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Katie Sowers Stephanie Campbell/Divulgação

“Ser treinadora deveria ser tão normal quanto ser médica”, diz 2ª técnica da NFL

Publicado em Futebol americano

Além do início da 52ª temporada regular da National Football League (NFL), principal liga de futebol americano dos Estados Unidos, esta quinta marca também a temporada na qual a segunda assistente técnica atuará em tempo integral na história da competição.

No entanto, a estreia oficial de Katie Sowers, assistente técnica da equipe ofensiva do San Francisco 49ers, é somente no próximo domingo, quando o atual time enfrenta o Carolina Panthers, às 17h25 (horário de Brasília), em casa, no Levi’s Stadium, na Califórnia. O blog Elas no ataque conversou com a Katie para saber como é representar as mulheres na liga e qual a expectativa para a temporada.

A conquista é importante para Katie, mas a treinadora acredita que ainda está longe do ideal, já que a ausência de mulheres na liga é perceptiva. Aos 31 anos, Katie é única técnica mulher da liga na temporada. Antes dela, somente Kathryn Smith havia sido assistente técnica integral do Buffalo Bills na última temporada, em 2016. Porém, Kathryn não permaneceu na equipe este ano.

“Mal posso esperar pelo dia em que ser uma mulher no campo de futebol será tão normal quanto ser uma médica ou uma advogada”

Katie Sowers,  assistente técnica do San Francisco 49ers

Apesar de representar uma minoria no futebol americano, Katie afirma que nunca enfrentou preconceito na carreira por ser mulher. Porém, encontrou ignorância no caminho. “Eu acredito firmemente que quanto mais entendemos que estamos neste processo de romper um campo dominado por homens, mais podemos mudar esse estereótipo que existe”, esclarece. E o envolvimento de Katie com a modalidade começou cedo. Desde pequena, o esporte sempre foi o favorito, mas a técnica não imaginava que mulheres podiam jogar a modalidade.

Como o pai era treinador de basquete universitário nos Estados Unidos, ela pensava que seguiria os mesmos passos quando fosse mais velha. “Quando eu encontrei com o futebol feminino mais tarde, eu sabia que tinha que voltar ao esporte que eu cresci adorando jogar. Então, continuei jogando por mais oito anos”. Katie jogou profissionalmente no KC Titans e defendeu a seleção americana, mas infelizmente teve que abandonar o campo por uma lesão no quadril. Nem por isso, deixou de se envolver com o esporte.

“Eu sempre soube que seria uma técnica. Quando eu estava perto do final da minha carreira de jogadora, eu queria e sabia que teria que trabalhar duro para me tornar uma técnica em tempo integral”, recorda. A porta de entrada para a NFL foi o programa Bill Walsh Diversity Coaching Fellowship. Em 2016, Katie se tornou a segunda mulher a participar do projeto que funciona como uma espécie de estágio que acontece na pré-temporada.

Katie participou do programa por dois anos. Ano passado, Katie foi selecionada e participou do estágio pelo time Atlanta Falcons. Este ano, a ex-jogadora foi chamada para integrar o San Francisco 49ers na pré-temporada. Ao final do programa, Katie recebeu o convite para estender o trabalho durante a temporada regular deste ano. “Sem esse programa, seria quase impossível para mim estar onde estou agora”, considera Katie.

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Katie trabalhará com os wide receivers, função responsável pela recepção da bola | Foto: Stephanie Campbell/Divulgação

Para a ex-jogadora, o programa é um ganho para os técnicos e para os estágiários contemplados.

“O programa permitiu aos treinadores ver o que eu poderia trazer para a equipe e, ao mesmo tempo, me possibilitou aprender com algumas das melhores mentes do futebol”,

Katie Sowers

Sobre a temporada, a assistente técnica se diz animada. Katie trabalhará com os wide receivers, função responsável pela recepção da bola no jogo. “Esta será uma temporada divertida e todos vão continuar a ver a resiliência deste time”, aposta. Na avaliação de Katie, a liderança de técnico Kyle Shanahan e do gerente geral John Lynch traz ao time uma energia positiva. “Kyle é uma das melhores mentes no futebol americano. Se tem alguém que consegue liderar um time ao sucesso, esse alguém é Kyle”, completa.

Homossexualidade

Além de ser a segunda técnica mulher da liga, Katie se tornou a primeira treinadora da liga a assumir sua homossexualidade. Em uma entrevista ao site Outsports, a treinadora, homossexual assumida, afirmou que uma das coisas mais importantes é ser fiel a quem você é. “Há tantas pessoas que se identificam como LGBT na NFL que, como em qualquer negócio, não se sentem confortáveis em tornar pública sua orientação sexual”, disse a treinadora ao portal.

Durante a entrevista, Sowers conta que se assumiu para a família quando estava na faculdade e que teve desafios, mas teve o apoio dos familiares. “Quanto mais pudermos criar um ambiente que acolhe todo tipo de pessoa, sem se importar com a raça, gênero, orientação sexual, religião, mais podemos ajudar a aliviar a dor e o peso que muitos carregam todo dia”, ressalta.

