No ano em que Iêda Guimarães nascia, o pentatlo moderno era praticado pela primeira vez por mulheres na programação de uma Olimpíada. Em 2000, no evento de Sydney, 36 competidoras disputavam um inédito lugar no pódio — antes restrito aos homens. Hoje, aos 19 anos, a única atleta brasileira da modalidade classificada para os Jogos Olímpicos de Tóquio tem consciência de que estará no mesmo patamar daquelas atletas e sonha em fazer história ao entrar para a lista de medalhistas.
A trajetória até a conquista da vaga para a primeira Olimpíada de Iêda começou há 10 anos, quando a atleta se apaixonou pelo esporte. Ela, a irmã gêmea, Maria Carolina, e o irmão mais velho, Edson, foram convidados para uma aula experimental no projeto da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM) dedicado à descoberta de novos talentos — o PentaJovem.
“Meu pai fez um trabalho no clube onde eu treino e o presidente na época pediu para que ele convidasse os filhos para um novo projeto para jovens. O primeiro esporte que a gente fez na vida foi pentatlo. Começamos com cinco modalidades de uma vez só”, brinca a atleta ao relembrar o início da carreira. Somente Iêda continuou na modalidade. “Fizemos essa aula experimental, estou até hoje e não pretendo parar. Meu irmão foi estudar e minha irmã se identificou mais com a esgrima e migrou de esporte”, conta.
O pentatlo desde então faz parte da vida de Iêda, que em julho de 2019 ganhou uma vaga para as Olimpíadas de Tóquio-2020. A conquista do quarto lugar nos Jogos Pan-americanos de Lima foi uma das mais importantes da vida. Até o momento, Iêda é a única brasileira com vaga garantida na modalidade, mas o Brasil ainda pode classificar mais uma atleta no feminino e dois, no masculino. De acordo com a CBPM, a melhor chance do país é a classificação pelo ranking olímpico, que ainda está sendo formado e definirá as últimas vagas.
Apoio de uma ilustre medalhista
Enquanto os demais pentatletas brasileiros aguardam a definição das últimas vagas olímpicas, Iêda Guimarães se prepara para a estreia em Tóquio. Uma das inspirações da jovem competidora é Yane Marques. A brasileira é a única atleta da América Latina a conquistar uma medalha olímpica na modalidade. Foi bronze nos Jogos de Londres-2012. Aposentada do esporte, Yane passou algumas dicas para Iêda durante competições em que assistiu à sucessora. “No Pan, ela foi trabalhar na competição com o Time Brasil e assistiu à minha competição. Deu-me dicas dos movimentos da esgrima e técnicas”, conta.
Para Iêda, a rápida evolução da compatriota chama a atenção e a inspira. Ela mantém viva a esperança de repetir a história de Yane. “No pentatlo, os fortes são os europeus, mas eu acho que é um esporte muito imprevisível e tudo pode acontecer. A favorita das Olimpíadas pode chegar em último e não tem um pódio muito certo. Então, tudo pode acontecer no pentatlo, tanto que nunca repetiu pódio nas Olimpíadas. Todo mundo tem a esperança de chegar lá e ganhar medalha”, avalia.
Para atingir o objetivo, os treinos foram intensificados. “Continuo treinando a antiga rotina e faço treinos mais específicos para forçar aquilo que está ruim e tentar melhorar em pouco tempo”, pontua. A natação é a modalidade em que a pentatleta tem mais dificuldade. De acordo com a jovem, é uma “relação de amor e ódio”. A esgrima, praticada pela irmã, e o hipismo são as modalidades preferidas.
Susto
Apesar da intensificação dos treinos, a noção da responsabilidade sob os ombros só foi compreendida dois meses depois de conquistar a vaga. No meio do caminho, a jovem atleta ainda passou por um susto. Logo após os Jogos Pan-Americanos de Lima, de volta ao Brasil, Iêda sofreu uma fratura no pé no dia do aniversário. O presente às avessas provocou mais ansiedade.
“Fiquei um mês e meio sem treinar direito, pois tive de imobilizar o pé, apesar de não colocar gesso. Isso me deixou bem frustrada. Logo quando consegui a vaga, aconteceu isso. Mas coloquei a cabeça no lugar e não parei de treinar totalmente. Buscava excelência naquilo que estava treinando”, conta. A ansiedade agora é para a hora da prova. “Quero sentir aquela sensação, porque sei que vai ser boa. É um nervosismo muito bom”, afirma.
Quem é ela
Nome: Iêda Guimarães
Modalidade: pentatlo moderno
Idade: 19 anos
Naturalidade: Rio de Janeiro (RJ)
Participações olímpicas: estreia em Tóquio-2020
Principais títulos: ouro no revezamento misto e bronze no individual nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, em 2018, e quarto lugar nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019
Entenda a modalidade
Formado por cinco modalidades, o pentatlo moderno tem origem no antigo pentatlo, uma das primeiras modalidades dos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Ligado ao militarismo, o esporte tinha papel de destaque, pois o vencedor era considerado o grande campeão e um dos atletas mais completos. Em 1912, o pentatlo entrou na agenda olímpica e foi disputado nos Jogos Olímpicos de Estocolmo. Passou por algumas adaptações e nasceu o pentatlo moderno, formado pela disputa de esgrima, natação, hipismo, corrida e tiro a laser (laser run)
Curiosidades olímpicas
O pentatlo foi incluído nos Jogos Olímpicos em 1912 e a modalidade sempre foi restrita aos homens. Somente 88 anos depois, em 2000, nos Jogos Olímpicos de Sydney, que as mulheres puderam competir na modalidade e 36 disputaram um lugar no pódio. A única medalha brasileira na modalidade é de Yane Marques, que conquistou o bronze nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e é até hoje a única detentora de medalha olímpica da modalidade da América Latina