A Copa que deu voz às mulheres caladas por séculos de preconceito – Opinião

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Oswaldo Fumeiro Alvarez, mais conhecido como Vadão, foi dormir na noite de segunda-feira (22/7) fora do comando da Seleção Brasileira de futebol feminino. A demissão levou um mês após a eliminação na Copa do Mundo. Tempo que seria difícil de imaginar caso fosse a seleção masculina na mesma circunstância. Aos 62 anos, o técnico acumula experiência em 17 clubes — mas todos masculinos. A pressão pela saída do treinador, que teve o auge da carreira com o “Carrossel Caipira”, à frente do ofensivo Mogi Mirim, no início da década de 1990, começou com as nove derrotas seguidas na preparação para o Mundial.

Na verdade, a volta de Vadão ao cargo após passagem relâmpaga de Emily Lima já havia sido questionada e amparada por uma onda de protestos das próprias jogadoras, que anunciaram aposentadoria antecipada da Seleção Brasileira por entender falta de seriedade ao futebol feminino por parte da CBF. O Mundial da França apenas evidenciou o que pessoas que acompanham a modalidade no Brasil já sabia: é fundamental colocar profissionais capacitados e inseridos no futebol feminino ou o Brasil seguirá vendo garra em campo, mas não resultado.

Falo depois de uma experiência que mudou não apenas a minha forma de enxergar o futebol feminino, mas de ver a relação das mulheres no mercado de trabalho. Minha sensação foi de viver por 30 dias dentro de uma bolha. Nela, havia uma enorme quantidade de mulheres trabalhando na cobertura de um evento esportivo sob o holofote do mundo inteiro. Incrivelmente, todos os profissionais e torcedores presentes conversavam com essas mesmas mulheres sem questioná-las com um tom de superioridade ou estranhamento. Parecia um sonho, mas era a Copa do Mundo feminina mais vista da história.

Nos bastidores, mulheres e homens que correm contra o tempo na busca por histórias não se olhavam como concorrentes. Apesar de trabalharem em meios de comunicação que disputam leitores e audiência, todos estavam ali com um objetivo maior: o protagonismo das mulheres. Afinal, estava em jogo algo muito maior do que a taça da Copa do Mundo: a voz delas. Uma voz calada por séculos de preconceitos e até leis que restringiam os direitos das mulheres, enfim, ganhava forma de gols, dribles, comemorações com chuteiras sem patrocínio, batom, choros e desabafos.

Eleita a melhor jogadora do mundo por seis vezes, Marta novamente deixou o gramado vestindo a camisa da Seleção com os olhos cheios d’água. Agora com 33 anos, a Rainha do futebol saiu da quinta participação dela em Copa mais distante da conquista do inédito título mundial do que quando estreou na competição, com 17 anos. Na estreia da atacante na competição em que se tornaria a maior goleadora, o Brasil foi eliminado nas quartas de final, pela Suécia, por 2 x 1, após ter terminado como líder do grupo com Noruega, França e Coreia do Sul em 2003.

Mais madura, Marta mudou o discurso na Copa da França, abraçando de vez a luta pela igualdade de gênero e voltando a mostrar preocupação com o futuro da modalidade feminino no país do futebol. Daqui a um ano, o mesmo elenco volta ao campo em busca do inédita ouro olímpico nos Jogos de Tóquio-2020. Apesar do curto período até lá, segue a incógnita sobre quem assumirá o comando da Seleção, assim como sobre quais serão os profissionais que terão a missão de gerenciar o futebol feminino brasileiro, considerando que as mudanças precisam passar da equipe principal à base.

Texto publicado originalmente em coluna do Correio Braziliense

Página de opinião do Correio Braziliense de 23 de julho de 2019
Maíra Nunes

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