Adenor Leonardo Bachi, o Tite, instalou discretamente o chip do Corinthians de 2015 no Flamengo. Há quem enxergue o time rubro-negro no sistema 4-3-3 ou 4-4-2. Vejo diferente. A goleada por 4 x 0 contra o Bolívar consolida uma tentativa — com êxito — de emular uma das configurações clássicas usadas pelo técnico há nove anos na conquista do Brasileirão.
O Corinthians encantou jogando no 4-1-4-1 e catapultou Tite a sucessor de Dunga na Seleção Brasileira em 2016. O Flamengo se adapta ao mesmo modelo. Na prática, Allan é o volante guardião da defesa formada por Varela, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Ayrton Lucas. Uma linha de quatro homens trabalha à frente dele: Gerson aberto na direita, Arrascaeta, De La Cruz e Everton Cebolinha na esquerda. Pedro é a referência no ataque.
Qualquer semelhança com o Corinthians de 2015 é mera coincidência. A defesa tinha Cássio, Edílson, Felipe, Gil e Guilherme Arana. Ralf protegia o quinteto. À frente dele, uma linha de quatro meias formada por Jadson, Elias, Renato Augusto e Malcom. Todos eles responsáveis por abastecer o centroavante Vágner Love.
O início do trabalho de Tite na Seleção Brasileira é semelhante. Alisson, Daniel Alves, Thiago Silva, Miranda e Marcelo na retaguarda. Casemiro fazendo o volante entre as duas linhas de quatro. Do meio para a frente, Philippe Coutinho ou Willian, Paulinho, Renato Augusto e Neymar. Gabriel Jesus era a referência no ataque canarinho nas Eliminatórias.
Jogadores com características diferentes, porém encaixados em um dos “templates” táticos de Tite. A qualidade ajuda. Gerson parece um ponta, mas não é. De La Cruz vem de trás como segundo volante, porém se transformar facilmente em meia por dentro ao lado de Arrascaeta. Ambos com muita perícia no passe. Everton Cebolinha, o driblador, aberto na esquerda. Pedro circulando no papel de centroavante. Volta e meia recuando para abrir espaço aos colegas da linha de meias. Allan se infiltrou em um lance e quase marcou.
Posição e função são coisas diferentes. Gerson é um articulador que faz a posição de atacante, mas é essencialmente um jogador de meio-campo. O Gerson é a terceira vez que dá sequência com Nico. Essa engrenagem vai se moldando. É a primeira vez com Arrasca, talvez não tenha tido com Pulgar. A equipe vai encontrando seus links e suas formas
Tite, técnico do Flamengo, na entrevista coletiva pós-jogo
Assim o Flamengo venceu o Corinthians no sábado, por 2 x 0. Lorran fazia o papel de Arrascaeta. Assim o Flamengo derrotou o Bolívar, no Maracanã. Foi a solução imediata para estancar a crise causada por uma vitória em seis jogos. Agora são dois triunfos consecutivos. Tite tem fartura no plantel rubro-negro e o principal: o salário das estrelas está em dia. O Corinthians daquele 4-1-4-1 de 2015 acumulava pagamentos atrasados e Tite administrava um vestiário descontente com a situação financeira do clube.
O sistema com pontas abertos precisa ser abolido? Não. Consta no repertório do Flamengo para situações diferentes. É importante diversificar. Insisto: Tite também precisa ter na manga um sistema com três zagueiros. Quem tem Fabrício Bruno, Léo Pereira, Léo Ortiz e David Luiz; além de alas e pontas como os ofensivos Wesley, Ayrton Lucas e Viña, não pode abrir mão dessa possibilidade. Um dos trabalhos autorais de Tite é aquele Grêmio campeão da Copa do Brasil em 2001 contra o Corinthians de Vanderlei Luxemburgo.
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