A sueca Pia Sundhage chegou à Seleção Brasileira feminina sob expectativas de impulsionar o futebol feminino do Brasil, que aparentemente parou no tempo na última década. Ao menos, essa foi a impressão diante do desempenho de equipes europeias na Copa do Mundo de 2019, na França.
A técnica bicampeã olímpica estreou no comando do Brasil em agosto de 2019, com a goleada do Brasil sobre a Argentina, por 5 x 0, no Estádio Pacaembu (SP). Desde então, somou 9 vitórias, 4 empates e 2 derrotas em 15 jogos, com saldo de 44 gols marcados e 8 sofridos.
Veja abaixo as principais mudanças no time comandado pela Pia nesse um ano e meio. Outra oportunidade de observar esses pontos será em Brasil x Canadá, nesta quarta-feira (24/2), às 18h (horário de Brasília), no Torneio She Believes, disputado em Orlando, nos Estados Unidos. A partida tem transmissão do SporTV.
Mais centralizada no ataque, Debinha assumiu o posto de artilheira da Seleção na Era Pia, com 11 gols em 15 jogos. A torcida brasileira já havia tido oportunidade de constatar que Debinha tem arrancada, velocidade e habilidade para entortar as adversárias. Agora, porém, a técnica sueca tirou a atacante do posicionamento aberto pela ponteira para aproveita-la dentro da área. A mudança tem dado resultados positivos. De banco no comando de Vadão na Copa do Mundo de 2019, a camisa 9 do Brasil assumiu papel de protagonista na gestão de Pia Sundhage. Ao lado de Debinha no ataque, a treinadora vem optando por uma jogadora de força física e referência na área. As opções mais frequentes têm sido Ludmila, Cristiane e Bia Zaneratto. Contra o Canadá, Pia também quis ver Marta atuando adiantada ao lado de Debinha.
“Argentina foi o meu primeiro jogo e eu me lembro dos cinco gols. Agora, será diferente e a maior diferença é a Debinha porque ela vai ajudar o time ainda mais na posição que ela joga”, Pia Sundhage (fevereiro, 2021).
Se até a última Copa do Mundo a principal esperança de criação de jogadas e gols da Seleção Brasileira era a Marta, agora a equipe comandada por Pia apresenta um estilo de jogo menos centralizado na jogadora seis vezes melhor do mundo. Isso não significa que a camisa 10 não seja fundamental para o elenco. Além da experiência e liderança que exerce em campo, a capitã assumiu funções mais voltadas a ajudar na criação das jogadas ofensivas. Deixou de atuar centralizada para se posicionar mais aberta na lateral esquerda. A maior artilheira da história da Copa do Mundo Fifa também passou a servir mais do que balançar as redes. Em nove jogos com a Pia, Marta marcou 2 gols.
“Mudou como a Marta estava conectada com o time e como o time estava conectado com ela. No jogo da minha estreia, o time fez um excelente primeiro tempo e a Marta marcou um gol. Mas o segundo tempo não foi tão bom. Agora, temos uma defesa melhor e as jogadas pelas pontas estão mais interessantes. Vamos ver se fazemos boas conexões para criar as chances”, Pia Sundhage (fevereiro, 2021).
O trio formado por Tamires, Marta e Debinha esbanja técnica e velocidade e tem sido responsável pelas principais jogadas ofensivas do Brasil. A lateral esquerda dá qualidade ao passe e ajuda a desafogar a saída de bola. Com a bola no pé, Tamires busca por Marta, que vem atuando mais aberta no campo, no desenho da jogada. É pela esquerda que a Seleção cria com mais frequência lances de aproximação da área adversária, com jogadas bem trabalhadas e aproximação dessas três jogadoras. Diante do Canadá, Adriana substituiu Marta na ponta esquerda com a mesa qualidade e força física.
“Temos muitas jogadoras que podem atuar na frente: Ludmila, Debinha, Marta. É uma questão tática ver onde colocar cada jogadora. Ainda penso que a Debinha pode ficar ali (centralizada), precisamos melhorar alguns níveis de jogadas dela. Será muito interessante ter uma ponta esquerda como a Marta e a Debinha como central. É por isso que cada jogo é importante para avaliar o que funciona para o time”, Pia Sundhage (fevereiro, 2021).
