Uma das melhores jogadoras do Campeonato Brasileiro, Tamires é peça decisiva no Corinthians, que chega como grande favorito à final do Brasileirão feminino A1, disputada nos próximos domingos (22/9 e 29/9). Em entrevista exclusiva ao Elas no Ataque, a lateral esquerda da Seleção Brasileira fala sobre a segurança de atuar como meia aberta no Timão, avalia a versatilidade de posições como importante — principalmente nas Olimpíadas — e aprova a escolha do clube paulistano pelo Parque São Jorge, a Fazendinha, como palco da final do Brasileirão feminino.
Aos 31 anos, Tamires foi um dos grandes reforços do Corinthians para a temporada 2019. A jogadora foi anunciada após protagonizar lances emblemáticos na Copa do Mundo da França, como o drible por debaixo das pernas no lance que gerou o segundo gol do Brasil no jogo contra a Austrália, que acabou vencendo de virada a partida por 3 x 2. O Timão chega como favorito à final contra o Ferroviária, que será decidida em dois jogos. O primeiro neste domingo (22/9), às 14h, na Fonte Luminosa, em Araraquara. E o segundo no outro domingo (29/9), no mesmo horário, no Parque São Jorge.
Corinthians e Ferroviária se enfrentam na final do Brasileirão e na semifinal do Paulista. Como manter o foco na decisão após a vitória por 4 x 0 no primeiro jogo do estadual?
Primeiro, vamos enfrentar quatro vezes a mesma equipe, mas serão quatro jogos totalmente diferente. Depois do jogo contra a Ferroviária pela semifinal paulista, vamos virar a chavinha para o Brasileiro. Por ser uma final, faz toda diferença. O clima e as circunstâncias mudam, cada uma entra em campo com a cabeça diferente.
Acredita que os jogos da final estão sendo bem impulsionados? Concorda com a final no Parque São Jorge, conhecido como Fazendinha?
Ontem nós jogamos na Fonte Luminosa e está com o campo perfeito para jogar futebol, com a grama muito boa. E no nosso campo na Fazendinha não é diferente. Lá se tornou a nossa casa, com muita torcida, fazendo a festa. Esperamos que nas finais não seja diferente e que seja dali para melhor. Mas no Campeonato Paulista e no Brasileiro, alguns estádios realmente deixaram a desejar, o que prejudica a qualidade dos jogos. Agora, em Corinthians e Ferroviária vamos jogar em campos muito bons para que as pessoas possam assistir a bons jogos.
Você vem se destacando desde que chegou no Corinthians após a Copa do Mundo. Como avalia o seu momento?
Venho vivendo um momento muito feliz com o Corinthians, estou muito feliz por voltar para o Brasil e tenho mantido o foco. Estar no Corinthians foi uma decisão muito pessoal. E, no Brasil, ajuda para as mídias estarem me acompanhando mais de perto. Quando eu estava jogando no Fortuna (clube dinamarquês em que jogava desde 2015) eu vinha ajudando e jogando bem. Mas o fato de estar mais próximo do torcedor que fala a sua língua, em um momento que a mídia brasileira está mais atenta ao futebol feminino, ajuda a dar mais visibilidade.
Você está jogando como meia aberta e não como lateral esquerda, posição em que atua na Seleção. Isso colabora para o seu desempenho de destaque no Brasileiro?
Eu aprendi a jogar como meia aberta no Centro Olímpico em 2013, depois saí do Brasil e as pessoas do Brasil me viam só como lateral esquerda porque era como eu jogava na Seleção. Mas eu joguei como meia aberta no Fortuna e lá eu fazia essa triangulação com as atacantes. Quando o professor me pediu para jogar nessa posição no Corinthians, me adaptei super bem. É importante o atleta saber jogar em outras posições, isso sempre soma na vida dele, principalmente em Olimpíadas. Fico feliz com toda a repercussão. Independentemente de ser como lateral, meia ou até volante, eu tenho que procurar fazer o meu trabalho bem.
O que achou da repercussão da fase final do Brasileirão feminino? A empolgação pós-Copa do Mundo deu uma esfriada?
Sinceramente, acho que não esfriou. O Mundial foi tão impactante para tantas pessoas que foi um divisor de águas. Não dá mais para pensar no futebol feminino como era antes. Ainda não vemos falar tanto de futebol feminino, mas cresceu muito e os espaços mostram uma mudança; As pessoas estão aprendendo a ouvir sobre futebol feminino, muitas pessoas acompanham o Brasileiro, vão ao estádio, desde torcedores pequenos até idosos. Claro que dá um pouquinho aquela ‘mornada’ pós-Copa, pela questão da televisão, mas a Band está transmitindo os jogos do Brasileiro, há transmissão ao vivo da convocação para a Seleção feminina e está tendo mais procura da televisão para transmitir os jogos, então o futebol feminino vem sim ganhando espaço no Brasil e, no ano que vem, será ainda melhor por ter mais clubes de peso.
São dois times de São Paulo na final do Brasileirão. Quais iniciativas podem ser adotadas para que o futebol feminino se desenvolva em outra regiões do país?
Vejo isso pelos trabalhos das federações. A Federação Paulista tem encarado de uma outra maneira o futebol feminino, com um departamento feminino mais forte. Mas São Paulo sempre teve o futebol feminino mais forte e isso se fortalece ainda mais. É um exemplo para outras federações. Eu sou mineira e fui morar em São Paulo por causa do futebol. Têm muitas outras atletas fortes de Minas Gerais que migram para São Paulo. A mesma coisa, acontece em Brasília, por não ter um campeonato estadual forte, as jogadoras ficam muito tempo sem campeonato.
A Seleção teve a segunda convocação da Pia Sundhage. Como está sendo a convivência com a técnica sueca?
A Pia é uma técnica com bagagem muito grande no futebol, passa o que ela quer com muita clareza para a gente. Ela demonstra que quer ir passo a passo, como fala nas entrevistas. É como se ela queira construir uma casa, mas precisa fazer primeiro o alicerce e depois ir fazendo cada etapa. Ela pretende montar um sistema defensivo sólido para o time ter uma transição ofensiva bem sólida também. Mesmo com a questão da língua, ela consegue ser muito clara. E hoje muitas atletas falam inglês, então facilita, porque nós próprias traduzimos uma para outra. E a linguagem do futebol é universal. Ela também destaca bastante a questão de ser profissional. Ela quer que todas estejam juntas no café, almoço e jantar para interagir. Isso é muito bacana e reflete em campo.
Era esperado uma renovação na Seleção Brasileira após o Mundial. Já foi possível perceber como isso será trabalhado com a Pia no comando?
Vejo da mesma forma que ela colocou. Acho importante a renovação, mas não pode ser feita de qualquer jeito, sem esquecer das outras atletas que já vinham fazendo um trabalho. As jogadoras experientes têm muito a contribuir na equipe, assim como a energia das mais novas. Vê a Formiga com 41 anos jogando em alto nível e importante para exercer esse papel de passar tranquilidade para o elenco. A mescla é importante para o crescimento das mais novas.
O que se fala sobre as Olimpíadas dentro da Seleção Brasileira hoje?
Sabemos que o trabalho hoje é com período curto para a Olimpíada (que será disputada em Tóquio, a partir de 24 de julho de 2020). A Pia, quando conversa com as atletas, fala que estamos nos preparando para as Olimpíadas. Mas ainda vemos as Olimpíadas de forma distante. Temos de pensar convocação por convocação e jogo após jogo com a camisa da Seleção. À comissão técnica, sim, cabe pensar nas Olimpíadas agora.
Por Maíra Nunes e Maria Eduarda Cardim
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