A maior categoria do automobilismo brasileiro vive clima de festa de aniversário. Comemorando 40 anos, a Stock Car abre 2019 com a corrida de número 500, neste domingo (7/4), às 11h, no Velopark, no Rio Grande do Sul. A corrida tem transmissão do SporTV2. A cidade gaúcha, por sinal, foi onde toda essa história começou, com a etapa de 22 de abril de 1979. Naquele ano, o atual bicampeão, Daniel Serra, nem a primeira piloto mulher a integrar o grid — ideia que poderia parecer até absurda para a época — haviam nascido.
A categoria de turismo que une desempenho e sofisticação começou há quatro décadas com 19 carros. Todos do modelo Opala, com motores de seis cilindros e pilotados por homens. Hoje, são 50 carros com motores oito cilindros em V na disputa. Entre eles, está o carro de número 3, de Bia Figueiredo. Aos 34 anos, a piloto da Ipiranga Racing vai para a sexta temporada na Stock Car com o objetivo de conquistar o primeiro pódio na categoria.
Em entrevista exclusiva ao Elas no Ataque, a primeira brasileira a correr em uma categoria top do automobilismo mundial, a Fórmula Indy, fala da dificuldade de adaptação em um carro de turismo, ressalta a conquista de ser tratada com respeito pelos colegas de profissão e comenta sobre a experiência de entrar na pista com um time composto apenas por mulheres nas 24 Horas de Daytona, na Flórida, em janeiro.
Veja a entrevista com Bia Figueiredo
Bia, você segue na Ipiranga Racing nesta temporada ao lado do Thiago Camilo. Como é esta parceria e qual a expectativa para a temporada da Stock?
Ano passado foi um ano sofrido para a gente e, diante das dificuldades, trabalhamos mais para superá-las. Queremos muito andar bem. Eu tenho uma meta de conquistar o meu primeiro pódio, a primeira vitória. Já estive no top 5, tenho vários top 10… Vamos brigar pelo pódio agora.
Quem você aponta como os favoritos para este ano?
O Daniel Serra, por ser o atual campeão e bicampeão da categoria, deve vir forte de novo, assim como o Felipe Fraga, que foi vice-campeão. Acredito que meu companheiro de equipe também vai vir bem animado neste ano. O Thiago disputou o título em 2017 (e foi pole position para a primeira corrida de 2019). E o Rubinho, que é um cara que eu admiro demais e pode vir bem neste ano também. Tem vários nomes, a categoria é muito forte. Então pode ter várias possibilidades diferentes que acabem chegando no fim do ano com chances de título.
É o seu sexto anos correndo na Stock em uma carreira que começou aos 8 anos no kart. O que dessa experiência te ajuda na Stock?
A Stock Car é a primeira categoria de turismo que eu corro, e é um mundo completamente diferente de tudo o que eu vivi no automobilismo, no kart, na fórmula. A minha adaptação não tem sido fácil, muito abaixo do que eu esperava para a categoria. Apesar de ela ser muito competitiva, eu não me adaptei no turismo como eu gostaria. Cada ano eu melhoro na Stock Car, consigo melhores resultados, melhor pontuação. Mas essa melhora tem de ser mais rápida, por isso a gente busca tanto o pódio neste ano.
Nesse tempo de carreira, o que mudou em relação ao tratamento dos pilotos e profissionais do automobilismo com você?
No começo de carreira, eu corria com uma galera muito imatura. Todo mundo era adolescente, jovem. Era bem difícil, porque eles não aceitavam. Nos Estados Unidos, tem uma posição bem diferente. Lá, homens e mulheres, em um contexto geral, estão bem mais iguais. Mas, desde que eu voltei à Stock Car, o tratamento é superbom, de respeito. Eu não sinto que existe um preconceito comigo. A competitividade dentro de pista pega normal. Quando vou discutir por algum motivo, falo com o piloto que não gostei de algum tipo de toque, esse tipo de coisa. E me sinto respeitada, não tenho problema nenhum hoje.
Qual foi o sentimento de entrar na pista com um time composto apenas por mulheres nas 24 Horas de Daytona, na Flórida, em janeiro?
Foi interessante e muito legal, porque duas das pilotos já tinham corrido comigo na Indy. Mas na Indy era super competitivo e nós quase não conversávamos. Até a própria imprensa colocava uma competição entre nós e não nos falávamos muito. Correndo pelo mesmo objetivo, na mesma equipe, foi muito legal. Na pista, foi igual. Todas nós queríamos vencer, procurar nossos objetivos, melhorar o carro e puxar uma a outra. Mas, fora da pista, teve jantar, bate-papo, comentamos das nossas histórias, falamos de coisas em comum, piadas. Foi muito divertido também. Temos nos dado muito bem. Hoje, com uma motivando a outra ainda mais, porque somos poucas, então, temos de nos puxar mesmo, ou fica difícil.
Na Stock Car, em quais outras funções há mulheres? Engenheiras, mecânicas, chefes de equipe?
Hoje, na Stock Car, a única engenheira que existe trabalha comigo, a Raquel Ló. Vamos para o nosso segundo ano juntas. Já tiveram mecânicas, era uma ou duas no máximo, mas não chefes de equipes. É muito restrito. Se vê muitas assessoras de imprensa e pessoal do administrativo mulheres, mas não na ação, na equipe.
Você é referência para outras mulheres no automobilismo e teve os Estados Unidos como palco importante. Qual caminho indica para meninas talentosas?
Têm algumas meninas despontando. Estou, particularmente, ajudando uma que chama Antonella Bassani, de 12 anos. Ela é kartista, já fez pole no Brasileiro, chegou em terceiro lugar, é dona de várias vitórias e títulos em Santa Catarina, onde ela compete mais. Tem a catarinense Bruna Tomaselli, já seguindo os passos nos Estados Unidos na US After Thousand (categoria que faz parte do programa Road to Indy). Acho que foi importante para mostrar que é possível, abrir a cabeça das pessoas. Espero que outras famílias e meninas se inspirem para fazer o mesmo também.