Estrela do UFC Brasília, a lutadora Amanda Ribas fala ao Elas no Ataque sobre os dramas que viveu até chegar à terceira vitória no UFC. Bem humorada, a mineira de Varginha, Minas Gerais, também comenta sobre a fama que ganhou dentro da organização pela beleza e diz que pretende inspirar muitas meninas a quebrar preconceito nas lutas. “A força está na cabeça, na técnica. É possível impor respeito com uma unha rosa enquanto dá um mata leão”, prega, com bom humor, a campeãdo peso-palha (até 52,2Kg) do UFC Brasília, disputado no sábado (14/3). Veja o bate papo com Amanda Ribas:
O seu gosto pelas lutas marciais já começou em casa, com o seu pai Marcelo Ribas. Como é a relação da sua família com a sua carreira?
Tenho uma relação muito boa com o meu pai. Brigamos muito também, por ter tanta intimidade. Às vezes, só no meu olhar ele já sabe o que eu estou sentindo, o que tenho de melhorar. Minha mãe chegou a fazer luta, mas hoje cuida da administração da academia. Meu irmão já lutou, agora é o meu preparador físico. Minha irmãzinha, 10 anos mais nova do que eu, ajuda na academia também. Tá todo mundo no meio da luta. Essa relação é muito importante para mim, porque no esporte precisamos de pessoas em que confiamos totalmente. Para eu poder focar na luta, na dieta, tudo certinho, eu preciso de alguém por trás de mim para olhar o meu marketing, contratos, patrocinador… Até pra dirigir, que meu pai sempre me ajuda.
Então você não sofreu nenhum tipo de preconceito na famíliapor ser mulher no ambiente de luta?
Com a minha família, eu nunca senti preconceito pela luta estar na minha família. Mas na escola, quando era mais nova, eu até parei de lutar por uma época. Por volta dos 12 a 13 anos, eu estava começando a ficar fortinha. Querendo ou não, com os treinos o corpo começa a ficar mais definido. Tanto na escola quanto na academia ficavam falando: “Amanda, vai ficar muito forte. Vai ficar parecendo homem”. Isso pesou um pouco na minha cabeça. Mudei para a dança, fiz jazz, apresentei em teatro, mas eu sentia que estava faltando alguma coisa. Umas amigas estavam viajando com o judô, foi quando falei para o meu pai que queria voltar a treinar. Ele me respondeu que eu só voltaria para o jiu-jitsu se entrasse no judô, até para melhorar no jiu-jitsu. Depois fui me destacando no judô e as coisas foram acontecendo.
Você é faixa preta em judô e chegou a sonhar com os Jogos Olímpicos de Londres-2012. Como foi esse momento da sua vida?
Depois que eu comecei a me destacar no judô, fui morar em Belo Horizonte com 14 anos para treinar no Minas Tenis Clube. Foi um período muito importante para mim, porque morei em república, morei com a primeira medalhista olímpica no esporte individual, a brasiliense Ketleyn Quadros inclusive, foi muito legal, cresci muito. Era o meu sonho ir às Olimpíadas, mas me machuquei muito no judô. Depois da minha segunda cirurgia, eu fiquei muito decepcionada. Voltei para casa para estudar, a minha família me acolheu. Mas eu nem queria mais fazer esporte. Só que, sabe aquele foguinho de competidor? Estava sentindo falta. Enquanto isso, eu via o meu pai treinando uns amigos para uma seletiva do MMA amador e isso me incentivou a disputar também. Depois, fui ao Mundial Amador de MMA, ganhei em Las Vegas. E aí me profissionalizei na modalidade.
Outro drama que você viveu foi com a suspensão por doping logo na entrada para o UFC. Como foi receber essa notícia e como foram os dois anos sem poder lutar?
