A felicidade era geral entre os garotos da Seleção Brasileira com a conquista do tetracampeonato mundial sub-17, no Estádio Bezerrão, no domingo. Um deles trocou as músicas de Charlie Brown Jr. e MPB pelo pagode arranhado pelos colegas, com batuques e pandeiros. A alegria era dividida com o sentimento de gratidão. No caso do goleiro Cristian, os agradecimentos incluem uma mulher que fez história como goleira da Seleção e que, após aposentar as luvas, instruiu os primeiros passos, ou melhor, as primeiras defesas de Cristian.
Marlisa Wahlbrink, mais conhecida como a goleira Maravilha, apesar de ser nascida em Constantina, no Rio Grande do Sul, ganhou o apelido carinhoso pelo nome da cidade em que cresceu: Maravilha, a oeste de Santa Catarina, perto de Chapecó. Foi lá também onde nasceu o goleiro Cristian, de 17 anos, que recebeu os primeiros treinamentos para a posição que exerce por meio da ex-jogadora. Ela era a preparadora de goleiros do Projeto Genoma Colorado Maravilha, uma escolinha de futebol ligada à prefeitura local.
“Praticamente graças à ela que eu cheguei onde cheguei hoje, campeão do mundo com 17 anos. Antes de eu ir para o Atlético Mineiro, eu jogava no Genoma, uma escolinha em Maravilha, e era ela quem me passava os treinos”, agradece Cristian, que soltou um largo sorriso ao ouvir o nome da tutora.
Após trabalhar com Marlisa Wahlbrink na cidade natal, o discípulo foi aprovado para integrar as categorias de base do Atlético Mineiro em 2014. Neste ano, o jovem goleiro de Maravilha fez parte do elenco brasileiro que disputou o Sul-Americano Sub-17 e voltou a ser convocado para a Copa do Mundo da categoria, em que foi reserva da equipe que saiu como campeã invicta nos sete jogos disputados.
“Não tenho palavras para descrever o que é estar aqui, o que é ser campeão do mundo com 17 anos, nunca esperei por isso, sempre sonhei, mas não esperava. É muito bom ser campeão”, comemora.
Cristian diz que não costuma conversar a distância com a antiga tutora. Mas, nas oportunidades em que os dois se encontram, aproveitam para colocar o papo em dia e trocar experiências. “Na preparação para o Mundial, na Granja Comary, ela estava lá e conversamos bastante, foi bem legal”, conta o goleiro. Muito feliz a ponto de esquecer a timidez, ele respondeu seguro ao que Maravilha devia estar achando de vê-lo vestindo a amarelinha e com uma medalha de ouro no peito: “Com certeza ela deve estar muito feliz e orgulhosa”.
Maravilha de goleira
Marlisa Wahlbrink defendeu a Seleção Brasileira como atleta de 1995 a 2008. A goleira Maravilha disputou os Jogos Olímpicos de Sydney-2000, mas a principal façanha foi fazer parte da campanha histórica do Brasil que ganhou a medalha de prata nos Jogos de Atenas-2004. Ela também acumula um bronze no Mundial de 1999 e um bicampeonato sul-americano, em 1998 e 2003.
Mesmo após tantas conquistas, a goleira passou por dificuldades para encontrar clubes para atuar. Então aceitou uma proposta para ser preparadora de goleiras e auxiliar do time de futebol de uma universidade no Kansas, nos Estados Unidos.
Formada em Educação Física, Maravilha seguiu se capacitando para exercer a função de preparadora de goleiros. Em agosto deste ano, se tornou a primeira preparadora de goleiras da Seleção Brasileira feminina, onde atua na categoria sub-17, ao lado da técnica Simone Jatobá e da auxiliar Lindsay Camila.
Maravilha cresceu em um meio rural do interior de Santa Catarina em uma família numerosa. A paixão pelo futebol começou ao lado dos irmãos, cinco homens e três mulheres. Quando criança, eram os meninos que ganhavam a bola de presente, mas a brincadeira era compartilhada por todos. Hoje, o DNA no futebol segue representado pelas sobrinhas Maike e Maiquiele Weber, também arqueiras.
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