Confira a entrevista na íntegra:

Katie Sowers
31 anos
Assistente técnica da equipe ofensiva do San Francisco 49ers

Desde quando você se interessou pelo futebol?
Em toda a minha vida, eu competi em esportes. O futebol sempre foi meu esporte favorito. No entanto, quando eu era pequena, não sabia que as mulheres podiam jogar. Como meu pai era treinador de basquete universitário, eu acreditei que iria treinar basquete quando fosse mais velha. Quando eu encontrei o futebol feminino mais velha, eu sabia que tinha que voltar ao esporte que cresci adorando jogar. Então, eu continuei a jogar futebol por 8 anos.

Você imaginou que um dia estaria trabalhando na NFL?
Eu sempre soube que eu seria uma treinadora e quando eu me aproximei do final da minha carreira como jogadora, eu sabia que queria trabalhar duro para me tornar uma treinadora de futebol em tempo integral. Em 2014, eu postei uma foto no meu Instagram afirmando que eu iria ser técnica na NFL. Isto foi depois que Becky Hammon foi contratada como assistente técnica na NBA.

Ser a única mulher a trabalhar como treinadora assistente na liga representa o que para você?
Eu acho que isso continua sendo um grande passo na direção certa, mas até o dia em que ser uma treinadora não seja manchete, eu não acredito que estamos onde precisamos estar. Mal posso esperar pelo dia em que ser uma mulher no campo de futebol será tão normal quanto ser uma médica ou uma advogada.

No ano passado, você participou do programa Bill Walsh Diversity Coaching Fellowship. Como entrou no programa este ano?
Este programa é extremamente importante porque permite um caminho para se tornar treinador que muitos podem não ter tido de outra forma. Fui apresentada ao projeto pelo gerente geral assistente do Atlanta Falcons Scott Pioli. Ele foi meu mentor e continua a me orientar ao longo da minha carreira.

Quanto o programa foi importante para sua carreira na NFL?
Sem esse programa, seria quase impossível para mim estar onde estou agora. Ele permitiu aos treinadores ver o que eu poderia trazer para uma equipe e, ao mesmo tempo, me possibilitou aprender com algumas das melhores mentes do futebol.

Acha que há ausência de mulheres trabalhando na liga?
Com certeza.

Em sua carreira, você sofreu algum preconceito por ser uma mulher envolvida com o futebol?
Eu não encontrei “preconceito”, mas mais ignorância. Muitas pessoas não sabem que as mulheres jogam futebol. Quando, na realidade, milhares de mulheres praticam a modalidade em todo o mundo. É importante entender que isto é um processo e é mais importante compartilhar minha história como uma mulher que jogou futebol e esteve envolvida com o jogo, do que me preocupar com a maneira diferente que eu possa ser tratada. Eu acredito firmemente que quanto mais entendermos que estamos neste processo de romper um campo dominado por homens, mais podemos mudar esse estereótipo que existe.

O que espera da temporada do San Francisco 49ers?
Esta será uma temporada divertida para o time e todos continuarão a ver a resiliência desta equipe. A liderança de Kyle Shanahan e de John Lynch traz uma energia positiva que continuará a levar essa equipe ao próximo nível. Estou animada para fazer parte desta jornada.

O que acha do trabalho do treinador Kyle Shanahan?
Kyle é, indiscutivelmente, uma das melhores mentes do futebol americano. Se alguém pode liderar uma equipe para o sucesso, esse alguém é Kyle.

Existe alguém que você tem como inspiração?
Minha família sempre servirá como minha inspiração porque eles me criaram em um ambiente que promove essa mentalidade de mente aberta, na qual os sonhos não têm barreiras.

No seu Facebook, você disse que seu amigo e mentor Scott Pioli ajudou a quebrar as paredes na NFL, que há anos foram fechadas para algumas pessoas. De que pessoas estava falando?
Em qualquer indústria ou negócio, nós, como sociedade, muitas vezes estereotipamos pessoas por causa de quem elas são (raça, gênero, orientação sexual, religião, etc.) e fazemos pressupostos sobre o que eles podem e não podem fazer. Quando fazemos suposições, às vezes, inconscientemente, eliminamos automaticamente algumas oportunidades para essas pessoas. Scott Pioli é um verdadeiro exemplo do impacto que uma pessoa pode fazer quando coloca tudo de lado e abre a porta da oportunidade.

Que mensagem você enviaria para as mulheres que querem prosseguir uma carreira no futebol americano?
Eu aprendi desde cedo que o talento pode ir longe e que você tem que trabalhar pelo o que quer, mas, o que é mais importante, é acreditar em si mesmo. Descobri que, para que alguém acredite em si mesmo e traga o seu melhor, é preciso encontrar pessoas à sua volta que também acreditam em você e expressem isso. Às vezes, passamos o dia pensando que as pessoas sabem o próprio valor, mas, na minha opinião, este mundo está cheio de pessoas que duvidam de si mesmas e disfarçam com uma demonstração de confiança. Como treinadora e professora, temos que encontrar uma maneira de tirar o melhor de todos os atletas e funcionários. Isso começa com você se permitir em ter a capacidade de ver o potencial de cada pessoa e mostrar que acredita nela. Eu tive sorte o bastante para saber que as pessoas acreditavam em mim, e, então, comecei a confiar em mim mesma.

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