32C700E3-62B9-43D5-9773-52596A02B68F

Quem seria campeão se a Copa do Mundo fosse de igualdade de gênero?

Publicado em Futebol

Nunca uma Copa do Mundo de Futebol Feminino teve tanto destaque quanto a que se realiza na França, este ano. Mais um sinal do protagonismo crescente assumido pelas mulheres nas mais diversas áreas, essa atenção também provoca reflexões sobre as relações de gênero dentro e fora dos estádios mundo afora.

Diante desse efeito, o Elas no Ataque e o Correio Braziliense se perguntaram: dos países participantes da Copa da França, qual deles seria o vencedor em um campeonato da igualdade entre os gêneros? Para chegar a uma resposta, foi organizada uma competição composta pelas mesmas etapas do evento francês: fase de grupos, oitavas, quartas, semifinais e a grande final.

Para determinar os vencedores dos embates, recorreu-se à última edição do Global Gender Gap Report, relatório organizado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM). Publicado em novembro de 2018, o documento compara a situação de homens e mulheres em 149 países, organizando-os em um ranking que vai do mais igual ao mais desigual.

Nesta Copa da Igualdade de Gênero, classificam-se na fase de grupos as seleções com a melhor pontuação no ranking geral do FEM. Já as fases seguintes levam em consideração os quatro aspectos analisados para a elaboração do relatório: igualdade econômica, representatividade política, acesso à saúde e acesso à educação.

Fase de grupos

Brasil é eliminado logo na primeira fase, ficando em último lugar de seu grupo

E se a Copa do Mundo feminina fosse pela igualdade de gênero? |
Copa da Igualdade: classificados estão marcados em amarela | Ilustração: Lucas Pacífico

A Copa da Igualdade de Gênero começa igual ao mundial de futebol feminino, com os 24 times divididos em seis grupos. E, como no torneio de futebol, passam para a próxima fase os dois melhores colocados de cada grupo e os quatro melhores terceiros colocados.

Como nesta etapa o que conta é a classificação geral no ranking do Fórum Econômico Mundial (FEM), o resultado é bem diferente do que se observou no Mundial da França. Um exemplo claro é o Grupo C, do Brasil. Com a 95ª posição no raking, o país é eliminado logo na primeira fase, ficando na lanterna, atrás de Austrália (39º país mais igualitário do mundo), Jamaica (44º) e Itália (70º).

Oitavas de final (igualdade econômica)

Na segunda fase, a anfitriã França é eliminada pela Jamaica

E se a Copa do Mundo feminina fosse pela igualdade de gênero? |

Nas oitavas de final, o critério adotado para definir os vencedores de cada embate foram os direitos econômicos das mulheres. De acordo com o Global Gender Gap Report, para compor essa categoria, são levados em consideração: a participação da mulher nessa área, a remuneração estimada em comparação à de homens e o avanço percebido de um ano para o outro.

De acordo com o documento, os dados sugerem que o poder econômico está “tipicamente nas mãos dos homens”, enquanto as mulheres ainda tendem a realizar a maioria das tarefas não remuneradas (como atividades domésticas). “No local de trabalho, as mulheres ainda encontram obstáculos em assumir cargos gerenciais ou de altos funcionários”, acrescenta o documento.

Nesse critério, o país melhor colocado no ranking é a República Democrática do Laos, que não está na competição. Entre as participantes do Mundial, a nação que se sai melhor nesse quesito é a Suécia, em 9° lugar, que vence facilmente o confronto contra a África do Sul, que está em 91°. Já a Jamaica, em 29° lugar, desbanca a anfitriã França, uma das favoritas ao título no torneio futebolístico, mas que amarga a 63ª posição no ranking de igualdade econômica entre gêneros.

Quartas de final (participação política)

A presença das mulheres na política faz com que sejam eliminados EUA, Jamaica, Austrália e Suécia

E se a Copa do Mundo feminina fosse pela igualdade de gênero? |
Copa da Igualdade: classificados estão marcados em amarela | Ilustração: Lucas Pacífico

A representatividade política, segundo aspecto analisado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) para compor o ranking global da igualdade de gênero, é o que define as seleções vencedoras das quartas de final. Nesse quesito, são levadas em conta a participação nas tomadas de decisão, a proporção de mulheres e homens em cargos ministeriais e parlamentares e a presença de mulheres no comando do poder Executivo nos últimos 50 anos.

