exames de sangue e ultrassonografia. Já os tutores ganham doações de vermífugos, repelentes contra pulgas e carrapatos, além de orientações e conhecimento sobre o bem-estar dos animais.
A ideia é de que as Ongs e os protetores independentes façam doações conscientes. Ou seja, eles precisam entregar os animais castrados e bem cuidados aos novos tutores, e o projeto auxilia esse processo ao oferecer um tratamento de nível alto. “O objetivo da campanha é, sobretudo, melhorar a qualidade de vida dos animais. O controle de natalidade é um passo. Nós fazemos uma avaliação bem criteriosa e um pós-operatório bem delicado, a fim de obter sucesso em cada ato cirúrgico”, detalha o médico veterinário e professor universitário Rômulo Vitelli Rocha Peixoto, também coordenador do projeto.
Rômulo conta que o projeto foi o primeiro a ser aprovado pelo Conselho Regional Medicina Veterinária do Distrito Federal (CRMV-DF) por conseguir as exigências para esse tipo de ação. “Nós temos o ofício autorizado pelo órgão. Dentre aos vários projetos de castração que existe aqui, somos os únicos a ter conquistado tal feito. E isso é muito bom para a continuação do nosso trabalho.”
A educadora física Ana Lúcia Vieira é voluntária da Ong Projeto Adoção São Francisco, que resgata animais de rua vítimas de maus-tratos. Em março deste ano, a instituição levou nove animais (sete cães e dois gatos) para a última edição do Projeto C.O.R.J.A. Segundo ela, castrar é um ato de amor e de responsabilidade, pois, além de evitar a superpopulação de animais abandonados, também traz benefícios, como a diminuição do risco de câncer de mama e de infecção uterina nas fêmeas. No caso dos machos, diminui o risco de câncer de próstata. “Fiquei sabendo do mutirão de castração por meio de veterinários parceiros da nossa organização. Todos os animais que doamos são castrados”, conta Ana Lúcia.
Sobre o trabalho oferecido por esses profissionais, Ana Lúcia só tem elogios. “Nos deram um tratamento cinco estrelas e, acima de tudo, trataram os cães e gatos com muito respeito, profissionalismo e amor”, emociona-se. “Fomos agraciados com uma excelente palestra para esclarecer temas como castração responsável, zoonoses, doenças sexualmente transmissível, cuidados com higiene animal e cuidados pós-operatório.”
Antes da cirurgia, o animal recebe uma anestesia que o manterá dormindo. “Inicialmente, é feita uma medicação por meio de injeção na veia para sedar o animal, mas, a anestesia é inalatória”, explica o veterinário Rômulo. Depois, um pequeno tubo de plástico é inserido no canal respiratório do paciente. No macho, a incisão é feita alguns centímetros acima do escroto, onde é feita a remoção dos testículos. Na castração da fêmea, a incisão é feita no abdômen para retirar os ovários e o útero. Todo o esforço será feito para manter o animal saudável. Quando a cirurgia acaba, ele é monitorado em uma área de recuperação até que acorde e esteja bem para ser liberado.
Saiba mais
Os médicos veterinários voluntários do C.O.R.J.A não cobram pela mão de obra da castração. Porém, há um custo do procedimento. Os preços são acessíveis, bem abaixo do mercado e o valor cobrado é usado para a compra dos materiais usados na cirurgia e para os gastos de manutenção do projeto.