Ganso reproduz Cenas do bate-boca entre Ganso e Oswaldo de Oliveira no empate com o Santos Cenas do bate-boca entre Ganso e Oswaldo de Oliveira no empate com o Santos

Tirem as crianças da sala: tudo o que elas não deveriam ter visto na rodada insana do Brasileirão

Publicado em Esporte

Há quem ache que sim, só que não. Não, o futebol não é uma ilha, um mundo isolado. Em tempos de clamor por tolerância, respeito ao próximo… a 21ª rodada do Brasileirão 2019 foi campeã de maus exemplos. Daquelas de tirar as crianças da sala diante de tanta vergonha alheia.

Na quarta-feira, Paolo Guerrero, que conquistou fãs mirins no Corinthians, Flamengo e agora no Internacional fez tudo o que não se espera de um ídolo. Xingou a autoridade do jogo, o árbitro, em inglês, diz a súmula da partida. A caminho do vestiário, gesticulou com os órgãos genitais em resposta às provocações da torcida rubro-negra. Guerrero é referência (ou pelo menos deveria) em um país que curte momento histórico. Voltou à Copa do Mundo, foi vice da Copa América. É amado por seu povo, mas isso dá o direito de prestar esse desserviço.

Nesta quinta-feira, Paulo Henrique Ganso ensinou os pequeninos a desobedecer. Mais do que isso: a não respeitar os mais velhos, como ensinavam o meu e os seus pais. O jogador de 29 anos disse cobras e lagartos a um senhor de 68 anos. Com idade para ser pai dele.

Há nove anos, o “insubstituível” Ganso recusou-se a sair de campo quando Dorival Júnior o escolheu para ser substituído na final do Campeonato Paulista contra o Santo André, no Pacaembu. A atitude foi aplaudida por muitos. Interpretada como sinal de personalidade.  Na época, Ganso pelo menos jogava um pouquinho. Hoje, nem um tiquinho. Será que Renê Simões errou nas contas? Será que na verdade o futebol brasileiro criou dois monstros?

Oswaldo de Oliveira também ensinou o que não deve às crianças. Ok, ninguém tem sangue de barata, mas ele reagiu aos xingamentos de “você é burro, burro para c…” do camisa 10 —número dos sonhos da garotada — chamando Ganso de “vagabundo”. Não satisfeito, mostrou o dedo médio para a torcida, um gesto obsceno para quem protestava enquanto ele caminhava rumo ao vestiário.

A rodada insana também ensinou a puxar o tapete. Está claro que parte do elenco do Cruzeiro derrubou Rogério Ceni desde o dia em que pisou pela primeira vez na Toca da Raposa. Há quem diga que Daniel Alves fez o mesmo no São Paulo. Minou Cuca ao responder que não aceitava trocar de posição, ou seja, passar de meia à função de origem, lateral-direito.

Como disse no início deste post, há quem defenda que tudo isso é normal, faz parte do futebol. Seu filho, sua filha, estão vendo tudo isso. Inevitável. Eles e elas amam esse esporte. Mas, de vez em quando, é melhor tirar as crianças da sala, como dizia o saudoso Ricardo Boechat. Ou mantê-lo em frente à telinha ensinando que os atos insanos são maus exemplos. Sob o risco de amanhã o desrespeitado ser você, sua esposa, avós, professores…

O esporte não é — nem pode ser — considerado um mundo à parte, acima do bem e do mal. É mais que um jogo. Tem papel social, educativo. Ou pelo menos deveria.

Triste rodada do nosso Brasileirão.

 

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