Ana Sátila, 23 anos, é personagem de destaque no desenvolvimento da canoagem slalom no Brasil. Caçula da delegação brasileira nos Jogos de Londres-2012, aos 16 anos, a canoísta confirmou o potencial no Campeonato Mundial de 2017, disputado em Pau, na França: conquistou as medalhas de prata, no caiaque extremo (k1), e de bronze, na canoa (C1). Classificada para as Olimpíadas de Tóquio-2020, ela visa “inspirar as novas gerações”.
“Esse é meu principal objetivo no esporte e da canoagem brasileira. Quero deixar um legado e, para isso acontecer, só inspirando as novas gerações”, almeja a atleta da cidade mineira de Iturama, que teve de se aventurar como uma das poucas mulheres em meio a um esporte radical. “Eu tive um começo muito difícil porque era uma das únicas atletas femininas na canoagem brasileira, a única a viajar com toda a equipe masculina”, conta.
Aos 15 anos, Ana Sátila ganhou um “segundo pai” e o esporte brasileiro, um técnico que revolucionaria a canoagem slalom no país. Em 2011, o italiano Ettore Vivaldi foi contratado pela Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) para comandar a modalidade e ficou no cargo até 2016, após as Olimpíadas do Rio. “Ele era como um pai para mim e, com certeza, também foi um diferencial para a canoagem brasileira”, avalia a canoísta.
Ettore deixou o comando da modalidade após cinco anos de trabalho, porque a confederação precisou se adequar a uma nova realidade econômica e estrutural. Ana Sátila cogitou pagar do próprio bolso para seguir treinando na Europa. “Ele mudou totalmente nosso modo de viver, como enxergávamos o esporte, dentro e fora da água. Ele se preocupava com os atletas em geral de uma maneira muito bonita, não só na parte esportiva, mas também na parte pessoal e nos ensinou muito”, explica.
Mas o destino reservou à canoísta brasileira outro estrangeiro para estabelecer uma nova parceria vencedora. O namorado e um dos técnicos dela é o francês Mathieu Desnos, que mora no Brasil desde o início de 2018. “Sou uma pessoa que preciso confiar no meu técnico e preciso ter esse sentimento de confiança. Depois do Ettore, só consegui encontrar isso de novo com o Mathieu”, explica a brasileira.
Especialista no K1 e bronze no Mundial Sub-23 em 2017, ele abriu mão de disputar as Olimpíadas de Tóquio como atleta francês para defender o país verde-amarelo na condição de treinador. “Não foi nada pensado que ele viesse para o Brasil e que começasse a me treinar. Realmente, as coisas aconteceram”, conta Ana Sátila. Apaixonados, os dois entram na água todos os dias juntos e têm uma parceria que costuma ser compartilhada nas redes sociais.
Ana Sátila foi campeã mundial júnior em 2014 e vice-campeã sub-23 em 2015. Aos 20 anos, chegou às Olimpíadas do Rio-2016 como heptacampeã brasileira no K1 (caiaque individual). A participação nos Jogos no Brasil, no entanto, foi frustrante. A mineira sofreu uma penalidade na prova e foi eliminada ainda na primeira fase, terminando na 17ª posição.
Da Rio-2016, a canoagem herdou o Parque Radical de Deodoro como legado. “Ele está funcionando brilhantemente. Treinar nesta pista, que é uma das melhores do mundo inteiro, nos proporcionou bom desenvolvimento. Nossa preparação foi para outro patamar”, avalia Ana Sátila. O circuito é parecido com o das Olimpíadas de Tóquio. “O Brasil tem muito o que mostrar ainda, mas é um passo importante”, completa a canoísta.
Ana Sátila praticamente cresceu dentro da água. Aprendeu com o pai a ter disciplina nos treinamentos. Aos cinco anos, começou na natação, modalidade que o pai sonhava vê-la competir. Aos nove, no entanto, a filha recebeu o convite de um professor de canoagem para conhecer outra modalidade. “Desde o início, eu me apaixonei de verdade, não conseguia mais faltar a nenhuma aula, treinava todos os dias e gostava. Meu pai vendo aquilo começou a me apoiar bastante também”, diz Ana Sátila.
Aos poucos, a mineira foi participando de campeonatos municipais, estaduais e Copa Brasil de canoagem, mostrando potencial. A paixão, porém, esbarrou no desafio de se inserir em um esporte que era predominantemente masculino. “Eu procurava me encaixar muito no grupo dos meninos até que entendi a necessidade de ser eu mesma e continuar lutando do meu jeito”, lembra Ana Sátila. Apesar do estranhamento inicial, ela diz que o time masculino sempre a acolheu bem e teve papel fundamental na carreira dela.
Ainda assim, Ana Sátila tem consciência da importância da representatividade que é competir na canoagem slalom. “O papel da mulher no esporte deu um salto nos últimos anos. Temos conquistado nosso espaço e mostrado do que somos capazes”, analisa. Ela cita os Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 como exemplo de maior equilíbrio entre os dois gêneros.
Entre todas as modalidades, dos 484 atletas brasileiros, 249 eram homens e 236 mulheres, o equivalente a 48,7% do total. “É uma esperança para todas as meninas da nova geração que estão iniciando no esporte e podem se espelhar nas nossas conquistas. Isso acaba sendo uma influência grande para essa nova geração”, diz a atleta, que sonha em “continuar buscando igualdade e o espaço das mulheres na sociedade, dentro ou fora do esporte”.
Nome: Ana Sátila Vargas
Modalidade: canoagem slalom
Idade: 23 anos
Naturalidade: Iturama (MG)
Participações olímpicas: Londres-2012 e Rio-2016
Principais títulos: dois ouros (K1 e C1) no Pan-Americano de Lima-2019; ouro na canoagem slalom extremo no Mundial Rio-2017; pratas no K1 da etapa de Praga da Copa do Mundo de 2019 e de 2016; bronze no C1 da etapa de Praga da Copa do Mundo de 2015; ouro no C1 e prata no K1 dos Jogos Pan-Americanos de Toronto-2015.
Na canoagem slalom, o competidor percorre um percurso de 250m a 400m que conta com 18 a 25 obstáculos, chamados de porta. As portas de cor verde indicam que o atleta deve descer o rio (a favor da corredeira), enquanto, nas de cores vermelhas, é preciso subir (contra a corredeira). O objetivo é passar errando o mínimo possível no menor tempo.
A América do Sul teve a primeira representante feminina nos Jogos Olímpicos de Los Angeles- 1932, quando as mulheres ainda não eram consideradas atletas oficiais. A nadadora Maria Lenk, na época com 17 anos, e outros 68 atletas da delegação brasileira venderam o café que levaram no porão do navio para custear a viagem até a competição. A paulistana foi a primeira nadadora brasileira a estabelecer um recorde mundial. Ela também foi pioneira da natação moderna por ter introduzido o nado borboleta em competições, quando o executou nas Olimpíadas de Berlim-1936 em uma prova de peito.
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