Aos 38 anos, Bibiana Steinhaus tornou-se a primeira árbitra a apitar na principal divisão da Bundesliga, torneio alemão, neste domingo (10/9). Ela também foi a primeira a atuar na elite entre as sete principais ligas masculinas do futebol europeu*. No mesmo dia, Katie Sowers estreou na maior liga de futebol americano dos Estados Unidos, a National Football League (NFL), entrando para a história como a segunda assistente técnica em tempo integral da competição.
A única mulher entre os 24 árbitros principais do campeonato alemão atuou no empate entre Hertha Berlin e Werder Bremen, que terminou 1 x 1. Para Keka Bagno, integrante do Fórum de Mulheres do Distrito Federal e Entorno, os feitos das mulheres viram notícia por elas serem secundarizadas dentro da sociedade. “Fomos ‘construídas’ para nunca estarmos na linha de frente ou em situações de tomada de decisões”, explica Keka.
Quando há uma mulher que foge a esse comportamento, ela ganha notoriedade, vira manchete de jornais. “Ter uma mulher pautando o que é certo e o que é errado dentro do campo de futebol rompe com essa lógica imprimida pela sociedade. E isso encoraja outras mulheres“, completa Keka. Para a ativista, a visibilidade de uma mulher que ascendeu profissionalmente pela própria competência é importante para mostrar a outras que é possível.
As pioneiras funcionam como uma espécie de vitrine: elas abrem portas e servem de exemplo para outras. Por isso, é importante que as conquistas sejam comemoradas e, principalmente, que ganhem visibilidade. E isso acaba ocorrendo mesmo sem ser necessariamente intencional. “Nunca foi o meu objetivo ser um exemplo da emancipação das mulheres, mas sim arbitrar bem. Isso é o que me importa”, ponderou a árbitra alemã Bibiana, após a estreia na elite do futebol alemão.
Claro que elas também sofrem consequências pelo pioneirismo. Quando entram em território que não costumam ter muitas mulheres, elas viram holofote e, consequentemente, acabam correndo o risco de serem mais cobradas. “Quando uma mulher estreia, causa mais dúvida do que um homem, e tudo gera suspeita de capacitação”, observa a ex-árbitra de futebol Simone Silva, 42 anos, que atuou no quadro nacional de arbitragem da CBF de 2007 até 2016.
A árbitra Bibiana era protagonista em meio a disputa entre Hertha Berlin e Werder Bremen, pela terceira rodada da liga alemã. A Atuação rendeu elogios. “E ela foi decisiva na partida. Acertou um lance difícil que resultou no primeiro gol do Hertha Berlin”, publicou o Uol Esporte, sobre o lance em que o jogador do Hertha foi derrubado na entrada da área, mas a árbitra esperou a jogada seguir antes de marcar a infração. A vantagem foi acertada, tanto que resultou em gol. O portal ainda concluiu: “A juíza não é de dar muito papo e foi soberana na partida”.
A história de Bibiana Steinhaus com o futebol começou como zagueira, no SV Bad Lauterberg, time que leva o nome da cidade da Baixa Saxônica onde ela nasceu. Há 20 anos, ela decidiu seguir calçando chuteiras, mas passou a assumir o apito, herança do pai, ex-árbitro. A essa altura, ela também trabalhava como inspetora da polícia.
No futebol, apitou as Copas do Mundo femininas de 2011 e 2015 e a final olímpica do futebol feminino dos Jogos de Londres-2012. Em 2014, quando atuava como quarta árbitra na partida entre Bayern de Munique e Borussia Monchengladbach, pela Copa da Alemanha, se envolveu em um entrevero com Pep Guardiola. O treinador estava no banco do Bayern e, ao reclamar do tempo extra dado no jogo, puxou o braço de Bibiana.
Mesmo que a luta seja para o dia em que ser árbitra ou técnica não precise ganhar as manchetes, enaltecer as pioneiras em cargos ocupados majoritariamente por homens é importante. Mas por quê? A resposta está na representatividade. É extremamente importante que as mulheres se enxerguem em todas as profissões e que se inspirem em mulheres incríveis e iguais a elas para verem que é possível almejar esse ou aquele cargo.
“O futebol sempre foi meu esporte favorito. No entanto, quando eu era pequena, não sabia que as mulheres podiam jogar”, contou Katie Sowers, assistente técnica da equipe ofensiva do San Francisco 49ers, em entrevista ao blog Elas no Ataque. Aos 31 anos, ela é a única técnica mulher da NFL na temporada 2017/2018. “Isso continua sendo um grande passo na direção certa, mas, até o dia em que ser uma treinadora não seja manchete, eu não acredito que estamos onde precisamos estar”, ressalta Katie.
Representatividade, segundo o dicionário Aurélio:
1- Caráter do que é representativo;
2- Qualidade reconhecida a um homem, a um organismo, mandatado oficialmente por um grupo de pessoas para defender os seus interesses.
*Dentre as sete principais ligas do futebol europeu, foram considerados os campeonatos de França, Espanha, Itália, Inglaterra, Portugal e Holanda, além da Alemanha.
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