Até nunca mais

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Não aconteceu comigo. Ainda, receio. Por isso, compartilho a indignação. Não conheço a moça em questão, mas sim quem convive com ela. Contaram que escondia seus desejos atrás das camadas de gordura em excesso no seu corpo. Até que chegou o dia de se livrar da adiposa cortina de proteção.

Fez uma cirurgia que lhe cortou um naco do estômago e a obrigou a diminuir a fome, além do peso. O novo corpo, porém, só aumentou as ganas de ser amada. Volta e meia saía com um rapaz, personagem de alguma história infrutífera.

Até que o conheceu. Mensagens diárias de conteúdo carinhoso só reforçavam a suspeita de que ele estava interessado. Ela, feliz, retribuía. Saíam para o cinema e para jantar. Ela entendia, então, que ele não queria só sexo. Bom sinal. Talvez o amor tivesse chegado.

Um dia, ele simplesmente não respondeu mais as mensagens dela. Foi caguetado pelo “check” marcado em azul da mensagem visualizada. Fez questão de ler e mostrar que simplesmente não queria responder. Foi embora, sem anúncio, sem dizer tchau.

A moça entrou em descompasso. Desconfio que nem pôde descontar as frustrações na panela de brigadeiro quente, já que, para isso, lhe fazia o pedaço descartado do estômago.

Vítima do desequilíbrio emocional alheio, se perguntou que culpa ela teria. Nenhuma, minha querida. Não há desculpa para alguém sair da sua vida sem despedida. Que bata a porta, berre e diga que não volte nunca mais. Que chore, lamente, dê beijos para aliviar a culpa, mas diga adeus.

A tecnologia facilitou as despedidas covardes. As pessoas só deletam, bloqueiam e somem. Sem explicações, sem empatia. Nenhuma justificativa me faria entender tal comportamento. Fico tentando imaginar como fazia essa gente medrosa antes do escudo das telas de telefones e computadores.

Me lembrei, então, de uma conversa com um amigo: ele me contou que, quando o telefone fixo era uma das poucas maneiras de manter um contato apaixonado, sua mãe nunca era sua aliada quando moça já desinteressante, mas ainda interessada, ligava e ele não queria atender. “Diga que não estou”, implorava.

A mãe, porém, não cedia. Só lhe entregava o fone e dizia: se ele não quisesse mais, que avisasse à menina. Se ele aprendeu, não me arrisco a dizer, mas o que essa mulher tentava ensiná-lo era justamente o que muitos não sabem fazer: ter a coragem de acabar uma história com a mesma bravura de quem se entrega à perigosa e incerta aventura do início de um romance.

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