Enquanto o setor esquerdo da Seleção Brasileira flui bem com o trio que dificilmente será modificado caso Tamires, Marta e Debinha sigam à disposição de Pia até os Jogos Olímpicos de Tóquio, o outro lado do campo da equipe vive situação oposta. A Pia testou várias jogadoras que não são laterais de origem na posição onde atua a lateral direita. Na vitória sobre a Argentina, por exemplo, experimentou a meia Camilinha na posição no primeiro tempo, em uma tentativa de impulsionar o poder ofensivo por aquele lado. No segundo tempo, optou por deslocar a zagueira Tainara para a lateral direita, ficando com três defensoras na primeira linha do campo para liberar mais a lateral esquerda ao ataque. Na ponta direita, a sueca também fez testes com diferentes atletas. Colocou a Chu contra as argentinas e a atacante Bia Zaneratto diante dos EUA. A velocidade de Ludmila também já foi explorada nessa posição.
“Testamos a Érika na lateral e ela jogou muito bem. Estamos tentando encontrar as laterais, mas temos de trabalhar umas com as outras e vamos ter diferentes tipos de laterais, de diferentes posições dependendo da jogadora. Não vamos escolher apenas uma, vai ser diferente de um jogo para o outro. Por isso é bom estar com jogadoras tão técnicas que jogam de formas diferentes. Temos muitas opções de como queremos jogar com as nossas atletas”, Pia Sundhage (fevereiro, 2021).
É comum ver Pia recorrer à uma zagueira de origem para fazer o papel da lateral direita, seja desde o início do jogo ou do segundo tempo. Contra a Argentina, a zagueira Bruna Benítes entrou no intervalo para montar a dupla de zaga do Brasil ao lado de Rafaelle. Com isso, Tainara assumiu a lateral direita, posição exercida pela Camilinha nos primeiros 45 minutos da partida. Diante dos EUA, a dupla de zaga Bruna Benites e Rafaelle ganhou a companhia da também zagueira de origem Kathellen na lateral direita. Quando isso acontece, existe a possibilidade de contar com uma defesa mais sólida, pois forma-se uma linha de três defensoras de origem, liberando a subida da lateral esquerda para o ataque.
“A diferença de colocar uma zagueira jogando na lateral, como quando treinamos com a Bruna Benites na direita, é que ficamos com três zagueiras na defesa quando atacamos pelo lado esquerdo. Assim, conseguimos balançar o time rápido e ainda ter uma opção boa na defesa para impedir o contra-ataque. Fortalecemos a linha de trás e liberamos a ala esquerda para subir mais”, Rafaelle, zagueira da Seleção (fevereiro, 2021).
Luana foi outra excelente surpresa da Era Pia. A volante do Paris Saint-Germain (PSG) de 27 anos foi o destaque do Torneio Internacional da França em março de 2020, o último disputado pelo Brasil antes do começo da pandemia de covid-19 no país. A volante até chegou a ser chamada pelos torcedores de “nova Formiga” pelas semelhanças no vigor físico, na técnica na saída de bola e nas chegadas promissoras ao ataque. Sob o comando de Pia, Luana e Formiga fizeram uma ótima dupla de volantes. Mas as duas não foram liberadas pelo PSG para disputar o Torneio She Believes. A ausência delas evidênciou a dependência que a equipe tem delas na saída de bola e nos desarmes na hora de se defender. Andressinha, Adriana e Júlia Bianchi foram algumas das opções interessantes que Pia testou na função, apesar de não contarem com o mesmo poder defensivo da dupla que atua no futebol francês.
“Formiga e Luana são muito boas jogadoras e internacionais. Elas jogaram muitos jogos e são muito importantes para o Brasil. No entanto, será muito importante ver jogadoras como Andressinha, a Júlia Bianchi ou alguma outra que possa encontrar o ritmo dentro da equipe brasileira”, Pia Sundhage (fevereiro, 2021).
A postura da Seleção Brasileira mudou na reposição de bola. As goleiras passaram a buscar as jogadoras da linha defensiva para iniciar a construção das jogadas com a bola no pé, em vez de priorizar os lançamentos longos. A orientação é a mesma para as defensoras e meio campistas até a chegada no ataque.
“Temos tentado sair jogando mais rápido, porque quanto mais rápido conseguimos receber essa bola, mais rápido temos como criar a jogada. Agora, com a Pia, a goleira sempre tenta fazer a reposição com a bola no pé, sem muito chutão para frente. Queremos criar as jogadas de trás, encontrar um espaço onde a jogadora vai chegar para já passar as linhas e criar as jogadas e construir as chances de gol”, Rafaelle, zagueira da Seleção (fevereiro, 2021).
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