Ministra do STF sofre assédio moral
Escrevo este para ETs que estão chegando recentemente ao planeta, ou à Terra Brasilis, e ainda não deu tempo de procurarem saber o que é machismo, o que é misoginia, ou o que são as covardias e violências de machopatas ou machofascistas dos trópicos latinos. De resto, acredito que qualquer ser extraterrestre que tenha baixado por aqui, nas últimas duas ou três semanas, já saiba o que é (extrema, centro) direita ou o que é (extrema, centro) esquerda. O que é um ser fascistoide que ladra, tipo os bolsominions. Ou quem é o Lula (ser humano) e todo o seu processo penal – político, midiático e judicial – que ocupa todas as redes sociais e as mídias brasileiras.
Devem já saber até sobre as interferências de seres “religiosos”, que se autodenominam “do bem”, nos Três Poderes da república destas Américas. O que talvez ainda não saibam é sobre o conceito de machismo doentio que mata, derruba, ameaça, bate, espanca e cerceia as mulheres terrestres. Poderosas ou não, cidadãs comuns ou presidentas, ministras, parlamentares, ou quem quer que elas sejam ou desejem ser. Não devem saber sobre o ódio e as demonstrações de poder dos machos contra elas, maioria entre os habitantes desta Terra. Pois é. Então, dou aqui umas dicas, cidadãos e cidadãs do além-Terra.
Os machopatas já ajudaram a derrubar uma presidenta (re)eleita no Brasil, Dilma Rousseff (PT). E mataram uma vereadora (preta e pobre) eleita com quase 50 mil votos na cidade do Rio de Janeiro: Marielle Franco (PSOL). Manipularam toda a retórica, as imagens e as simbologias possíveis para desqualificar, minar a crença, e a imagem da mulher. Enfraquecê-la. No caso da presidenta, torná-la “histérica”, “incompetente”, “alucinada”, “puta”, “vaca”, “sapatona”, ou “mal-amada”. Enfim, todos os estereótipos disponíveis no dicionário do machismo patriarcal, que ainda neste 3º Milênio domina a maior parte territorial do planeta.
Só não a alcunharam (a presidenta) como ladra mequetrefe porque sabiam ser impossível comprová-lo. Entretanto, tentaram, nas últimas duas semanas, assim desqualificar a vereadora que dava voz às favelas do Rio, e foi vítima de atentado com múltiplas balas na cabeça. Em seu caso, também adicionaram as toneladas de racismo e elitismo deste país. Ambas mulheres foram mira, alvos fáceis para o ódio machista, para a misoginia que impera na sociedade de “pessoas de bem”.
Nesses últimos dias, o mesmo machismo misógino, ou machofascismo, é usado para intimidar, achincalhar e ameaçar uma ministra da Suprema Corte do Brasil. Ou seja, agora mexem também com o Poder Judiciário. A senhora Rosa Weber, uma mulher discreta, que parece não se desgastar nem tampouco deslumbrar-se com os holofotes das mídias de massa ou das redes sociais. Acreditem, senhoras e senhores ETs, há apenas duas mulheres e outros nove ministros homens nessa Corte. Mas, são elas os alvos dos assédios morais e psicológicos, das pressões, por razões distintas.
De 11 magistrados/as, no mínimo seis, talvez sete, ou nenhuma das alternativas anteriores, devem votar o Habeas Corpus (HC) do ex-presidente Lula, nesta quarta-feira (4), de acordo com o artigo constitucional nº 5 que estabelece ser o réu ou a ré presumivelmente inocente, ou não sujeito/a à prisão, até que se esgotem seus recursos nos tribunais superiores. Aliás, é cláusula pétrea este artigo. A prisão provisória só poderia ser efetivada em casos específicos como o flagrante ou o preventivo. Não é o caso do ser humano, cidadão, em questão.
Acontece que o STF vai e volta em suas atribuições, como se pudesse brincar de Poder Legislativo e legislar ou mudar as leis. A Suprema Corte é a guardiã da Constituição Federal. Aí, agora há o pedaço do país, bem feroz e altivo, em sua maioria formado por machistas daquelas elites que não querem perder o poder, conquistado a duros golpes contra outra figura (gênero feminino), a Democracia, que ameaça e assedia adivinha quem na Corte cheia de homens?
Sim. A mulher. A ministra que pode votar contra tais anseios. A advogada e magistrada constitucionalista que já deixou claro seu voto em debates bem anteriores e na decisão do próprio Supremo Tribunal sobre a mesma matéria, em 2016. Ela e outros ministros já o fizeram. Talvez haja mais um. Ou não. Não importa. O que faz a diferença aqui é que todos cobram o voto da ministra mulher. Como se já estivessem acostumados, e estão – os machopatas de plantão, a encurralar e a exigir da mulher que faça o que eles querem e bem entendem. Ao seu bel-prazer. Isso é o machofascismo, senhoras e senhores, ETs ou não.
E estamos a verificar, cada vez mais, ou como sempre foi, que a machopatia não é “privilégio” da (extrema) direita, ou dos nazi-fascistas. Há os esquerdomachos, como bem conhecemos, nós mulheres feministas. O mesmo discurso machista das direitas (nas mídias, nas redes sociais etc), vemos ser reproduzido pelas mídias “de esquerda”. Também “naturalizam” a pressão sobre a(s) ministra(s) do STF.
O machismo é tão entranhado, que esta sociedade acredita ser natural o assédio (moral e psicológico) e a culpa recaírem sobre a única ministra mulher que pode votar a favor de um HC pela liberdade provisória do Lula, ex-presidente. A presidenta da Corte, ministra Cármen Lúcia, caso vote, deverá ser contra o HC. Ela sofre o assédio moral às avessas. Ou seja, foi pressionada a manter posição política e não colocar em pauta no plenário do STF a análise das liminares concedidas às Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC) 43 e 44 pela legitimidade constitucional, ou não, e condicionar o início do cumprimento da pena de prisão ao trânsito em julgado (nas cortes superiores). A matéria foi liberada pelo ministro Marco Aurélio Mello, para ir a plenário, desde dezembro passado.
Enfim, sobre o resto dessa história, até mesmo recém-desembarcados nestas paragens já podem antecipar a guerrilha. Já podem prever que culpas serão flechadas nas mulheres da Suprema Corte. Seja de um lado seja de outro. Tentarão mudar a consciência e a convicção dessa Rosa. E a Cármen seguirá pressionada pelos holofotes do machismo midiático. Os nove machos da Corte podem dormir tranquilos. Eventualmente, sofrem e sofrerão uma achincalhada em restaurantes, bares ou nos aviões. Chamam a polícia e são prontamente atendidos. Seus votos são respeitados e acatados, sejam odiosos ou sensatos. Ninguém os persegue para “fazer a cabeça”. Isso é para “mulherzinha fraquinha”.
Tragam o meteoro, ETs da salvação!