Após a repercussão negativa do anúncio da contratação de Juninho, jogador do Sport, o Corinthians publicou nesta quinta-feira (09/8) a desistência da empréstimo do atleta. Juninho responde a processo por agressão, ameaça e injúria contra uma ex-namorada. A negociação gerou mais revolta por ter sido anunciada na última terça-feira (07/8), quando foi comemorado 12 anos da Lei Maria da Penha.
Um nota assinada por Andrés Sanchez, presidente do clube paulista, e divulgada no site do Corinthians esclareceu que o time considerou as manifestações contrárias de torcedoras e torcedores e desistiu da contratação do jogador. “Considerando as inúmeras manifestações de torcedoras e torcedores contrários à eventual contratação de Juninho, informamos que ele não fará parte de nosso quadro de funcionários. O momento exige que o congraçamento de mentes em torno da causa feminista se sobreponha a quaisquer outras considerações”, diz a nota.
O informe, que deixa claro que Juninho não fará parte do quadro de funcionários do time, também afirma que o clube aumentará a importância do tema sensível “em um ambiente sabidamente machista como o futebol”. “Atuaremos no sentido de difundir por todas as instâncias do clube essa doutrina para evitar ocorrências como essa e formaremos parcerias com instituições que também cuidem da ressocialização dos agressores homens para que a violência contra a mulher acabe no Brasil”, afirma.
A contratação por empréstimo foi anunciada pelo Sport, que divulgou que o atleta havia assinado contrato até dezembro de 2019 com o clube paulista. Ao saber da notícia, torcedores do Corinthians se manifestaram contra o fato e criaram uma campanha para que o time desistisse da aquisição. A hashtag #JuninhoNoCorinthiansNão se espalhou no Twitter.
Que torcida FODA! Obrigada a TODOS os Corinthianos que estão apoiando a TAG #JuninhoNoCorinthiansNão! Nós mulheres sofremos diariamente agressões físicas/verbais/psicológicas. Ver a galera apoiando, principalmente os homens, é gratificante demais.
RESPEITA AS MINA, PORRA!!!!— rafa (@RafaCoelho_) August 8, 2018
NÃO adianta fazer tag #RespeitaAsMina
NÃO adianta entrada gratuita pra mulheres em amistoso, incentivar ir ao estádio
NÃO adianta se pronunciar sobre os 12 anos da lei maria da penhaNADA DISSO adianta, se dá emprego a quem nos oprimi, agride e mata! #JuninhoNoCorinthiansNao
— mi (@mxcaely) August 8, 2018
Promissor no campo, mas problemático fora
No time profissional do Sport, jogou 37 partidas. O atacante chegou a ser convocado pela Seleção Brasileira Sub-20 em 2017, e realizou três jogos com a camisa verde e amarela. Na época, Juninho tinha 18 anos. Seis meses após a convocação, o atleta foi indiciado por violência doméstica, injúria e ameaça a uma ex-namorada.
Corinthians x machismo
Em abril, a estreia do Corinthians na Série A1 do Campeonato Brasileiro feminino de futebol foi marcada por uma campanha contra o machismo. A equipe vice-campeã brasileira de 2017 entrou em campo com uma camisa, que estampava frases machistas no local onde, normalmente, ficam os patrocinadores.
Os comentários como “mulher não pode estar no futebol” ou “futebol feminino só vai ser bom quando acabar” estampados nas camisas das atletas faziam parte da campanha #CaleOPreconceito que convidava empresas a patrocinarem o time para cobrir as frases com as respectivas marcas.
Além disso, o clube declaro apoio pelas redes sociais a várias campanhas contra o machismo. Na última terça, o clube publicou nas redes sociais uma mensagem de apoio aos 12 anos da Lei Maria da Penha.
Já são 12 anos da conquista da Lei Maria da Penha. Apesar disso, a realidade ainda é de muita violência (física e psicológica) contra as mulheres brasileiras. O #Timão apoia a luta pela igualdade, respeito e pela vida.
Não silencie o abuso, denuncie. Ligue 180.#NenhumaAMenos pic.twitter.com/fUVzCu8Rv8
— Corinthians (@Corinthians) August 7, 2018
Veja a nota na íntegra:
Ao entabular negociações com o atleta Juninho, o Corinthians visava não só atrair um promissor talento futebolístico, mas também encetar um processo de ressocialização dele. Sabedor de antecedentes desabonadores no seu passado, acreditamos que um jovem devidamente orientado teria condições de mudar de banda e, em vez de frequentar o grupo dos que tratam como corriqueira a agressão à mulher, pudesse se tornar um exemplo de evolução moral.
Ou seja, o episódio deveria representar um passo avante naquela que é bandeira sagrada do Timão: lutar contra qualquer forma de discriminação, abominar a violência, aliar-se aos mais fracos. Entretanto, considerando as inúmeras manifestações de torcedoras e torcedores contrários à eventual contratação de Juninho, informamos que ele não fará parte de nosso quadro de funcionários. O momento exige que o congraçamento de mentes em torno da causa feminista se sobreponha a quaisquer outras considerações.
Ademais, estaremos aumentando a importância do enfrentamento pelo Corinthians de um tema sensível como esse em um ambiente sabidamente machista como o futebol. Atuaremos no sentido de difundir por todas as instâncias do Clube essa doutrina para evitar ocorrências como essa e formaremos parcerias com instituições que também cuidem da ressocialização dos agressores homens para que a violência contra a mulher acabe no Brasil.
Andrés Sanchez
Presidente do Sport Club Corinthians Paulista