Eu tinha acabado de assinar com o UFC, estava feliz pra caramba, já tinha a minha primeira luta. Eu estava nos Estados Unidos quando o meu professor me ligou avisando que eu tinha caído no meu primeiro exame de doping no UFC. Foi um susto para mim, porque estava fazendo tudo direitinho, dieta, treino. Até então eu não sabia como eu podia ter caído no doping. Passou até pela minha cabeça alguém ter colocado alguma coisa na minha garrafa. Fiquei tentando provar a minha inocência, não deu. Levei punição de dois anos. Fiquei muito triste no começo, porque estava sem os meus pais. Mas o meu empresário e meu professor dos Estados Unidos me deram todo o suporte e eu continuei treinando. Nesse tempo que fiquei parada, aproveitei para conhecer mais o UFC, fui a muitos eventos. Tem muita coisa, é uma estrutura muito grande e estudei muito.
E, já no fim da suspensão, você foi absolvida do doping.
Quando tinha 1 ano e 8 meses de suspensão, o meu empresário ligou dizendo que o UFC concluiu que eu estava limpa naquela época. Falaram que foi uma contaminação de suplemento na urina. Quando me avisou isso, eu chorei de felicidade. Só sabia chorar. Agradeci. Nesse tempo, eu aproveitei para estudar muito, para me preparar a lidar com a pressão, a aprender como falar com a mídia, como tirar foto legal, fazer vídeo… Para aproveitar o melhor do UFC.
Como se sentiu na sua primeira luta no UFC?
Quando fui liberada da suspensão do doping, eu queria lutar. E já veio uma luta contra a Emily Whitmire e foi muito bom. Adorei as entrevistas, a pesagem, tudo! Eu estava receosa antes da primeira luta, porque foi contra uma americana, lá nos Estados Unidos. Mas eu escutava só o pessoal gritando e imaginava que era para mim (risos). Foi muito doido quando entrei no octógono, porque eu jogo videogame e me imaginei no joguinho. Aquela lona branca linda lotada, os flashes… Foi muito bom.
E como avalia sua terceira vitória na terceira luta no UFC?
Consegui mostrar que não sou uma atleta só de judô ou só de jiu-jitsu ou só de muay thai. Sou uma atleta de MMA. Lutei em pé, no chão. Claro que eu queria o nocaute ou a finalização, mas a vitória veio.
Quais são seus pontos fortes no octógono?
Gosto de levar a luta para o chão, por causa do meu judô e meu jiu-jitsu, mas o meu psicológico é muito bom. Meu ponto forte é a cabeça depois de ter passado por tantas coisas e por competir desde novinha.
Quais tipos de imagens você, como uma lutadora mulher, acha importante quebrar para as meninas que sonham em se tornar lutadoras também?
Existe um estereótipo de que lutadora tem de se vestir igual homem, de que não pode fazer a unha, que tem de falar grosso. Eu não acho nada disso. Cada um tem o jeito que acha melhor, mas eu gosto de fazer a unha, gosto de usar um shortinho e um top, não gosto de grosseria. Não acho que para lutar bem tem de ser bruto com alguém. A força está na cabeça, na técnica. É possível impor respeito com uma unha rosa e um mata leão (risos).
Você já foi chamada de musa do UFC. O que acha disso?
Eu acho legal, porque estou solteira (risos). Mas eu não me vejo assim. Acho que o pessoal ainda não tirou foto minha na rua andando descabelada. A coisa legal disso é para as meninas verem que dá para ser musa e lutar. Porque colocam medo nelas dizendo que ficarão muito fortes e grossas por causa da luta. Eu sofri com isso sendo que era do meio do combate. Imagina as meninas que gostam de lutar, mas não cresceram nesse ambiente como eu? A Ronda Rousey, por exemplo, quebrou os tabus todos do UFC e serviu para mim como inspiração.
Você é nascida em Varginha, Minas Gerais, e agora se divide entre ela e a Flórida. Como é essa divisão?
Moro em Varginha, minha cidade. Lá tem muita gente que compete e os treinos são muito bons para mim. Quando tem luta, vou um mês antes à Flórida, nos Estados Unidos, para ajustar o fim da preparação para a luta.Sobre as saudades de casa… Da comida sempre dá saudade, porque fico de dieta mas continua assistindo Masterchef, fico babando nas comidas da minha mãe. Eu adoro comer. Depois da luta, eu só como.