Você já fez estágios?
Fiz duas semanas no Atlético-PR, com o Paulo Autuori. Vou fazer no Fluminense, com o Abel Braga, e fui convidado pelo Edu Gaspar (diretor de seleções da CBF) para fazer com o Tite nos jogos contra o Uruguai e o Paraguai.
O que deu para aprender no estágio com o Paulo Autuori?
Eu tenho vivência de mais de 20 anos como jogador. Porém, cuidar de si próprio é uma coisa, dar conta de 40 é outra. Isso é um aprendizado. Mesmo que eu tenha experiência como jogador, é bom trocar informações com treinadores. O Paulo Autuori, hoje, é um gerente, não trata apenas de contratações, interage com analistas de desempenho, auxiliares. Ele tem uma estrutura absurda. Treinador tem essa questão do gerenciamento da equipe que trabalha extracampo.
Você vai ser estagiário do Abel Braga também…
O que eu gosto no Abel é o jeito de lidar com os jogadores. Ele tem o grupo sempre na mão. O elenco respeita os posicionamentos dele. Isso é o grande trunfo do Abel. Vivenciei isso e agora vou trabalhar com ele com olhar de treinador.
Na sequência, vem o Tite, com quem você trabalhou no Caxias.
Exatamente. Nós trabalhamos juntos no Caxias no comecinho da carreira dele. Eu também estava no início da minha como jogador. O Edu Gaspar fala que o Tite gosta muito de mim, cita muito o meu exemplo lá na Seleção. Então, isso abriu as portas para mim. Em termos táticos, ele é muito estudioso. Quero muito a parte técnica e tática do Tite. Assim como o Abel Braga, o Tite tem o grupo muito nas mãos.
Recebeu convite para treinar algum time nos estaduais?
Teve uns namorinhos, mas deixei claro que eu quero primeiro cumprir a questão dos estágios. Depois da Seleção, provavelmente, em abril, eu vou estar no mercado pra valer. Quero começar a ouvir propostas e trabalhar.
Fui aconselhado a ir, sim. Tenho amigos lá fora. Porém, no momento, eu quero acumular experiências no Brasil e praticar, ser treinador de fato. Depois, sim, eu quero ir ao exterior. Nessa primeira fase, eu estudei muito. Eu preciso praticar.
Quem é a sua referência lá fora?
Se eu puder fazer um intercâmbio, o Guardiola é o cara que me agrada, a referência. Eu conheço o Fernandinho do Manchester City, que jogou comigo no Atlético-PR. É uma oportunidade de abertura para um intercâmbio com o Guardiola.
Quais são as suas ideias de jogo?
Por ter sido atacante, gosto de time vertical, ofensivo. Eu sei que, para isso, preciso do resguardo defensivo, uma zaga e um meio de campo bem posicionados, mas sempre buscando o gol.
Poucos ex-atacantes se dão bem como treinadores. O que acontece?
Você tem razão. É mais raro, mesmo. Não tem explicação (risos). Tem o Renato Gaúcho (Grêmio)… O Marco van Basten até comandou a Holanda, mas está fora do mercado. Eu estou chegando para quebrar essa regra.
Está pronto para ser demitido?
Isso até faz parte do curso que fiz na CBF. Não vai ser mais um contrato de jogador, estável. Como treinador, eu posso ficar um ano ou uma semana. Estou preparado para isso. Sei que a vida de treinador, aqui no Brasil, é muito difícil. Vou dançar conforme a música (risos).
E a saúde, está pronta para a nova profissão?
Passei uns dias em Curitiba e fui almoçar com o Levir Culpi, que foi meu treinador. Ele falou assim: ‘Se acha que o seu coração estava pronto para ser jogador, agora é que seu coração vai passar pelo verdadeiro teste’. É isso mesmo. O desgaste é maior. É um trabalho intenso cuidando do elenco profissional, olhando para a base, para a comissão técnica…
A saúde do Muricy Ramalho e do Ricardo Gomes sofreu com a pressão…
Sim, inclusive, no primeiro AVC do Ricardo Gomes, eu estava junto. Foi no vestiário em um jogo contra o Palmeiras. Ele havia conversado comigo um minuto antes. Ele foi para a salinha e os médicos socorreram rapidamente. Foi mais leve. Depois teve aquele mais forte no Vasco. Quando trabalhei com o Muricy, ele estava bem.
Você concorda que existe o técnico boleiro?
O técnico boleiro está tendo menos espaço. No Atlético-PR, onde fiz estágio, é tudo muito estudado. Hoje, os treinadores são muito mais exigidos. Antigamente, quem tinha um pouquinho de noção no futebol caía dentro. Agora, você tem que analisar o time adversário, a sua equipe, conversar com o elenco, a comissão técnica, analistas de desempenho…
Consegue enxergar o 7 x 1 com olhar de técnico?
Acima de questões táticas, há questões psicológicas. A Seleção sofreu um gol e ficou abalada. Foi sofrendo um atrás do outro e se abalou mais ainda. A Alemanha deu uma aula taticamente, mas o Brasil perdeu na cabeça.
Você foi jogador, é dono de construtora, tinha franquia da Livraria Siciliano e recentemente era secretário de Esporte de Caxias. Como essas experiências podem ajudá-lo na carreira de técnico?
Lidar com pessoas é muito difícil. Não posso tratar o jogador A da mesma forma que trato o B. Isso afeta a produção. Tenho que saber conversar com um e com o outro. Eu tenho uma construtora, uma equipe de obras, e preciso respeitá-los para que eu seja respeitado. Era assim também a minha relação com os treinadores e vai ser assim como técnico.
Como ex-dono de livraria, qual é a sua literatura de cabeceira?
Eu gosto muito de biografia. Eu li Onze Anéis: A Alma do sucesso, do Phil Jackson (ex-técnico da NBA) e agora leio Burro com Sorte, do Levir Culpi. Ele me presenteou no último encontro. Ensina que, na carreira de técnico, ocorrem muitas surpresas. Tenho que me preparar para o inesperado. Hoje, o treinador precisa ser um líder. Ouvi falar também de um livro do Alex Ferguson (ex-Manchester United). Está na minha lista.
Como jogador, você era o Washington “Coração Valente”. Agora é Washington Stecanela ou Cerqueira?
Vocês da imprensa costumam colocar sobrenome quando vira treinador (risos). Provavelmente, vou ser Washington Stecanela ou Cerqueira, mas acho que o que vai ficar muito forte, mesmo, é Washington Coração Valente.
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