Após chegar a dois Jogos Olímpicos como grande candidata ao ouro, a Seleção Brasileira feminina de vôlei começa a trajetória em Tóquio de uma maneira nova. “Sabemos que não somos favoritas, mas não vai faltar dedicação”, avisa Tandara. A brasiliense campeã olímpica em Londres-2012 foi uma das últimas a ser cortada para os Jogos do Rio-2016. Frustração que Camila Brait e Carol Gattaz já compartilharam.
Ao Elas no Ataque, Tandara conta como foi o clima em meio à convocação que carimbou a volta por cima das três até os Jogos de Tóquio, assume o papel de líder dentro da equipe brasileira na busca pela terceira medalha de ouro olímpica para o vôlei feminino do Brasil e ressalta sobre o aumento da auto-cobrança por preparo físico e mental para assumir o protagonismo que cabe à dona do ataque mais potente da seleção brasileira nestas Olimpíadas, aos 32 anos.
Boa de papo, sem esconder o jogo, a oposta do Brasil ainda se derreteu pela nova versão dela como pessoa e como jogadora após ter virado mãe da Maria Clara, de quase 6 anos, contou como lida com a saudade de passar mais de um mês longe dela nas competições e falou sobre as diferentes experiências de atuar no Sesc Rio em 2019/2020, sob comando de Bernardinho, e no Osasco, na última temporada, com Luizomar de Souza. Desfrute da entrevista abaixo!
O Brasil estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio neste domingo (25/7), às 9h45 (horário de Brasília), contra a Coreia do Sul. A competição está sendo transmitida por SporTV e BandSports.
Você foi campeã olímpica em Londres-2012 e, depois, foi cortada dos Jogos do Rio-2016. Qual foi a sensação de ver o seu nome na convocação pros Jogos Olímpicos de Tóquio (mesmo que esperada)?
Já era esperada pela minha dedicação, pelo que eu vinha fazendo nos treinos, no dia a dia. Mas é claro que na hora que vê o nome entre uma das 12 nas Olimpíadas para vestir a camisa do Brasil mais uma vez, eu senti essa emoção de novo. Fiquei muito feliz, a minha família também. Eles são muito importantes para mim também e ver o meu pai e a minha mãe felizes também é muito emocionante, querendo ou não, é a realização do sonho do meu pai, que também era jogador. Conseguir realizar esse sonho através de mim é importante e é uma sensação indescritível.
Nesta Olimpíada, a Seleção Brasileira feminina de vôlei terá estreantes veteranas, como Camila Brait e Carol Gattaz. Assim como você, em outro momento, elas viveram a frustração do corte perto das Olimpíadas. Como foram os bastidores dessa convocação para Tóquio?
Quando o Zé Roberto fechou a lista para as 12, estávamos todas juntas na Itália. Isso foi importante porque sentimos a emoção e a felicidade de quem estava entre as 12, mas, ao mesmo tempo, ficamos triste pelo corte de outras jogadoras que estavam conosco. Eu passei pela experiência de estar na lista de 2012, fui o último corte em 2016 e estar retornando, agora, para jogar as Olimpíadas de Tóquio é muito gratificante, fiquei imensamente feliz. Existia uma incerteza grande sobre a realização dos Jogos e, hoje, Graças a Deus foi concretizada. É o sonho de qualquer atleta disputar uma Olimpíada, é o ápice de qualquer jogador profissional e não é diferente comigo.
E como você se sente nesse elenco, que tem Ana Cristina, com 17 anos, e Carol Gattaz, com 39, E como vê o seu papel na Seleção?
Hoje, me sinto e as minhas companheiras fazem eu me sentir uma líder dentro de quadra. Estou tentando administrar da melhor maneira possível isso, porque tenho que passar firmeza, confiança e coragem para elas e não deixar faltar para mim. É um grupo em que me sinto super à vontade e que estou muito feliz. Tem a Aninha, que é uma estreante com 17 anos, e a Carol, que é uma estreante também, mas com 39, é a mais experiente do grupo. Passamos pela juventude de uma maneira muito rápida, mas todas as companheiras são importantes para fazer um um bom campeonato.
Durante esse ciclo olímpico, senti um aumento da sua auto-cobrança principalmente por preparo físico e emocional. Isso aconteceu mesmo?
Com certeza, são os dois pontos que são determinantes para mim. Eu sei que vou ser muito cobrada como oposta, que é a jogadora que precisa colocar a bola no chão e estou me cobrando muito fisicamente também. Eu tive uma evolução muito grande nos dois últimos meses e tanto o meu preparo físico quanto o psicológico estão super em dia. Eu venho sentindo a diferença para dar o meu melhor e me doar o máximo possível ao time para que, consequentemente, tenhamos vitórias.
Como você vê o Brasil na disputa olímpica em Tóquio?
Sabemos que não somos favoritas, mas não vai faltar dedicação. Mas deu para sentir o nível das outras equipes na Liga das Nações e vimos que não é impossível, fizemos jogos muito bacanas, crescemos muito em relação a todo ritmo de jogo, velocidade. Engloba muita coisa e já tivemos uma evolução muito grande. Havia um time iniciando e um time com uma outra cara no fim. Sinto nosso time muito confiante, imprimindo nossas dificuldades para crescermos lá na frente. Chegamos preparadas em Tóquio. Cada jogo será um desafio e estaremos dispostas a lutar e fazer um trabalho bem feito para, consequentemente, vir as vitórias.