“A maioria das mulheres em cargos de chefe de Estado foi eleita na última década. Apesar dessa evolução recente, ainda há apenas 17 mulheres chefe de Estado ou primeiras-ministras entre os países avaliados em 2018”, afirma o documento. A representação melhora um pouco entre ministros e congressistas, mas, em todo o mundo, as mulheres representam apenas 18% da composição dos ministérios.

Novamente, a melhor colocada nesse critério não é uma participante da Copa: a Islândia. Dos times que chegaram às quartas de final, a Noruega é a mais bem posicionada, em terceiro lugar. Naquele país, 41,4% dos parlamentares e 38,9% dos ministros são mulheres.

Além da Noruega, avançam para a semifinal, Nova Zelândia (9ª colocação), Inglaterra (11ª) e Alemanha (12ª). Um país com ótima representatividade feminina na política (7º lugar nesse quesito e 3º no ranking geral), a Suécia acaba eliminada por ter enfrentado a Noruega. Já os Estados Unidos, potencial do futebol feminino, acaba eliminado devido à baixa presença de mulheres na política: 98º lugar

Semifinal (acesso à saúde)

Noruega e Alemanha desbancam Inglaterra e Nova Zelândia

E se a Copa do Mundo feminina fosse pela igualdade de gênero? |
Copa da Igualdade: classificados estão marcados em amarela | Ilustração: Lucas Pacífico

Apenas Inglaterra, Noruega, Nova Zelândia e Alemanha sobreviveram até esta fase da competição. Na semifinal, o que está em jogo é o acesso à saúde. Para contabilizar os pontos nesse critério consideram-se a expectativa de vida e a proporção sexual ao nascer — já que alguns países têm “falta de mulheres”, resultado de culturas que valorizam crianças do sexo masculino.

“Esta medida prevê uma estimativa do número de anos que mulheres e homens podem esperar viver em boa saúde, tendo em conta os anos perdidos com violência, doenças, desnutrição e outros fatores relevantes”, explica o documento do Fórum Econômico Mundial.

O relatório mostra que as mulheres tendem a viver mais em todos os países que foram à Copa do Mundo da França, mas é a Noruega e a Alemanha que têm as melhores colocações entre as semifinalistas: 95ª e 85ª, respectivamente.

Final (acesso à educação)

Noruega bate a Alemanha no ranking da igualdade educacional e vence a copa

E se a Copa do Mundo feminina fosse pela igualdade de gênero? |
Copa da Igualdade: classificados estão marcados em amarela | Ilustração: Lucas Pacífico

Chegam à final Noruega e Alemanha, dois países que, coincidentemente, já foram vitoriosos no mundial de futebol feminino. Enquanto o time norueguês venceu a primeira edição do torneio, em 1991; as alemãs conquistaram o primeiro título em 2003 e o bicampeonato em 2007.

No ranking geral de igualdade de gênero, os dois países ocupam, respectivamente, a 2ª e a 14ª posições. Mas o vencedor da competição será aquele que se sai melhor no quesito acesso à educação.

Em seu relatório, o Fórum Econômico Mundial explica que, nesse aspecto, são avaliados o desempenho de homens e mulheres na educação primária, secundária e terciária, assim como a proporção de mulheres com pós-doutorado (PhD).

No confronto entre os dois países, a Noruega se sai melhor, com a 41ª colocação no ranking de igualdade educacional. A Alemanha fica em 97º nesse quesito. A campeã, portanto, é a Noruega, um prêmio merecido para o país que no ranking geral do FEM fica em segundo lugar, atrás apenas da Islândia, que não participa da Copa.

Veja a tabela completa da Copa da Igualdade: 

Por Deborah Fortuna, Ana Carolina Fonseca e Maíra Nunes
Ilustrações: Lucas Pacífico

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*