Time do Gama feminino sofre golpe e jogadoras enfrentam condições precárias para disputar Candangão
GamaFem2 Gama/Divulgação Jogadoras do Gama aparecem abraçadas em círculo, rezando, após jogo contra o Ceilândia

Homem arrenda Gama feminino e larga elenco em condições precárias

Publicado em Futebol

Jogadoras do Gama denunciam terem sido vítimas de um golpe ordenado por um homem identificado como Ítalo Batista Teodoro Rodrigues. Ele teria proposto ao clube uma parceria para implementar uma equipe de futebol feminino, em que arcaria sozinho com todos os gastos e, em troca, o time cederia o nome. Segundo os relatos, o homem trouxe jogadoras de outras cidades, alugou casa, pediu dinheiro emprestado às atletas e sumiu devendo a todos e sem sequer ter inscrito um time completo para começar o torneio.

O Gama estreou no Candangão feminino, contra o Ceilândia, com apenas oito jogadoras, pois eram as únicas inscritas no BID (Boletim Informativo Diário) apesar de já terem anunciado 16 atletas no elenco naquele momento. O presidente do Gama, Weber Magalhães, por sua vez, também se diz enganado: “Ele procurou o Gama, apresentou um projeto e disse que tinha um recurso de R$ 20 mil para arcar com o time no Campeonato Candango Feminino”.

“No primeiro jogo, ele não trouxe documento de ninguém. Foi quando começamos a ficar preocupados”, diz Weber Magalhães.A volante Lorena Gonçalves diz que saiu de Belo Horizonte para jogar no Distrito Federal e que chegou a dar dinheiro a Ítalo. “Fomos treinar sem comer, fomos jogar sem saber se teríamos o que comer quando voltássemos, jogamos com oito em campo e sem saber o que iria acontecer, porque ele nos prometeu várias coisas”, descreve.

Ludymila Bárbara, lateral do Gama, conta que tirou dinheiro do próprio bolso para comprar alimentação para as colegas do time e pagar parte das contas de uma pensão no Lago Sul, que seria o alojamento das jogadoras de fora de Brasília durante o campeonato. “Como ele não tinha dinheiro para pagar a pousada, foi até a casa da minha família e pediu para que as meninas pudessem ficar lá”, conta Ludymila. Sete atletas que não são do Distrito Federal seguem morando com ela e a família, no Gama, sem condições financeiras de voltar para as respectivas cidades.

O presidente do Gama explica que o clube só foi saber das condições das atletas no meio do campeonato. “As meninas tiveram atenção da gente depois que soubemos do que ele estava fazendo. O Wendel Lopes, diretor jurídico do clube, pagou arbitragem, transporte e alimentação para o último jogo, foi atrás de documentação para pagar passagens de volta dessas meninas”, conta Weber Magalhães.

O presidente diz que não sabia das jogadoras vindas de fora nem da pensão para alojá-las. Segundo Weber, o Ítalo foi proibido de entrar no Centro de Treinamento e expulso pelos seguranças do clube quando apareceu em um jogo, após tomarem conhecimento da conduta dele. Esta não é a primeira situação do tipo no futebol feminino do DF. Ex-jogadoras do Cresspom denunciaram o clube e o presidente por calote, contratos precários e alimentação inadequada entre 2017 e 2019.

Gama diz não saber se entrará na Justiça

Mas o presidente do clube com 45 anos de história, que foi campeão da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro masculino em 1998 e já figurou na Série A diz ainda não saber se o clube tomará medidas jurídicas contra o homem. “Acabou o campeonato no domingo e a primeira coisa que nos preocupamos foi devolver as meninas para casa e pagar a arbitragem. Daqui para frente, veremos o que podemos fazer em relação a ele.”

A reportagem tentou contato com o Ítalo, por meio de telefonemas, mas todas as tentativas caíram em uma mensagem automática que dizia que o “telefone encontra-se bloqueado para este tipo de chamada”. Entre as jogadoras, a indignação é geral. “O Ítalo Batista à frente do Gama feminino destruiu sonhos”, lamenta a centroavante Jade Cristina.

Além da motivação de uma com a outra dentro do elenco, o time contou com ajuda de jogadoras de outras equipes e da comissão técnica, comandada pelo treinador Singo Santos a convite de Ítalo. “Eles não nos abandonaram. O Singo arrumou um campo para treinarmos, porque começamos trabalhando em um campo society, de grama sintética, sendo que todos os nossos jogos foram em gramado natural”, relata Ludymila.

“Vamos fazer o futebol feminino ter força, porque a gente precisa muito. Mais do que dinheiro, mais do que tudo, a gente precisa que o futebol feminino tenha força, tenha nome e seja valorizado.”
Lorena, volante do Gama.

“Foi uma falta de sinceridade do cara e uma série de mentiras”, indigna-se Singo. “Depois vimos que ele queria apenas arrecadar o dinheiro das meninas. Até organizamos uma vaquinha para fazermos a inscrição de cinco atletas no campeonato”, conta o treinador. Sem receber pelo trabalho, Singo se viu no mesmo barco que as atletas e decidiu seguir com a proposta de disputar a competição. “Teve  treino que elas não haviam tomado o café da manhã. Nós paramos o treino, compramos café e frutas e voltamos depois que elas comeram.” 

Mesmo assim, Singo ressalta que a entrega delas foi admirável. A volante Lorena orgulha-se do tanto que a equipe fez no campeonato diante das condições precárias que encontraram para treinar e jogar. O Gama conquistou uma vitória e ficou com três derrotas nas quatro partidas que disputaram pelo Candangão feminino de 2020.

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