Quais seleções você considera favoritas ao ouro olímpico em Tóquio?
Essa visão não é só minha, existem várias opiniões e a minha não é diferente. A China com certeza vem forte, os Estados Unidos. A Sérvia também é muito difícil de jogar e tem jogadoras muito experientes. A Itália. Fica tudo muito em aberto, porque cada jogo pode ser uma caixinha de surpresas. Essas, para mim, são as equipes mais fortes e que vão dar um trabalhinho para a nossa equipe, que vamos ter de saber administrar para anular quem está do outro lado, estudando e colocando tudo em prática nos jogos.
Depois de serem adiados, os Jogos de Tóquio vão acontecer com vários protocolos sanitários e sem público nas arenas. O quanto isso pode impactar o clima olímpico?
É uma pena, porque somos muito vigorosos e calorosos. A torcida faria toda a diferença no ginásio. Mas, como já jogamos toda essa temporada sem ela, vamos tentar levar para Tóquio o que vivenciamos no Brasil. Com um pouco mais de cuidado, acredito que não será muito diferente do que vivemos na Liga das Nações em relação a testagens, cuidados, transporte, limitação de onde pode ir . Vai ser bem “complicado”, por conta dos protocolos sanitários, mas acredito que a emoção não será retirada, tem o friozinho na barriga de chegar na Vila Olímpica igual. Nesse sentido, as mudanças são a máscara e o álcool em gel. E, de longe, estaremos recebendo toda a vibração da torcida.
Você trabalhou com Bernardinho no Sesc/Rio na temporada que antecederia os Jogos de Tóquio, em 2019/2020. Depois, voltou ao Osasco, comandado por Luizomar. Qual a importância desses dois últimos anos para o seu momento atual na Seleção?
Tive a primeira experiência de jogar com o Bernardo, no Sesc/Rio, e pude ver como eles trabalham. Eu sempre tive essa curiosidade. Foram duas temporadas de muito crescimento para mim, tanto no Rio quanto no Osasco. Passando por momentos diferentes na minha vida pessoal, mas que, no meu lado profissional, eu tive que apanhar para crescer. Perdi de um lado, mas ganhei de outro. É assim que a gente vive. Tive o desafio de jogar no Rio, com uma cobrança diferente, de um outro estado. E, depois, voltar para Osasco, para a minha casa, e ver toda a minha família instalada e bem fez a diferença, porque hoje eu não sou mais sozinha, tenho minha filha, meu marido, meu irmão, hoje, mora em São Paulo. Foram dois anos espetaculares, de muito crescimento e amadurecimento, de ver onde errei para consertar e, se não der para , está tudo bem, porque todo mundo erra também.
No ciclo olímpico passado, você viveu dois anos que chacoalharam a sua vida. Um ano antes do corte para os Jogos do Rio, você teve a sua filha, Maria Clara.
Maria Clara veio em 2015, um ano antes das Olimpíadas do Rio. Claro que não foi nada planejado, mas foi uma surpresa muito boa na minha vida e que me fez crescer muito, amadurecer, me tornar um pouco mais calma, por ver a vida de outra maneira. Essa foi a melhor parte de tudo. Claro que, consequentemente, eu corri muito atrás para que 2016 eu viesse a jogar a Olimpíada do Rio, mas paciência, porque não deu muito certo. Eu coloquei na minha cabeça que eu tinha que me dedicar um pouco mais para que a próxima Olimpíada, sendo Tóquio, fosse exatamente da maneira que eu esperava.
Como a Maria Clara interferiu na Tandara jogadora?
Hoje, a Maria Clara é o meu combustível de todos os dias. Com 5 anos, ela entende um pouco mais as coisas. Nós fomos para a Liga das Nações e ficamos 37 dias longe. Ela é muito inteligente e me deu um suporte absurdo, claro que sentindo saudade. Uma vez ou outra, ela deu uma choradinha pedindo a mãe, mas ela super entende. Fiquei super emocionada no dia que ela chegou da escola e falou para a professora: ‘Estou muito triste que a minha mãe está longe, mas estou muito feliz porque ela está vivendo o sonho dela’. E realmente é o meu sonho. Essa é a maneira mais saudável que tento passar para ela. Nos Jogos Olímpicos serão mais 26 dias longe. Preparei novamente a Maria Clara e ela me respondeu que eu posso ficar tranquila. Ela é muito especial, me sinto muito feliz por ter sido presenteada como mãe da Maria Clara.
É bacana ver vídeos da presença dos filhos das jogadoras nos treinos e fazendo parte dessa rotina de preparação que vocês compartilham nas redes sociais.
A gente tenta passar da melhor maneira o que é a nossa vivência, porque sabemos da curiosidade que as pessoas também têm sobre como é o treinamento, o que fazemos, como é o nosso dia a dia. Por meio das redes sociais, eu não uso tanto, mas tentamos passar da melhor maneira para que vocês também sintam um pouco desse friozinho na barriga, para dividir um pouco da experiência com vocês.
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