Gabriela Rollemberg: “Por que ignorar o potencial feminino na elaboração das leis?”

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À queima-roupa // Gabriela Rollemberg, advogada eleitoral

por Ana Maria Campos

Como mulheres podem ajudar outras mulheres a terem sucesso na política, em um mundo ainda dominado pelos homens?
As mulheres têm inovado no fazer político porque compreenderam que, unidas, têm muito mais força. Basta olhar a evolução da bancada feminina nos últimos anos para perceber que mudou muito seu espaço e o peso nas decisões do Congresso. E por que mudou? Porque muitas mulheres têm revolucionado o fazer político, atuando de maneira suprapartidária. Impulsionadas por uma causa e por propósito comuns, atravessam as fronteiras dos partidos para criar alianças não consideradas pela política convencional. Assim, além de serem mais fortes por estarem juntas, vão contra o personalismo tão arraigado na política. O que importa é fazer, não quem faz. O objetivo é resolver o problema. A bancada feminina passou a atuar de forma conjunta, passando a se utilizar, por exemplo, de autorias coletivas nos projetos de lei. E isso produziu grandes avanços nos direitos das mulheres nos últimos anos, mesmo com um governo conservador no poder.

Aos poucos, elas vão conquistando espaço no poder, mas ainda em minoria. O que falta para as mulheres se igualarem numericamente aos homens nesse mundo e para sua manutenção no poder?
Em 2020, iniciamos o nosso trabalho com a Quero Você Eleita. Construímos uma jornada para as candidatas nas eleições municipais e tivemos a chance de conhecer alguns problemas do Brasil profundo. Entendemos que os problemas da falta de representação política feminina se iniciam muito antes do processo eleitoral. Conhecemos a realidade das mulheres esquecidas pelas políticas públicas e seus próprios partidos políticos nos rincões do nosso país. As candidatas com quem tivemos contato, muitas vezes, não tinham dinheiro para se locomover, para pagar o transporte, nem sempre tinham acesso à internet, algumas não sabiam sequer manusear o celular, não tinham dinheiro para pagar alguém para tomar conta do filho e, enquanto foram fazer campanha na rua, muitas vezes, não tinham dinheiro nem para comer. O buraco é muito mais embaixo. Além disso, não enxergamos um interesse real dos partidos políticos de eleger mulheres. Na nossa experiência, quando os partidos mandaram algum dinheiro para campanha — o que aconteceu como algo absolutamente excepcional —, fizeram isso faltando dois ou três dias para a eleição. Quais são os partidos que, de fato, têm promovido ações reais? E “ações” não é só fazer uma formação, não é só fazer um curso. Eles estão distribuindo esse dinheiro com verdadeiro interesse em eleger uma mulher?

Acha que é importante as mulheres votarem em mulheres?
Sem dúvida. Somos mais da metade da população, metade da força de trabalho. Praticamente a metade dos lares brasileiros
é chefiada por mulheres. Por que ignorar esse potencial na elaboração das leis e políticas públicas?

Não é mais importante escolher alguém com quem se tem identidade, independentemente do gênero?
Ainda que existam homens que possam abraçar a pauta das mulheres, as mulheres são atravessadas por outros desafios pessoais, profissionais e até mesmo fisiológicos. Elas trazem novas formas de olhar o mundo, outras perspectivas. Precisamos implementar leis e políticas públicas que dialoguem com nossas necessidades. Não é por outra razão que nossa participação na arena política produz novos conceitos e inovações até mesmo na nossa linguagem. É só pensar em termos como “feminicídio”, “economia
do cuidado”, “dignidade menstrual” ou “violência política de gênero”, que não existiam antes de termos mulheres nos representando na política.

Como a Quero Você Eleita ajuda nesse processo?
Somos um laboratório de inovação política, que funciona como uma ponte entre os mundos das mulheres, da política e da tecnologia. Conectamos lideranças, soluções, fornecedores e coletivos, promovendo iniciativas colaborativas em todo o país para ampliar a participação das mulheres na política. Fornecemos consultoria com profissionais de referência das mais variadas áreas necessárias para uma campanha eleitoral: marketing político e digital, estratégia, assessoria de imprensa, gestão de crise, contabilidade, pesquisa, entre outros. E o mais importante: entendemos a relevância de desenvolver a inteligência emocional, a comunicação não violenta e uma cultura de paz.

Como participar?
Vamos realizar um evento especial para as candidatas em 12 de agosto, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. E aderimos ao movimento 15por15 — Pacto pelos 15% com fome, uma rede nacional de solidariedade, idealizada pela Ação da Cidadania. Para se inscrever no evento, basta preencher o formulário e levar 1kg de alimento não perecível. O link para inscrição está na bio do nosso Instagram: @querovoceeleita.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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