Quando topou assumir a Seleção Brasileira em junho de 2016, Adenor Leonardo Bachi aceitou (quase) todos os caprichos da CBF para suceder Dunga e realizar o merecido sonho pessoal. Inclusive um beijo constrangedor do presidente banido Marco Polo Del Nero no dia da apresentação, ali mesmo, no auditório da sede da entidade, na Barra da Tijuca, onde anunciou nesta sexta-feira a lista para os amistosos de 10 e 13 de outubro, em Singapura, contra os africanos Senegal e Nigéria.
Três anos depois de se curvar, Tite ainda não entendeu que tem tamanho, envergadura suficiente para se impor, cobrar, dizer não à CBF de vez em quando. Deveria, por exemplo, exigir adversários de ponta na data Fifa, de preferência europeus; e se recusar a usar a data Fifa se a entidade e a parceira Pitch não atenderem ao pedido e fecharem confrontos bizarros contra Guatemala, Honduras, Colômbia, Peru, Senegal, Nigéria…
Nada contra essas seleções. Tudo contra neste momento em que Tite desfalca os clubes no Campeonato Brasileiro, se rende outra vez aos caprichos da CBF, e se queima — sem necessidade — com times, torcedores e a opinião pública. Quem é o culpado do arrastão no Brasileirão? Tite. Neste repetitivo episódio, a última impressão é que fica. Quem dá a cara a tapa é Tite enquanto os cartolas — inclusive os coniventes presidente de clubes e federações — se escondem atrás do terno na hora da convocação.
Tite tem tamanho para se recusar a entrar em campo num gramado ruim, com marcação de futebol americano. Se o produto Seleção é tão importante para ele e a CBF, a camisa pentacampeã do mundo não pode ser exposta daquela forma deprimente nos Estados Unidos e em lugar algum.
Tite tem tamanho para reunir os colegas de profissão no “puxadinho” dele lá na CBF, quem sabe até convida-los para um churrasco na laje no fim de semana e liderar uma cruzada do bem pela reforma do calendário do futebol brasileiro e apresentar a sugestão da categoria à CBF a fim de que ele possa convocar quem quiser sem prejudicar os clubes, ou seja, sem rodadas nas datas Fifa. Tite precisa ser duro, avisar à CBF, parceiros e patrocinadores que a Seleção deixará de entrar em campo em semana de rodada do Brasileirão. Tira-los da zona de conforto. Quem disse que é obrigatório usar todas as datas Fifa disponíveis? A pontuação do ranking da Fifa? Os contratos para jogos inúteis?
Tite precisa ter tamanho, na pior das hipóteses, para peitar a CBF e chamar apenas jogadores estrangeiros em momentos cruciais do calendário, como os deste segundo semestre. Faltam menos de quatro meses para o fim da temporada. Tite sabe o que isso significa, mas, aparentemente, o poder do cargo sobe à cabeça. Causa amnésia. Cauteriza a mente de quem assume a Seleção. Tira a sensibilidade de quem só chegou ali porque sofreu, sentiu na pele como os colegas de profissão, as consequências da bagunça do calendário do futebol brasileiro.
Tite deve chegar ao fim da Copa do Mundo 2022 com seis anos e meio de mandato na Seleção. Pior do que encerrar o ciclo sem brindar o país com o hexa será passar tanto tempo na salinha da CBF sem deixar legado extracampo para o futebol brasileiro. A racionalização do calendário é um deles. Mas Tite prefere agir como os antecessores. Cuida de seu minifúndio, se apequena. Isolado em seu mundinho, ignora o tamanho, o carisma, o caráter que tem em vez de ir um pouquinho além da prancheta, das quatro linhas, de convocar 23 e escalar 11 jogadores.
Você pode mais, Tite. Tem tamanho para isso. Ainda dá tempo.
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