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Quando começa o amor

“Toda história de amor é uma história de sofrimento em potencial. Se não a princípio, então depois. Se não para um, então para o outro. Às vezes para ambos. Então por que nos constantemente desejamos amar? Porque o amor é o lugar onde a verdade e magia se encontram.” A frase é do escritor inglês Julian Barnes. Tirei de um trecho do livro, de autoria do mesmo, Altos voos e quedas livres. Pode soar pesada. Meio baixo-astral, até. Mas compartilho o pensamento. Tudo que começa, acaba.

Não quero ser acusada de pessimista. Cada amor tem um roteiro particular e um the end exclusivo: pode ser na linha do “juntos para sempre” ou do “eterno enquanto durar.” Não importa. Quero saber mesmo é de como se dão os encontros. É que o cupido às vezes capricha nos efeitos especiais.

Tenho uma amiga que conheceu o novo marido quando estava superando o fim de outro casamento. Ele também acertava o compasso do coração desalinhado pelo relacionamento ruim com a ex-mulher. Unidos na mesma sala de terapia em grupo para recém-descasados, aprenderiam a ser solteiros novamente. Então, vem o danado do amor. Em menos de três meses, já estavam comprometidos novamente. Um com o outro.

Não existem fórmulas. Conheço quem se casou com o melhor amigo gay. Adoravam os companheiros que eram e se apaixonaram pelos amantes que seriam. Acompanhei romance iniciado em xepa de festa. Um ia embora, convencido de que não tinha esbarrado com um novo amor. O outro estava lá, igualmente sozinho, não tivesse acompanhado de uma garrafa de bebida. Olharam-se. Engataram conversa. O segundo homem não ofereceu um gole de álcool. Preferiu ceder os beijos.

Tem os quase-romances. Não fosse a aliança de casado no dedo dele, outra personagem das comédias românticas da vida poderia estar comprometida e apaixonada. Esbaforida, ela corre para alcançar o avião na última chamada. Coloca a mala no bagageiro e, tão atarantada, nem percebe que a bolsa se abre e dali cai uma calcinha. Foi parar bem no colo do moço bonito, de olhos verdes concentrados em algum título de Platão. Só se deu conta da trapalhada quando ele entrega a lingerie para ela. Ela não conteve o sorriso; ele, a vontade de pedir o telefone dela. O convite veio, mas não a confirmação. O moço era casado e isso já era motivo suficiente para pôr fim na história de amor que ainda nem tinha começado.

Se essa não deu certo, tenho fé de que uma outra ganhe novos capítulos. Uma conhecida anda atordoada pelo forró insistente que toca em um novo bar, ao lado de sua casa. Até que ela descobriu o celular do dono. A primeira providência foi mandar por mensagem a indignação. Ao contrário do que ela esperava, ele respondeu educadamente. Pediu desculpas e abaixou o som.

Nunca se viram, mas a conversa segue por semanas. Ela, sempre revoltada com a festa. Ele, atencioso. Já a convidou para tomar um chope. Dia desses, mandou o novo número de telefone caso ela precise esbravejar. A polidez dele só aumenta a raiva dela. Eu já tenho uma aposta. Acho que esse ensaio de arranca-rabo pode ser apenas artimanha do tal cupido. Sou capaz de arriscar que, no prazo de alguns meses, essa minha amiga pode estar saracoteando nos braços do empresário barulhento e até ensaiando uns passinhos de arrasta-pé.

Flávia Duarte

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Flávia Duarte

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